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Reflexão e primado prático no subsolo da filosofia transcendental: Fichte leitor da terceira Crítica

João G M Cunha

Resumo


A herança kantiana no pensamento de Fichte é tão certa quanto obscura: se não há a menor sombra de dúvida quanto ao fato de que diversos aspectos conceituais da filosofia transcendental estão presentes em seus mais diversos textos; o modo pelo qual o autor da Doutrina-da-ciência se apropria deles é objeto das mais diversas interpretações. Dentre as três Críticas, a literatura costuma – com boas razões – acentuar o papel da primeira delas a partir do intenso debate em torno da “coisa-em-si”; por outro lado, também se reconhece o papel do “primado prático” oriundo da segunda – muito embora, nesse caso, quase como corolário do tema anterior (com, pelo menos uma honrosa exceção, M. Gueroult). No que se segue, defenderei uma hipótese na contracorrente destas duas vias, tentando mostrar que a Crítica do Juízo desempenha um papel absolutamenteestratégico nessa relação subversiva, particularmente, com a chave fornecida pela tópica da reflexão.

Palavras-chave


Kant; Fichte; faculdade de julgar; juízo reflexionante; primado prático

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/sk.v20i1.90914

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