‘As pessoas mentem’: superando obstáculos para incorporar a pesquisa em ciências sociais à conservação da biodiversidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/dma.v62i0.86905

Palavras-chave:

biodiversidade, ciências sociais, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, tomada de decisão

Resumo

Mesmo com o reconhecimento da importância da interdisciplinaridade na conservação da biodiversidade, ainda há resistência em incorporar a pesquisa em ciências sociais (PCS) ao pensamento e à prática conservacionista. As razões para tal resistência podem ser resumidas em três afirmações gerais ainda comumente atribuídas à PCS: 'tem pouca utilidade' e 'menos rigor metodológico' quando comparada à pesquisa em ciências naturais e, sobretudo, é pouco confiável porque 'as pessoas mentem'. Neste ensaio, desenvolvido a partir da experiência dos participantes de uma comunidade de prática, formada por profissionais de diversas áreas e setores relacionados à conservação, e das discussões geradas nesse espaço de aprendizado coletivo, abordamos as limitações e os equívocos por trás das afirmações acima. A PCS não é menos útil na conservação e nem tem menos rigor metodológico do que a pesquisa em ciências naturais, e quando as pessoas mentem para o pesquisador o problema não está na pesquisa em si, mas na relação entre sujeito e pesquisador. Argumentamos que à medida que os conservacionistas se familiarizam com a PCS e que os princípios de equidade e justiça são incorporados aos valores e objetivos da conservação, a importância e necessidade da PCS na conservação tornam-se óbvias, e a falta de confiança entre pesquisador e sujeitos deixa de ser uma preocupação significativa. Capacitar, integrar e apoiar são nossas recomendações básicas para pesquisadores, educadores, gestores e tomadores de decisão nas áreas de conservação, ensino, publicação e financiamento, para que a PCS cumpra plenamente seu papel na conservação.

Biografia do Autor

Silvio Marchini, University of Oxford, Oxford, Oxfordshire Instituto para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Instituto Pró-Carnívoros), Atibaia, SP

PhD em Conservação da Vida Silvestre pela WildCRU/University of Oxford (Reino Unido), Mestre em Ecologia, Evolução e Sistemática pela Universidade do Missouri-Saint Louis (Estados Unidos), e Bacharel em Biologia peloa Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.

Maria Augusta de Mendonça Guimarães, Universidade de São Paulo (USP), Piracicaba, SP

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada (Interunidades) na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz / Universidade de São Paulo. Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialização em Filosofia e Psicanálise pela UFPR.

Paloma Alcázar-García, University of Oxford, Oxford, Oxfordshire

Médica Veterinaria, Investigadora en Bornean Carnivore Programme

Wezddy del Toro Orozco, University of Georgia (UGA), Athens, GA Instituto de Desenvolvimento Sustentavel Mamiraua (IDSM), Tefé, AM

Doutoranda do Integrative Conservation PhD Program, University of Georgia, USA/Pesquisadora associada do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM)/Bolsista da Wildlife Conservation Society (WCS), trabalhando em uma abordagem integral das dimensões humanas do conflito e coexistência com felinos e ecologia do movimento das onças-pintadas. Desde 2013 é membro do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia, IDSM. Membro da Aliança para a Conservação da Onça-pintada. Mestre em Ciências do Mar e Limnologia - Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) (2010). Bióloga - Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo (UMSNH) (2008). Desde 2005, tem colaborado em diferentes projetos em mais de oito países. Tem experiência na área de Biologia Geral, Biologia Marinha, e Dimensões Humanas da Natureza, atuando principalmente nos seguintes temas: biologia, ecologia e conservação de mamíferos terrestres e aquáticos, sistemas de informação geográfica, modelagem de hábitat, e dimensões humanas dos conflitos e coexistência com felinos.

Bruna Lima Ferreira, Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP

Mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP). Bióloga (bacharel e licenciatura) formada pela FFCLRP - USP e divulgadora científica associada à iniciativa Ilha do Conhecimento. Membro do Laboratório de Etologia e Bioacústica (EBAC).

Jenny Anne Glikman, Instituto de Estudios Sociales Avanzados (IESA-CSIC), Córdoba, Córdoba

Jenny Anne Glikman es doctora en Geografía Humana e investigadora en el Instituto de Estudios Sociales Avanzados (IESA-CSIC). Antes de venir a España, trabajó seis años como Directora Asociada del Zoológico de San Diego en California, con el cual sigue colaborando en proyectos internacionales en América del Sur, África y en Sudeste asiático sobre conservación de la vida silvestre y el comercio ilegal ligado a la misma. En la actualidad es Co-Editora Principal de Human Dimensions of Wildlife Journal y Editora Principal de Conservation Science and Practice. Es miembro por invitación del grupo de expertos sobre “Human Bear Conflict Expert Teams” y del “Human-Wildlife Conflict Task Force” de la Unión Internacional parala Conservación de la Naturaleza.

