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Como seria ver como um ser humano?

Etienne Bimbenet

Resumo


Perguntaremos aqui "como seria ver como um ser humano". Tal questão é difícil, pois recuando um passo em relação à percepção e considerando que ela pode não ser o  que  é, essa  questão  vai  de  encontro  àquilo  que  é  comumente considerado  como  a "atitude natural". Merleau-Ponty articulou esta relativização da visão humana e seu realismo espontâneo  de  duas  maneiras  diferentes.  Em  primeiro lugar,  há  o  que  poderia  ser chamado a "via da finitude". Ela consiste em assumir o ponto de vista de parte alguma para a percepção, o ponto de vista de um espírito sem ligações mundanas. Poder-se-ia dizer então, como Merleau-Ponty não pára de dizer, que perceber não é ver de parte alguma, eque sempre percebemos a partir de algum lugar, em um corpo finito, e não do ponto de vista de deus. Nossa origem animal, contudo, oferece uma segunda maneira completamente diferente de frustar o dogmatismo da fé perceptiva. Essa é a via adotada por Merleau-Ponty em A estrutura do comportamento, onde muito naturalmente ele é levado a interrogar o que distingue a percepção animal da percepção humana. Sua resposta é valiosa: ver como um ser humano significa ser capaz de "multiplicidade perspectiva". Apreender tal conceito e encarar a visão humana como plural e como excesso, apenas é possível para quem abandonou o ponto de vista de parte alguma e decidiu filosofar começando pelo animal.

 


Palavras-chave


Percepção; Origem animal; Ser humano; Atitude natural; Multiplicidade

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/dp.v9i1.29100