Open Journal Systems

A DOMINAÇÃO COLONIAL E O SABIR CULTURAL

Pierre Bourdieu, Abdelmalek Sayad

Resumo


A política francesa de “reassentamento” dos camponeses argelinos, planejada para minar o apoio popular à guerra de libertação nacional (1954-1962), levou ao deslocamento de um quarto da população nativa da Argélia em 1960. Disciplinando o espaço e reorganizando rigidamente a vida dos fellahin, os militares franceses esperavam domesticar um povo, mas isso apenas completou o que a primeira política colonial e a generalização das trocas monetárias já começara: a “descamponeização” de comunidades agrárias despojadas dos meios sociais e culturais para dar sentido ao seu presente e para controlar o seu futuro. Assim, a guerra cumpriu a intenção latente da política colonial, que é desintegrar a ordem social local com o objetivo de subordiná-la, seja sob a bandeira da segregação, seja sob a bandeira da assimilação. Mas a dominação imperial também produz um novo tipo de sujeito que contém em si as contradições nascidas do choque de civilizações: os padrões de comportamento e de ethos econômico importados pela colonização coexistem dentro do camponês argelino expulso de sua terra com aqueles que foram herdados da tradição ancestral, originando condutas, expectativas e aspirações antinômicas. Esta dupla dimensão da realidade, objetiva e subjetiva, ameaçava minar os esforços para socializar a agricultura depois da independência, enquanto que a lógica da descolonização induzia a pequena-burguesia letrada dos burocratas a negar magicamente as contradições da realidade como fantasmas vergonhosos de um passado colonial morto.

Palavras-chave


colonialismo, guerra, campesinato, desenraizamento, imperialismo francês, cultura cabila, Argélia; colonialism; war; peasantry; uprooting; French imperialism; Kabyle culture; Algeria; colonialisme; guerre; paysannat; déracinement; impérialisme français

Texto completo:

PDF