"Mar histórico" e o problema dos "grandes homens" para Tolstói: sobre a ideia de história em Guerra e Paz
DOI:
https://doi.org/10.5380/clio.v13i1.86713Palavras-chave:
Guerra e Paz, filosofias da história, romance, função autor, regime moderno de historicidadeResumo
O presente artigo tem por objetivo refletir a polêmica do escritor russo Liev Tolstói contra a História dos grandes líderes, ou contra a ideia de “gênio” através da pluralidade de posições, as quais por vezes contraditórias entre si, sobre o funcionamento da história em Guerra e Paz, argumentando que, em decorrência da variedade de técnicas narrativas e de suas próprias ideias sobre a História, o autor não nega a liberdade de ação frente a determinação das ações humanas por fatores “infinitesimais”. Para tanto, recorre-se às categorias de “porco-espinho” e “raposa” propostas por Isaiah Berlin e à ideia de função-autor colocada por Michel Foucault, de modo que assim se entende a “pluralidade de Eus” em Guerra e Paz sem pressupor uma unidade entre autor e obra, sendo assim possível pensar em que medida o texto em questão é uma filosofia da história e como a crítica aos “grandes homens” é central na sua compreensão.
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