Open Journal Systems

Aspectos da Hidrodinâmica do Sistema Estuarino Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim, sudeste do Brasil

Rafael Carvalho Neves, Valéria da Silva Quaresma, Amine Selim de Salles Gonçalves Melado, Fernanda Paula Silva e Nascimento, Rodolfo Teixeira Alves, Alex Cardoso Bastos

Resumo


Essa pesquisa visa caracterizar e interpretar a hidrodinâmica nos dois braços e proximidade da desembocadura do Sistema Estuarino Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim, localizado no município de Aracruz, Estado do Espírito Santo. Apesar da sua importância ecológica regional, este sistema estuarino possui histórico de impactos causados por atividades humanas, como pesca, lançamento de esgoto e efluentes de atividades agrícolas e industriais. Dados hidrodinâmicos obtidos com ADCPs e dados físicos da coluna d’água obtidos com CTDs foram coletados simultaneamente ao longo dos ciclos de maré sizígia e quadratura, durante as campanhas chuvosa e seca do ano de 2010, no braço norte e sul, bem como na proximidade da desembocadura. A intensidade das correntes no braço sul foi superior em todas as campanhas amostrais, quando comparadas ao braço norte. Entretanto, a assimetria de maré foi verificada nos dois braços. No braço norte, a mistura vertical foi condicionada pela velocidade das correntes, com tendência de estratificação nos 2 m superficiais durante as quadraturas e mistura da coluna d’água nas sizígias. O braço sul não apresentou estratificação evidente em nenhuma campanha amostral. Próximo à desembocadura ocorreram as maiores salinidades durante o período seco, quando comparadas ao período chuvoso. A coluna d’água apresentou pouca mistura nas campanhas da quadratura e predomínio de mistura durante as sizígias, com correntes de até 1,75 m/s na maré vazante. Os padrões de fluxo residual predominante nas proximidades da desembocadura estão de acordo com a circulação gravitacional clássica com indicação de transporte sedimentar em direção ao oceano nas camadas superficiais e em direção ao interior do estuário nas camadas mais profunda. Também foi observada uma grande influência da batimetria no fluxo residual encontrado na proximidade da desembocadura com a formação de vórtices entre o canal e a margem.


Palavras-chave


dinâmica estuarina; estratificação da coluna d’água; fluxo residual

Texto completo:

PDF

Referências


AMARANTE, O. A. C.; SILVA, F. J. L.; ANDRADE, P. E. P. Atlas Eólico: Espírito Santo. Vitória, 1999.

ARACRUZ. Lei n° 3.739, de 07 de novembro de 2013. Altera a categoria de Unidade de Conservação Reserva Ecológica dos Manguezais Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim para Reserva de Desenvolvimento Sustentável Municipal Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim, no Município de Aracruz, Aracruz, Câmara Municipal, , 2013.

ARRIVABENE, H. P. et al. Functional traits of selected mangrove species in Brazil as biological indicators of different environmental conditions. Science of the Total Environment, v. 476–477, p. 496–504, 2014.

AUBREY, D. G.; SPEER, P. E. A study of non-linear tidal propagation in shallow inlet/estuarine systems Part II: Theory. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 21, n. 2, p. 207–224, 1985.

BALSELLS, M. F. P. et al. Wind-driven hydrodynamics in the shallow, micro-tidal estuary at the fangar bay (Ebro delta, nw mediterranean sea). Applied Sciences (Switzerland), v. 10, n. 19, p. 1–20, 2020.

BIANCHI, T. S. Biogeochemistry of Estuaries. Oxford: Oxford University Press, 2007.

CHENG, P. Decomposition of residual circulation in estuaries. Journal of Atmospheric and Oceanic Technology, v. 31, n. 3, p. 698–713, 2014.

CHENG, P.; VALLE-LEVINSON, A. Spatial variations of flow structure over estuarine hollows. Continental Shelf Research, v. 29, n. 7, p. 927–937, 2009.

COSER, L. M.; PEREIRA, B. B.; JOYEUX, J. Descrição da comunidade ictioplanctônica e sua distribuição espacial no estuário dos rios Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim, Aracruz, ES, Brasil. Interciencia: Revista de ciencia y tecnología de América, v. 32, n. January 2007, p. 233–241, 2007.

DA SILVA, A. E.; DA SILVA QUARESMA, V.; BASTOS, A. C. Sedimentological Sectorization of An Estuarine System In A Regressive Coast, Southeast Brazil. Journal of Sedimentary Research, v. 83, n. 11, p. 994–1003, 2013.

DALRYMPLE, R. W.; ZAITLIN, B. A.; BOYD, R. Estuarine facies models : conceptual basis and stratigraphic implications. Journal of Sedimentary Petrology, v. 62, n. 6, p. 1130–1146, 1992.

DHN, Diretoria de Hidrografia e Navegação - Marinha do Brasil. Tábua de Maré - Terminal de Barra do Riacho (Estado do Espírito Santo) - 2021. Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: .

DOMINGUEZ, J. M. L. The Coastal Zone of Brazil. In: DILLENBURG, S.; HESP, P. A. (Eds.). . Geology and geomorphology of Holocene coastal barriers of Brazil. Heidelberg: Springer, 1999. p. 17–51.

