Quando o tempo cura as feridas do próprio tempo
DOI:
https://doi.org/10.5380/dp.v1i1.1923Palavras-chave:
Sartre. Tempo. Metafísica. Política.Resumo
Parte de um percurso em que tratamos de expor a estrutura filosófica LÊtre et lê Néant (EN), o presente estudo procura mostrar que essa obra é o ponto fundamental de transição onde se dá, no pensamento sartriano, a metamorfose de uma teoria do tempo como destino trágico numa teoria do tempo como salvação. Completa-se, aqui, o processo de radicalização de Heidegger efetivado por Sartre: do pessimismo próprio do Dasein, que caminha impotente e solitário para a morte, passamos ao otimismo resultante da descoberta de uma temporalidade que cura. Na tentativa de compreender o sentido e a função dessa nova figura da temporalidade, desmontamos o mecanismo do curto-circuito especulativo que inverte, em EN, o sinal do Tempo do Mundo heideggeriano. Tal desmontagem levou-nos a surpreender o fio filosófico do livro entrelaçado numa trama históricoliterária. Ao examinar os termos desse reencontro da elaboração filosófica com a matéria viva da história, circunscrevendo uma zona (recuada) em que estruturas díspares se interpenetram, terminamos por identificar o conteúdo de experiência cifrado no movimento especulativo dos conceitos desse que é considerado o mais abstrato (e técnico) tratado de Metafísica dos Tempos Modernos. Pretendendo apenas descrever (no sentido da fenomenologia alemã) as estruturas universais da realidade humana (intemporais por definição), Sartre dá com o cerne de uma conjuntura histórica precisa: não a matéria bruta, é claro, mas sua reconstrução política e literária, talhada nos moldes da Resistência e transposta para a forma filosófica de EN.
Sartre. Tempo. Metafísica. Política.
When Time heals the Wounds of Time itself
Abstract
Part of a trajectory in which we expose the philosophical structure of L´Être et le Néant (EN), this study aims at demonstrating that this work is the fundamental transition point where, in Sartre´s thought, a theory of time as a tragic destiny metamorphoses itself into a theory of time as salvation. Here, Sartres project of radicalizing Heidegger is completed: from Daseins peculiar pessimism, which proceeds in a lonely and impotent way towards death, we move to the optimism resulting from the discovery of a temporality that cures. In the attempt to understand the meaning and the function of this new figure of temporality, we dismantle the speculative short circuit mechanism that inverts, in EN, the sign of Heideggers Time of the World. This dismantling leads to our discovery of the philosophical red thread of the book entwined in a historical literary plot. When we examine the terms of this reencounter of philosophical creation with the living matter of history, establishing a zone (set back) in which different structures merge, we end up identifying the contents of experience which appear in the conceptual speculative movement of that work which is considered as the most abstract (and technical) treatise of Metaphysics of Modern Times. Intending only to describe (in the sense of German phenomenology) the universal structures of human reality (intemporal by definition), Sartre encounters the core of a precise historical conjunction not the raw material, of course, but its political and literary reconstruction, shaped in the patterns of the Resistance and transposed to the philosophical form of EN.
Sartre. Time. Metaphysics. Politics.
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