Intuição e Exercícios Espirituais
DOI:
https://doi.org/10.5380/dp.v14i2.54616Resumo
O que fazemos quando interpretamos uma Filosofia? Vários comentadores rivalizam metodologicamente acerca da maneira mais apropriada que se deve ler um texto filosófico. Nas entrelinhas desse desacordo parece residir ao menos um consenso fundamental: a adequada ou inadequada compreensão de uma doutrina filosófica consiste exclusiva ou principalmente na exegese de seu discurso. Conserva-se assim uma certa imagem da atividade filosófica, a saber, que um filósofo é sobretudo ou tão somente aquele que elabora sofisticados argumentos ou sistemas de pensamento. Mas as doutrinas filosóficas seriam apenas ou essencialmente um discurso teórico? Pela historiografia filosófica de Pierre Hadot, pretendo defender que a atividade filosófica não se reduz à composição de discursos teóricos, mas acima de tudo a uma "maneira de viver". Esse sentido primordial da Filosofia, conquanto obstruído pelos nossos atuais pré-conceitos hermenêuticos, ainda persistiria nas filosofias modernas. Se esse é o caso, a abordagem exegética de Hadot, a qual foi cultivada quase que exclusivamente quanto aos antigos, poderia também ser oportuna para os modernos – mais do que isso, quem sabe seria indispensável para eles. Uma dessas doutrinas modernas para a qual o estilo de leitura proposto por Hadot seria mais do que oportuno é a de Henri Bergson, para quem “a Filosofia não é uma construção de sistemas, mas a resolução, uma vez tomada, de olhar ingenuamente para si e ao redor”. Por outro lado, como tentarei mostrar aqui, a concepção de Filosofia de Bergson influenciou diretamente a historiografia filosófica que, posteriormente, conduziu Hadot a uma agora consagrada releitura da Filosofia antiga. Minha proposta enfim é que assim como a concepção de Filosofia de Hadot fora influenciada decisivamente por Bergson, a maneira de se comentar a filosofia bergsoniana pode ser agora reorientada pela historiografia filosófica de Hadot. Tal discussão nos remete menos ao que é atualmente o comentário de um texto de Filosofia, mas ao que ele pode contribuir na busca pela “sabedoria".
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