CONFLITOS AGRÁRIOS E O CATOLICISMO LIBERACIONISTA: ROMARIA DA TERRA (PR, SC) E OS ARQUIVOS DO SNI

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/rt.v9i2.76476

Palavras-chave:

Catolicismo Liberacionista, SNI, Romaria da Terra, Reforma Agrária.

Resumo

Este artigo analisa e fomenta reflexões sobre dois momentos históricos e suas respectivas fontes acerca da não distribuição equitativa de terras no Brasil, a perpetuação da concentração agrária e sua relação com grupos sociais e religiosos que a questiona e produzem o conflito que é uma das características da agenda nacional brasileira. A relação com o catolicismo a partir dos grupos que possuem uma interface com a questão agrária é um eixo temático que conecta os dois períodos da história recente do Brasil, seja no período da ditadura militar (1964-1985) a partir da investigação nos arquivos abertos do Serviço Nacional de Informação (SNI) ou no século XXI considerando a pesquisa de campo em evento católico vinculado a Comissão Pastoral da Terra, organizado no interior do catolicismo liberacionista brasileiro na atualidade: a romaria da terra. Os simbolismos das romarias, além de sua especificidade de representar e relembrar os episódios de luta pela terra, marcam a sua luta por uma sociedade mais justa. O caráter contestatório que tais manifestações religiosas podem ter contra o latifúndio, e o papel desempenhado pela CPT para auxiliar na organização dos camponeses, fez com que fosse vigiada pelos órgãos de segurança durante a ditadura militar brasileira (1964 – 1985). A triangulação das informações e dados decorrentes da pesquisa documental e de campo, associam e identificam membros da Igreja Católica Apostólica Romana, como protagonistas e lideranças da Comissão Pastoral da Terra (CPT) dos estados do Paraná e Santa Catarina. Identificamos que os sujeitos religiosos produziram ações que foram vigiadas pela ditadura militar (1964/1985), bem como, permitiram na atualidade uma reelaboração da memória social, religiosa e política como estratégia de enfrentamento da concentração agrária brasileira.

Biografia do Autor

Luiz Ernesto Guimarães, Universidade do Estado de Minas Gerais

Possui doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista - Marília (2017). Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (2012); Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (2010). Professor vinculado ao departamento de Ciências Humanas da Universidade do Estado de Minas Gerais - Unidade Barbacena. Pesquisador vinculado ao grupo de pesquisa CNPq História, Sociedade e Religião e ao projeto de pesquisa Estudo sobre religiosidade e mídia religiosa, cadastrado na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Estadual de Londrina. Possui interesse em teoria social e antropológica; antropologia da política; sociologia da religião; religiões e religiosidades; religião e política; religiosidade popular; peregrinações e romarias. (Fonte:http://lattes.cnpq.br/3944054096878414. Acessado em 28/01/2021)

Fabio Lanza, Universidade Estadual de Londrina

Possui graduação em Ciências Sociais pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara Campus da UNESP (Bacharelado-1997 e Licenciatura-2001), mestrado em História pela Faculdade de História Direito e Serviço Social Campus da UNESP de Franca (2001) e doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC SP (2006). Atualmente é professor do ensino superior no Departamento de Ciências Sociais, da Graduação, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - Mestrado e da Especialização em Religiões e Religiosidades na Universidade Estadual de Londrina - PR (UEL), atuando principalmente nos seguintes temas: Sociologia das Religiões; Ditadura Militar e Religiões; Educação e Ensino Religioso; Extensão e Educação; Trabalho: cooperativismo e Economia Solidária. (Fonte: http://lattes.cnpq.br/6723085917601942. Acessado em 28/01/2021)

Antônio Mendes da Costa Braga, Universidade Estadual Paulista (Unesp - Marília).

É professor e pesquisador do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp, SP, Brasil. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, mestrado em Sociologia pela Universidade de São Paulo e doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Pós-doutorado pelo Center for Latin American Studies da University of Florida, UF, Estados Unidos. Atua nas áreas de Antropologia da Religião e Antropologia das Migrações. (Fonte: http://lattes.cnpq.br/1071541099208557. Acessado em 28/01/2021)

Luan Prado Piovani, Universidade Estadual de Londrina

Tem experiência na área de Ciências Sociais, com ênfase em Sociologia. Atua como pesquisador no Laboratório de Estudos sobre Religiões e Religiosidades (LERR) e no Grupo de Pesquisa (CNPq) Serviço Social e Saúde na Universidade Estadual de Londrina (UEL - PR). Estuda temáticas como: Religião e política; ditadura, memória social, imigração e políticas de saúde. Fez intercâmbio para a Universidade da Beira Interior (UBI), pelo programa Erasmus, onde tomou disciplinas do curso de Ciências Políticas e Relações Internacionais, a duração do programa foi de setembro de 2019 até fevereiro de 2020. Faz parte do corpo docente voluntário do cursinho Mãos Amigas, as regências voluntárias começaram no primeiro semestre de 2019 e seguem até o presente. Formado em inglês no curso do CCAA - Araraquara e segue sendo discente do curso de espanhol no Laboratório de Línguas da UEL. Ex-bolsista do Programa Institucional de Bolsas para a Iniciação à Docência (PIBID), atualmente recebe uma bolsa de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). (Fonte: http://lattes.cnpq.br/0803642253902701. Acessado em 28/01/2021)

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Publicado

2020-11-19

Como Citar

Guimarães, L. E., Lanza, F., Braga, A. M. da C., & Piovani, L. P. (2020). CONFLITOS AGRÁRIOS E O CATOLICISMO LIBERACIONISTA: ROMARIA DA TERRA (PR, SC) E OS ARQUIVOS DO SNI. Revista Relegens Thréskeia, 9(2), 284–307. https://doi.org/10.5380/rt.v9i2.76476

Edição

Seção

Artigos