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A comunidade caiçara da Enseada da Baleia e a sua luta pelo território - Cananéia (SP)

Juliana Greco Yamaoka, Tatiana Mendonça Cardoso, Valdir Frigo Denardin, Alan Ripoll Alves

Resumo


Os povos e as comunidades tradicionais têm profunda relação com seu território no que tange à manutenção de sua organização social, política e cultural. Muitas são as ameaças que se impõem a eles, as quais vão das diversas formas hegemônicas de desenvolvimento aos desafios vivenciados a partir de questões ambientais. No caso dos caiçaras presentes na Mata Atlântica, não é diferente. Para tanto, buscou-se o estudo de caso da comunidade caiçara da Enseada da Baleia, que resistiu para permanecer na Ilha do Cardoso, em Cananéia-SP, mesmo após um processo erosivo que inviabilizou sua presença no local. Este trabalho teve como objetivo apresentar o papel das mulheres no processo de resistência para a permanência no Parque Estadual da Ilha do Cardoso. Para isso, foram realizados grupos focais e entrevistas semiestruturadas com as famílias da Enseada e parte de seus parceiros, além de pesquisas em fontes bibliográficas e documentais. Como resultado constatou-se que as principais vias de resistência que proporcionaram a permanência na Ilha do Cardoso ocorreram a partir do Grupo de Mulheres Artesãs da Enseada da Baleia (MAE), que influenciou a organização de algumas atividades socioprodutivas e a sua continuidade no local. Casos como estes, que poderiam se tornar invisibilizados pela sua dimensão e proposta, podem ser apresentados como alternativas para a compreensão de um pluriverso, conceito que defende um mundo onde coexistam várias formas de mundo, simultaneamente.


Palavras-chave


Economia Solidária; organização feminina; territorialidade; povos e comunidades tradicionais

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/guaju.v5i1.66211

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