DRONKERS, J. Tidal asymmetry and estuarine morphology. Netherlands Journal of Sea Research, v. 20, n. 2–3, p. 117–131, 1986.

DYER, K. R. Sediment Transport Processes in Coastal Environments. In: PERILLO, G. M. E. (Ed.). . Geomorphology and Sedimentology of Estuaries. Elsevier ed. [s.l: s.n.]. v. 53p. 423–449.

DYER, K. R. Estuaries: A Physical Introduction. 2. ed. Chichester: John Wiley & Sons, 1997.

FRIEDRICHS, C. T.; AUBREY, D. G. Non-linear tidal distortion in shallow well-mixed estuaries: a synthesis. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 27, n. 5, p. 521–545, 1988.

FRIEDRICHS, C. T.; MADSEN, O. S. Nonlinear diffusion of the tidal signal in frictionally dominated embayments. Journal of Geophysical Research, v. 97, n. C4, p. 5637, 1992.

GEYER, W. R. Influence of wind on dynamics and flushing of shallow estuaries. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 44, n. 6, p. 713–722, 1997.

GODIN, G. Frictional effects in river tides. In: PARKER, B. B. (Ed.). . Tidal hydrodynamics. New York: John Wiley & Sons, 1991. p. 379–401.

GOMES, F. V. A Gestão da Zona Costeira Portuguesa. Revista de Gestão Costeira Integrada, v. 7, n. 2, p. 83–95, 2007.

HANSEN, D. V.; RATTRAY JR., M. Gravitational circulation in straits and estuaries. Journal of Marine Research, v. 23, n. 1, p. 102–122, 1966.

KASHIWAIT, M. Tidics - Control of tidal residual circulation and tidal exchange in a channel-basin system. J. Oceanogr. Soc. Japan, v. 41, p. 1–10, 1985.

KAYANO, M. T. et al. El Niño e La Niña dos últimos 30 anos : diferentes tipos. Revista Climanalise, n. Edição Comemorativa de 30 anos do Climanálise, p. 7–12, 2016.

KJERFVE, B. Hydrodynamics of Estuaries. Boca Raton: CRC Press, 1988.

LERCZAK, J. A.; GEYER, W. R. Modeling the lateral circulation in straight, stratified estuaries. Journal of Physical Oceanography, v. 34, n. 6, p. 1410–1428, 2004.

LI, C.; O’DONNELL, J. Tidally driven residual circulation in shallow estuaries with lateral depth variation. Journal of Geophysical Research C: Oceans, v. 102, n. C13, p. 27915–27929, 1997.

MAZDA, Y.; KAMIYAMA, K. Tidal deformation and inundation characteristics within mangrove swamps. Mangrove Science, v. 45, n. March, p. 21–29, 2007.

MAZDA, Y.; WOLANSKI, E.; RIDD, P. The Role of Physical Processes in Mangrove Environments: manual for the preservation and utilization of mangrove ecosystems. Terrapub: Tokyo, Japan, 2007.

MENDONÇA, F.; OLIVEIRA, I. M. D. Climatologia: noções básicas e clima do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007.

MIRANDA, L. B.; CASTRO, B. M.; KJERFVE, B. Princípios de oceanografia física de estuários. São Paulo: EDUSP, 2002.

MIRANDA, L. B. DE; CASTRO FILHO, B. M. DE;; KJERFVE, B. Princípios de oceanografia física de estuários. São Paulo: Edusp, 2002.

NICHOLS, M. M.; BIGGS, R. B. Estuaries. In: DAVIES, R. A. (Ed.). . Coastal sedimentary environments. Nova Iorque: Springer-Varlag, 1985. p. 77–186.

PARKER, B. B. The relative importance of the various nonlinear mechanisms in a wide range of tidal interactions (Review). In: PARKER, B. B. (Ed.). . Tidal hydrodynamics. New York: John Wiley & Sons, 1991. p. 237–268.

PRICE, D.; TOWNEND, I. H. Hydrodynamic, sediment process and morphological modelling. In: COLLINS, M.; ANSELL, K. (Eds.). . Solent Science — A Review. [s.l.] Elsevier Science B.V., 2000. p. 55–70.

QUARESMA, V. DA S.; BASTOS, A. C.; AMOS, C. L. Sedimentary processes over an intertidal flat: A field investigation at Hythe flats, Southampton Water (UK). Marine Geology, v. 241, n. 1–4, p. 117–136, 2007.

SILVA, A. E. et al. Interpretation of sedimentary processes using Echo-Character Distribution: Case study of Piraquê-AÇU and Piraquê-Mirim estuarine system, Aracruz-ES (Brazil). Revista Brasileira de Geofisica, v. 32, n. 2, p. 1–2, 2014.

WATERHOUSE, A. F.; VALLE-LEVINSON, A. Transverse structure of subtidal flow in a weakly stratified subtropical tidal inlet. Continental Shelf Research, v. 30, n. 3–4, p. 281–292, 2010.

WONG, K.-C. On the nature of transverse variability in a coastal plain estuary. Journal of Geophysical Research, v. 99, n. C7, p. 14209, 1994.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/abequa.v12i2.74022