Entre o autoritarismo e o judiciarismo: o espectro do Poder Moderador na República (1889-1945)
DOI :
https://doi.org/10.5380/hd.v2i3.83606Mots-clés :
poder moderador, República, militarismo, judiciarismo, IHGB, STFRésumé
Resumo: O presente artigo investiga os diferentes sentidos atribuídos na República ao conceito de
“poder moderador”. Argumenta-se que, embora a crise do regime na década de 1910 tenha levado à
revalorização da herança do Império, transmitida pela historiografia do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB), cada qual se agarrou a uma interpretação diferente do Poder Moderador para
interpretá-lo e justificar reformas distintas: a autoritária, que fortaleceria o presidente; a judiciarista, que
favoreceria o STF; e a moderada, que recriaria um quarto poder na forma de um conselho de Estado. A
proposta por estabelecimento de um quarto poder pelo governo, articulada no processo constituinte de
1932-1934, fracassaria diante da preferência dos judiciaristas que defendiam a autoridade do Supremo
Tribunal, de um lado, e dos militaristas, que preferiam um Conselho de Segurança Nacional. A ditadura
do Estado Novo aparece como resultado da impossibilidade de compatibilizar as exigências
contraditórias de norma e exceção, liberalismo e nacionalismo, pluralidade e unidade, direitos
fundamentais e segurança nacional.
Références
Referências bibliográficas:
AANC – Anais da Assembleia Nacional Constituinte de 1933-1934.
ACD - Anais da Câmara dos Deputados.
ASF – Anais do Senado Federal.
ALMEIDA, José Américo de (1933). Prefácio. In: Gois Monteiro, A Revolução de 30 e a finalidade política do Exército (esboço histórico). Rio, Andersen Editores.
ALMEIDA, Tito Franco de (1944) [1867]. O conselheiro Francisco José Furtado: biografia e estudo de história política contemporânea. Rio de Janeiro, Companhia Editora Nacional.
AMARAL, Antônio José Azevedo do (1943). Realismo político e democracia. In: O pensamento político do presidente. Separata de artigos e editoriais dos primeiros 25 números da Revista « Cultura Política », comemorativa do 60o. Aniversário do presidente Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, Imprensa nacional.
AMADO, Gilberto (1963). Três livros: A chave de Salomão e outros escritos; Grão de areia e estudos brasileiros; A dança sobre o abismo. Rio de Janeiro, José Olímpio.
AMADO, Gilberto (1979). Discursos parlamentares. Brasília, Câmara dos Deputados.
ANDRADE, Almir de (1940). Força, cultura e liberdade: origens históricas e tendências atuais da evolução política do Brasil. Rio de Janeiro, José Olímpio.
ARRAES, Monte (1943). O Brasil e os regimes ocidentais. Rio de Janeiro, Tipografia do Patronato.
AZEVEDO, Aroldo de (1968). Arnolfo de Azevedo – parlamentar da Primeira República. São Paulo, Companhia Editora Nacional.
AZEVEDO, José Afonso de (1993) [1933]. Elaborando a Constituição Nacional. Edição fac-similar, Brasilia, Senado Federal.
BARBOSA, Bernardo (2020). Bolsonaro: Forças Armadas não aceitam tomada de poder por julgamentos políticos. São Paulo, CNN Brasil. In: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/forcas-armadas-nao-aceitam-tomada-de-poder-por-outro-poder-diz-bolsonaro/
BARBOSA, Rui (1960). Escritos e Discursos Seletos. Rio de Janeiro, Nova Aguilar.
BARBOSA, Rui (1967). Excursão Eleitoral. Obras completas de Rui Barbosa, volume XXXVII. 1910. tomo I. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura.
BARBOSA, Rui (1973). Discursos Parlamentares. Obras completas de Rui Barbosa, volume XLI. 1914. tomo I. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura.
BARBOSA, Rui (1975). O Art. 6º. da Constituição e a Intervenção de 1920 na Bahia. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura.
BASTOS, Aureliano Cândido Tavares (1997). A província: estudo sobre a descentralização no Brasil. Brasília, Senado Federal.
BLACHÈR, Philippe (2001). Contrôle de constitutionnalité et volonté générale. Préface de Domenique Rousseau. Paris, PUF.
BORGES, Rebeca (2021). ‘Brasil não tem poder moderador’, diz Carmen [Lúcia] sobre Forças Armadas’. São Paulo, Metrópoles. In: https://www.metropoles.com/brasil/brasil-nao-tem-poder-moderador-diz-carmen-sobre-forcas-armadas.
BRASIL. Presidente (1978). Mensagens presidenciais, 1890-1910. Brasília: Câmara dos Deputados.
BRASIL (1917). Documentos parlamentares: estado de sítio. Acontecimentos de março. 1914. Rio de Janeiro: Tipografia do Jornal do Comércio, 1917. vol. 7.
CALÓGERAS, Pandiá (1936). Estudos históricos e políticos (res nostrae). São Paulo, Companhia Editora Nacional.
CARNEIRO, Levi (1936). Pela nova Constituição. Rio de Janeiro, A. Coelho Branco.