Maria Carolina Las Casas e Novaes, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rio Claro, SP

Gestora Ambiental, Mestre em Biodiversidade de Ambientes Costeiros pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus Litoral Paulista e Doutoranda em Ecologia, Evolução e Biodiversidade pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus Rio Claro.

Joana Silva Macedo, Instituto de Ação Socioambiental (ASA), Cachoeiras de Macacu, RJ Refauna, Rio de Janeiro, RJ

Graduação em Ciências Biológicas, com bacharelado em Ecologia, pela UFRJ, mestrado em Ecologia pela UFRJ, doutorado em Meio Ambiente pela UERJ e pós-doutorado CAPES/PNPD vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Ambiente e Sociedade, UERJ/FFP. Atua em projeto de reintrodução de fauna na Mata Atlântica fluminense, coordenando o Projeto ANTologia, executado pelo Instituto ASA e Refauna.

Flavia de Campos Martins, Universidade de Pernambuco (UPE), Petrolina, PE

Bióloga pela UNESP, Bauru/SP, mestre em Ecologia e Recursos Naturais pela UFSCar e doutora em Ecologia pela UnB. Atua como professora adjunta da UPE e desenvolve pesquisas com Ecologia e Conservação de Aves e Dimensões Humanas nas relações com a fauna.

Miguel Coutinho Moretta Monteiro, Instituto de Desenvolvimento Sustentavel Mamiraua (IDSM), Tefé, AM

Pesquisador no Instituto Mamirauá, parte do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia (bolsista PCI/CNPq). Graduação em Ciências Biológicas pela PUC-Rio. Experiência em projetos de conservação de grandes mamíferos, especialmente com o uso de armadilhas fotográficas e investigando as dimensões humanas das relações entre felinos e comunidades tradicionais.

Roberta Montanheiro Paolino, Universidade de São Paulo (USP), Piracicaba, SP

Possui graduação em Ciências Biológicas Bacharelado (2010) e Licenciatura (2011) pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLPR) - USP. É mestre em Ciências Biológicas pela FFCLRP - USP (2015) e doutora em Ecologia Aplicada pela ESALQ - USP (2021). Fez parte do mestrado no Patuxent Wildlife Research Center (USGS-EUA) e parte do doutorado na Cornell University (EUA). Tem experiência nas áreas de Ecologia e Zoologia, com ênfase em Ecologia Aplicada e Biologia da Conservação. Trabalha atualmente com os seguintes temas: modelagem de uso de habitat e ocupação da paisagem, estimativas de parâmetros populacionais, ecologia de comunidades, mastofauna de médio e grande porte, felinos, avifauna, Cerrado, Mata Atlântica, agroecossistemas, legislação ambiental, bioindicadores, dimensões humanas, coexistência humano-fauna interdisciplinaridade e educação.

Joana Gomes Pereira, Centre for Ecology, Evolution and Environmental Changes & CHANGE - Global Change and Sustainability Institute, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa (ULisboa), Lisboa

Aluna de doutoramento, Mestre em Biologia da Conservação e licencidatura em Biologia

Ana Carolina Pont, Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Torres, RS

Biológa, mestre em manejo e conservação da vida silvestre. Ativista e educadora socioambiental. Membra do grupo de estudos em dimensões humanas da natureza e colaboradora do laboratório de ecologia de mamíferos da Unisinos.

Iara Ramos-Santos, Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, PA

Bióloga, pesquisadora de doutorado em Ecologia na UFPA e no Consócio de pesquisa Brasil-Noruega, Atuante em Coexistência humano-fauna na Amazônia Oriental

Raquel Costa da Silva, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Atibaia, São Paulo

Doutoranda em Ambiente e Sociedade pelo NEPAM/UNICAMP. Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduada em Ciências Biológicas – Licenciatura Plena pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) com graduação-sanduiche na Laurentian University (LU), Canadá. Atualmente é colaboradora interna do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), atuando na equipe técnica-científica do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP). Possui experiência em etnoecologia e coexistência humano-fauna, comunidades quilombolas, educação ambiental, levantamento e monitoramento de mastofauna e políticas públicas para conservação da biodiversidade.

Ana Carolina D. Oliveira, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Brasília, DF

Mestre em Recursos Naturais do Cerrado (Renac) (Conceito CAPES 4). Universidade Estadual de Goiás, UEG, Brasil. Especialista em Educação Ambiental, pelo Instituto de Estudos Socioambientais (IESA/UFG). Possui graduação em Tecnologia em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (2004). Atualmente é Analista Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Goiânia (CETAS).

Publicado

2023-12-21

Como Citar

Marchini, S., Guimarães, M. A. de M., Alcázar-García, P., del Toro Orozco, W., Ferreira, B. L., Glikman, J. A., … Oliveira, A. C. D. (2023). ‘As pessoas mentem’: superando obstáculos para incorporar a pesquisa em ciências sociais à conservação da biodiversidade. Desenvolvimento E Meio Ambiente, 62. https://doi.org/10.5380/dma.v62i0.86905

Edição

Seção

Ensaios