Os inventários de bens e as suas potencialidades – um estudo exploratório

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/clio.v14i2.96944

Palavras-chave:

inventários orfanológicos, inventários pos mortem, juiz dos órfãos, bens vinculados

Resumo

A realização de um inventário de bens decorria, grosso modo, da situação de falecimento de um dos cônjuges do casal quando este tinha filhos menores, ou seja, com idades inferiores a 25 anos e nos casos de segundas núpcias. Apesar da obrigatoriedade nesses casos da inventariação do património familiar, nem sempre esta acontecia. Por vezes, não era do interesse do recém-viúvo(a) dividir os seus bens, tentando ao máximo evitar as disposições legais instituídas desde o tempo de Pombal. Os vizinhos ou familiares próximos intervinham com frequência nestes processos de forma a evitar o extravio e delapidação dos bens da família que poria em causa o sustento do menor. Desejavelmente, a supervisão dos bens que cabiam ao menor até à sua maioridade devia ser assumida pelo juiz dos órfãos. Isto acontecia com as famílias que tinham posses de maior envergadura. As camadas baixas da sociedade estavam, na sua maioria, isentas da realização de inventários, por via dos autos de pobreza, uma vez que o seu património não o justificava. Conclui-se que os inventários de bens eram realizados, essencialmente, pelas camadas intermédias e altas do Portugal oitocentista.
Procura-se sistematizar com este trabalho a historiografia portuguesa e internacional dedicada ao assunto e os temas que nela são abordados, por um lado, e dar a conhecer a estrutura de um inventário orfanológico e as abordagens possíveis de estudo, por outro.

Biografia do Autor

Tiago Gonçalves, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Licenciado em História pela Universidade do Minho, pós-graduado em História do Império Português pela Universidade Nova de Lisboa, Tiago Gonçalves é atualmente mestrando em História Moderna na Universidade de Coimbra

 

Referências

BREWER, John; PORTER, Roy. Consumption and the World of Goods. Londres: Routledge, 1993.

BAULANT, Micheline. Typologie des inventaires aprés décés. In: WOUDE, Van der; SCHUURMAN, Anton (ed.), Probate Inventories. Wageningen: A.A.G. Bijdragen, 1980.

BAULANT, Micheline. Enquête sur les inventaires aprés décés autour de Meaux aux XVIIe et XVIIIe siècles. In: WOUDE, Van der; SCHUURMAN, Anton (ed.), Probate Inventories. Wageningen: A.A.G. Bijdragen, 1980.

BRAGA, Isabel Drummond. Inquisição e cultura material : os inventários de bens como fontes para o estudo do quotidiano, Lusíada-História, s. 2, n.º7, 2010, p. 289-322.

BRANDÃO, Maria de Fátima. O mercado na comunidade rural: propriedade, herança e família no Norte de Portugal, 1800-1900, Análise Social, vol. XXVI, n.112-113, 1991, p. 613-628.

BUSH, M.L. Social Orders and Social Classes in Europe since 1500: Studies in Social Stratification. Londres; Nova Iorque: Longman, 1992.

COLLOMP, Alain. Familias. Viviendas y cohabitaciones. In: ARIÈS, Philippe; DUBY, Georges (dir.), Historia de la vida privada, vol. 3 (Del Renacimiento a la Ilustración). Barcelona: Penguin Random House Grupo Editorial, 1991, p. 461-498.

CORNETTE, J. Le Paris des inventaires aprés décés, XVIIe-XVIII siècles, Revue D´Histoire Moderne e Contemporaine, nº36, 1989.

DURÃES, Andreia. Casas de cidade: processo de privatização e consumos de luxo entre as camadas "médias" urbanas (Lisboa na segunda metade do século XVIII e inícios do século XIX). Tese de Doutoramento. Braga: Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, 2017.

DURÃES, Andreia. The empire within: Consumption in Lisbon in eighteenth century and first half of the nineteenth century, Histoire & Mesure, vol. XXVII, 2012, p. 170-175.

MADUREIRA, Nuno Luís. Inventários: Aspetos do consumo e da vida material em Lisboa nos finais do Antigo Regime. Tese de Mestrado. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 1989.

MADUREIRA, Nuno Luís. Lisboa: Luxo e Distinção, 1750-1830. Lisboa: Editorial Fragmentos, 1990.

MCCANTS, Anne E. C. Exotic Goods, Popular Consumption, and the Standard of Living: Thinking about Globalization in the Early Modern World. Journal of World History, vol. 18, nº 4, 2007, p. 433-462.

MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Elites locais e mobilidade social em Portugal nos finais do Antigo Regime, Análise Social, vol. XXXII, n.141, 1997, p. 335-368.

OGILVIE, Sheilagh. The European economy in the eighteenth century. In BLANNING, T. C. W. (ed.), El siglo XVIII. Europa 1688-1815. Barcelona: Crítica, 2002, p. 91-130.

PECK, Linda Levy. Consuming Splendor. Society and Culture in Seventeenth Century England. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.

PEDREIRA, Jorge. Os homens de negócio da praça de Lisboa de Pombal ao vintismo (1755-1822). Tese de doutoramento. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1995.

ROCHA, Maria Manuela. Propriedade e Níveis de Riqueza: Formas de Estruturação Social em Monsaraz na Primeira Metade do Século XIX. Lisboa: Edições Cosmos, 1994.

ROCHE, Daniel. História das Coisas Banais: Nascimento do Consumo nas Sociedades Tradicionais (Séculos XVII-XIX). Lisboa: Editorial Teorema, 1998.

VILAÇA, Olanda. Podemos conhecer os patrimónios móveis através dos inventários orfanológicos? Os casos de Guimarães e Barcelos (séculos XVIII-XIX). In: SÁ, Isabel dos Guimarães; FERNÁNDEZ, Máximo Garcia (dir.), Portas Adentro: comer, vestir a habitar na Península Ibérica (ss. XVI-XIX). Coimbra; Valladolid: Universidade de Coimbra; Universidade de Valladolid, 2010, p. 237-250.

VRIES, Jan. The Industrious Revolution Consumer Behaviour and the Household Economy, 1650 to present. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.

VRIES, Jan de, e WOUDE, Ad van der. The first modern economy. Success, failure, and perseverance of the Dutch Economy, 1500-1815. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.

WEATHERILL Lorna. Consumer Behaviour and Material Culture in Britain. 1660-1760. Londres: Routledge, 1988.

WEATHERILL, Lorna. The meaning of consumer Behaviour in late Seventeenth and early eighteenth-century England. In: BREWER, John; PORTER, Roy (ed.), Consumption and the World of Goods. Londres: Routledge, 1993, p. 206-227.

Downloads

Publicado

17-07-2025

Como Citar

Gonçalves, T. (2025). Os inventários de bens e as suas potencialidades – um estudo exploratório. Revista Cadernos De Clio, 14(2). https://doi.org/10.5380/clio.v14i2.96944

Edição

Seção

Nota de Pesquisa