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Diários de luto: um diálogo entre psicanálise e literatura em tempos de pandemia

Fabiano Chagas Rabêlo, Karla Patrícia Holanda Martins, Reginaldo Rodrigues Dias, Aline Gabriele Carvalho de Lima, Paulo Alves Parente Junior

Resumo


Diante do negacionismo do governo brasileiro, que levou ao aumento exponencial do número de mortos pela COVID-19, aborda-se o trabalho de luto como um elemento no contexto das catástrofes coletivas que favorece uma tomada de posição política coletiva e uma elaboração subjetiva das situações traumáticas. Destaca-se, em seguida, como o luto comparece na literatura como uma estratégia de subjetivação do que foi perdido, sobretudo por meio da escrita de diários. Com base nos elementos teóricos de Freud sobre o luto e de Ferenczi acerca da apropriação do traumático, analisam-se três livros-diários de autores que descrevem o trabalho de luto (Rolland Barthes, Boris Fausto e Neal Peart). Verifica-se nesses textos como o luto promove um rearranjo das memórias, enodando o individual e o coletivo, o exterior e o interior, convocando um testemunho. Ele também favorece uma estabilização pulsional e narcísica, possibilitando novos endereçamentos e a construção de um projeto de vida futuro. Ao final, como contraponto ao desrespeito do governo federal em relação ao luto dos que perderam familiares e amigos durante a pandemia, reforça-se o dever de reconhecer o luto, valorizá-lo e oferecer suporte para a sua realização como estratégia política de promoção da saúde mental.

Palavras-chave


Pandemia; luto; diário, psicanálise; literatura.

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/riep.v26i3.80088