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Mulheres na agricultura familiar: uma análise no estado do Pará

Helder Epifane Rodrigues, Mayra Hermínia Simões Hamad Farias do Couto, Rosa de Nazaré Paes da Silva, Marcos Ferreira Brabo, Marcos Antônio Souza dos Santos

Resumo


O artigo caracteriza o perfil da mulher na agricultura familiar paraense, com base em dados do Censo Agropecuário de 2017. As análises apresentam as características gerais, produtivas e tecnológicas dos estabelecimentos agropecuários familiares gerenciados por agricultoras, assim como aspectos relacionados ao associativismo, acesso à assistência técnica e crédito rural. No estado do Pará, 57.473 estabelecimentos agropecuários são gerenciados por mulheres, o que representa 20% do total. A maior parcela delas (53%) possui mais de 45 anos de idade. O nível de escolaridade é baixo e se dedicam, principalmente, ao cultivo de lavouras temporárias, quintais agroflorestais e a criação de pequenos animais, visando a segurança alimentar do grupo familiar e a comercialização de excedentes. Os resultados indicam a necessidade de maior equidade de gênero, pois a “invisibilidade” da mulher e o baixo acesso às políticas públicas, ainda é traço marcante no meio rural. Destacam-se os baixos percentuais de acesso dessas mulheres aos serviços de assistência técnica e extensão rural e aos financiamentos via crédito rural, instrumentos fundamentais para a inovação e sustentabilidade dos sistemas de produção. Conclui-se que as lacunas de gênero continuam a se configurar como um dos principais óbices ao desenvolvimento rural sustentável.

Palavras-chave


Desenvolvimento rural; equidade de gênero; mulheres rurais; Amazônia

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/guaju.v7i2.80645

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