CARVALHO, José Murilo de (2019). Forças armadas e política no Brasil. São Paulo, Todavia.
CASTRO, Augusto Olímpio Viveiros de (1914). Estudos de Direito Público. Rio de Janeiro, Jacinto Ribeiro dos Santos.
CAVALCANTI, Amaro (1983) [1900]. Regime Federativo e República Brasileira. Brasília, UnB.
CELSO, Afonso Celso de Assis e Figueiredo, Conde de Afonso (1929). Oito anos de parlamento & Poder pessoal de D. Pedro II – reminiscências e notas. Nova edição aumentada. São Paulo, Melhoramentos.
CHACON, Vamireh (1981). História dos partidos brasileiros : discurso e praxis dos seus programas. Brasília, UnB.
CONSTANT de Rebecque, Benjamin (1997). Écrits politiques. Textes choisis, présentés et annotés par Marcel Gauchet. Paris, Gallimard.
CONTINENTINO, Marcelo Casseb (2015). História do Controle da Constitucionalidade das Leis no Brasil: percursos do pensamento constitucional no Século XIX (1824-1891). São Paulo, Almedina.
COOLEY, Thomas M. (1898) [1880]. The general principles of constitutional law in the United States of America. Boston, Little, Brown and Company.
COSTA, Vívian Chieregati (2020). Suspensão de direitos em um Estado monárquico constitucional representativo: Parlamento, práticas políticas e contestações à ordem no Brasil oitocentista. Tese (Doutorado em História Social) - Programa de Pós-Graduação em História Social FFLCH/ USP.
FORJAZ, Maria Cecilia Spina (1988). Tenentismo e forças armadas na Revolução de 30. Rio de Janeiro, Forense.
FRANCO, Afonso Arinos de Melo (1955). Um estadista da república – Afrânio de Melo Franco e seu tempo. Rio de Janeiro, José Olimpio.
FREEDEN, Michael (1996). Ideologies and political theory: a conceptual approach. Oxford, Clarendon Press.
GAUCHET, Marcel (1995). La révolution des pouvoirs. La souveraineté, le peuple et la représentation. Paris, Gallimard.
GULLINO, Daniel & DANTAS, Diminuir (2021). Bolsonaro diz que Forças Armadas são 'poder moderador' e que lhe dão 'apoio total'. Rio de Janeiro, O GLOBO, edição de 12 de agosto de 2021. In: https://oglobo.globo.com/politica/bolsonaro-diz-que-forcas-armadas-sao-poder-moderador-que-lhe-dao-apoio-total-1-25152878
IGREJA E APOSTOLADO POSITIVISTA DO BRASIL (1913). O Império Brasileiro e a República Brasileira perante a Regeneração Social. Rio de Janeiro.
KELSEN, Hans (2003). Jurisdição constitucional. Traduções de Alexandre Krug, Eduardo Brandão e Maria Ermantina Galvão. São Paulo, Martins Fontes.
KOSELLECK, Reinhart (2006). Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio, Contraponto.
KOSELLECK, Reinhart (2014). Estratos do tempo: estudos sobre história. Rio, Contraponto.
KOSELLECK, Reinhart (2020). Histórias de conceitos: estudos sobre a semântica e a pragmática da linguagem política e social. Rio, Contraponto.
LEAL, Aurelino (2012) [1915]. História Constitucional do Brasil. Brasília, Senado Federal.
LEAL, Aurelino (1984) [1924] O Parlamentarismo e o Presidencialismo no Brasil. Revista de Ciência Política. Rio de Janeiro, 27(2): 116-31, maio/ago. 1984
LEITE, Francisco Glicério Cerqueira (1981). Relações entre o Executivo e o Judiciário na Constituição de 1891. In: Witter, José Sebastião (org.), Ideias políticas de Francisco Glicério. Rio de Janeiro, Fundação Casa de Rui Barbosa.
LESSA, Pedro (1915). Do Poder Judiciário. Rio de Janeiro, Francisco Alves.
LESSA, Pedro (1925). Reforma constitucional. Rio de Janeiro, Editora Brasileira Lux.
LESSA, Renato (2016). A invenção republicana: as bases e a decadência da cultura política. 3ª. Edição. Rio de Janeiro, Topbooks.
LOEWENSTEIN, Karl (1942). Brazil under Vargas. New York, The Macmillan Company.
LYNCH, Christian Edward Cyril (2005). A idéia de um Conselho de Estado Brasileiro. Uma abordagem histórico-constitucional. Brasília, Revista de informação legislativa, v. 42, n. 168, p. 45-63, out./dez. 2005
LYNCH, Christian Edward Cyril (2014). Da monarquia à oligarquia: história institucional é pensamento político brasileiro. São Paulo, Alameda.
LYNCH, Christian Edward Cyril (2018). Necessidade, contingência e contrafactualidade: a queda do Império revistada. Topoi (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 19, n. 38, p. 190-216, mai./ago. 2018.
LYNCH, Christian Edward Cyril (2021). Nada de novo sob o Sol: teoria e prática do neoliberalismo brasileiro. Rio de Janeiro: Insight inteligência, 91: 17-34.
