Migrações de J. M. G. Le Clézio
DOI:
https://doi.org/10.5380/dma.v18i0.13431Resumo
INTRODUÇÃO A MIGRAÇÕES DE J.M.G. LE CLÉZIOJean Paul Deléage*** A ciência está longe de responder ao conjunto de questionamentos sobre os problemas da humanidadee do mundo. As interrogações artísticas, especialmente as literárias, têm frequentemente um alcancemais profundo, como testemunha a obra magistral de Jean-Marie Gustave Le Clézio, autor que acabade ganhar um prêmo Nobel de literatura. Lugares longínquos do mundo e mistérios da identidade e intimidadehumanas, críticas luminosas dos erros ecológicos e sociais de uma época imperdoável são osinvariantes dos escritos de Le Clézio. Quanto aos fracos e imbecis que não se opuseram a esses erros,eles merecem toda a extrema severidade do autor e de seus contemporâneos. “Escrever ao mundo”, essa é a intenção primeira de Le Clézio. “Nesse sentido, eu direi primeiramenteque não existe Le Clézio sem nós. Nascer no mundo e escrever ao mundo são entrelaçados à nossa leiturado mundo”, escreve Véronique Giorgiutti no belo texto que ela nos oferece a ler. Escrever ao mundopara dar conhecimento de seu compromisso com o homem, mais que com a terra que ele habita, porqueesta última finalmente resistirá, enquanto que numerosos serão os seres humanos massacrados peladesumanidade das ações das sociedades ocidentais, indiferentes à pobreza dos homens e à destruiçãoda natureza. Porque, como ele escreve em Raga: “No presente, o menor pedaço de terra no coração daselva amazônica, os canions gelados da Antártica foram examinados [...] pelo olho frio do satélite. Seresta um segredo, é no interior da alma que ele se encontra, no longo cortejo de desejos, lendas, máscarase cantos que se mistura no tempo e ressurge e corre sobre a pele dos povos...” Um crescendo em refrão de uma explosão de pânico conclui a última obra do autor, Ritournelle de lafaim. Não estamos hoje em uma situação análoga àquela dos ouvintes da première histórica do Bolerode Ravel, à qual presenciou a mãe do escritor e da qual falou Claude Lévi-Strauss, que estava na sala.Bolero é uma profecia e conta a história de uma cólera, de uma fome. Quando se encerra na violência,o silêncio que se segue é terrível para os sobreviventes estarrecidos, escreve ainda Jean Marie G. Le Clézio na derradeira página de seu último romance. *** Professor emérito da Université d’Orléans e diretor da revista Écologie&Politique.
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