A disputa ideológica entre Isócrates e Platão: consequências para a Filosofia e a Retórica
DOI:
https://doi.org/10.5380/dp.v21i2.94698Keywords:
Isócrates, Platão, pragmatismo, idealismo, discurso político, dialéticaAbstract
No contexto da restauração da democracia ateniense no séc. IV AEC, Isócrates e Platão instituíram duas das mais proeminentes escolas filosóficas da Antiguidade e certamente as duas mais importantes do Período Clássico. Em alguma medida influenciados pela moralidade socrática voltada para o debate das virtudes, ambos são radicais opositores dos sofistas de seu tempo e do século anterior, que promoviam, segundo eles, uma educação erística ora imoral ora lisonjeadora. Com o objetivo de oferecer novas alternativas pedagógicas para a formação política dos jovens, tanto Isócrates como Platão propõem, sob a alcunha de philosophia, modelos de paideia orientados para o bem comum, a justiça e a idoneidade. Há, no entanto, uma fundamental disputa ideológica em torno de cada uma dessas filosofias. A fim de se opor à retórica sofística, o idealismo da filosofia platônica, como sabemos, vale-se do método dialético para que o verdadeiro conhecimento (episteme) das virtudes morais seja alcançado, promovendo assim a justiça e o bem comum da pólis. O pragmatismo isocrático, ao contrário, delineia a filosofia como uma paideia dos discursos cívicos, em que somente as boas opiniões (doxai) seriam capazes de melhor orientar a cidade com razoabilidade para as ações a serem tomadas, em detrimento de uma episteme platônica que nada serviria para a política. Discutiremos, portanto, esses e outros aspectos dessa disputa ideológica entre Isócrates e Platão, buscando verificar como ocorre essa querela ao longo dos textos a eles atribuídos, além de apontar em que medida a relação entre suas doutrinas filosóficas foram determinantes para os contornos da Filosofia e da Retórica na posteridade.