MALATIAN, Teresa (2001). Oliveira Lima e a Construção da Nacionalidade. Bauru, EDUSC.
MALATIAN, Teresa (2010). Dom Luís de Orléans e Bragança: peregrino de impérios. São Paulo, Alameda.
MANGABEIRA, João (1980). Ideias Políticas de João Mangabeira. 2ª. Edição. Rio de Janeiro, Fundação Casa de Rui Barbosa.
MARCONDES FILHO, Alexandre (1941). Vocações da unidade (conferências e discursos). Rio de Janeiro, José Olímpio.
MARQUES, Raphael Peixoto de Paula (2013). Estado de exceção e mudança (in)constitucional no Brasil (1935-1937). Historia Constitucional, n. 14, 2013, págs. 353-386.
MARTINS, Ives Gandra (2020). Cabe às Forças Armadas moderar os conflitos entre os Poderes. CONJUR - Consultor Jurídico. In: https://www.conjur.com.br/2020-mai-28/ives-gandra-artigo-142-constituicao-brasileira.
MEDEIROS, Antônio Augusto Borges de (2002). O poder moderador na República Presidencial. Caxias do Sul, EDUCS.
MENDONÇA, Carlos Sussekind (1960). Salvador de Mendonça: democrata do Império e da República. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro
NABUCO, Joaquim (1949a). Balmaceda. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.
NABUCO, Joaquim (1949b). Cartas aos amigos. Volume 2. São Paulo, Progresso Editorial.
NABUCO, Joaquim (1997). Um estadista do Império. Rio de Janeiro, Top books.
NABUCO de Araújo, José Tomás (1979). O centro liberal. Senado Federal, Brasília.
OLIVEIRA, Cândido de (1986). A justiça sob a República. In: A década republicana. Brasilia, UnB.
OTONI, Teófilo Benedito (1979). Discursos parlamentares. Brasília, Senado Federal.
PONTES, Felipe (2020). Toffoli diz que Forças Armadas não podem ser poder moderador. Brasília, Agência Brasil. In: https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2020-06/toffoli-diz-que-forcas-armadas-nao-podem-ser-poder-moderador
SALES, Manuel Ferraz de Campos (1908). Da propaganda à presidência. São Paulo.
SÃO VICENTE; José Antônio de Pimenta Bueno, Marquês de (2002). Marquês de São Vicente. Organização e introdução de Eduardo Kugelmas. São Paulo, Editora 34.
SATO, Leonardo Seiichi Sasada (2018). Um poder da moderação? Política e História no Supremo Tribunal Federal da Primeira República. Tese de doutorado em Ciência Política. Rio de Janeiro, IESP-UERJ.
SCHMITT, Carl (1998). La defensa de la constitución. Prólogo de Pedro de Vega. Tradução de manuel Sanchez Sarto. Segunda edición. Madrid, Editorial Tecnos.
SOUSA, José Antônio Soares de (1944). A vida do visconde do Uruguai. São Paulo, Companhia Editora Nacional.
TÁVORA, Juarez (1927). À guisa de depoimento sobre a revolução brasileira de 1924. 1º. Volume. São Paulo, “O combate”.
TÁVORA, Juarez (1974). Uma vida e muitas lutas. Memórias. 1º. Volume. Da planície à borda do altiplano. Rio de Janeiro, José Olympio.
TORRES, Alberto (1914). A organização nacional. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional.
TORRES, João Camilo de Oliveira Torres (2017) [1968]. Interpretação da realidade brasileira: introdução à história das ideias políticas no Brasil. Brasília, Câmara dos Deputados.
URUGUAI; Paulino José Soares de Sousa, visconde do (1960). Ensaio sobre direito administrativo. 2ª. Edição. Rio de Janeiro, Ministério da Justiça.
VASCONCELOS, Zacarias de Góis e (1878). Da Natureza e dos Limites do Poder Moderador. 3ª. Edição. Introdução de Pedro Calmon. Senado Federal, 1978.
VIANNA, Francisco José de Oliveira (1915). Projeto Alberto Torres. In: O País, edição de terça feira, 13 de abril de 1915.
VIANNA, Francisco José de Oliveira (1947) [1930]. Problemas de política objetiva. 2ª. Edição. São Paulo, Companhia Editora Nacional.
VIANNA, Francisco José de Oliveira (2005) [1920]. Populações Meridionais do Brasil. Brasília, Senado Federal.
VIANNA, Francisco José de Oliveira (1938). O idealismo da Constituição. 2ª. Edição. São Paulo, Companhia Editora Nacional.
Téléchargements
Publiée
Comment citer
Numéro
Rubrique
Licence
Os autores mantêm os direitos autorais dos artigos publicados nesta revista. Autores têm autorização para publicar seus trabalhos em repositórios institucionais de acesso aberto com reconhecimento da publicação inicial na revista.
A História do Direito: revista do Instituto Brasileiro de História do Direito utiliza a licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), que permite compartilhar e adaptar os trabalhos desde que atribuído o crédito apropriado.