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REFLEXÕES E INTERPRETAÇÕES SOBRE A PARTICIPAÇÃO E A REPRESENTAÇÃO EM CONSELHOS GESTORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Marcelo Eliseu Sipioni, Marta Zorzal e Silva

Resumo


O presente ensaio debruça-se sobre a literatura recente acerca do tema da representação em conselhos gestores de
políticas públicas. Várias são as análises feitas por diversos autores sobre a temática, porém, há necessidade de
reflexão sobre a confluência que muitas destas ideias apresentam, de forma a contribuir para um consenso mínimo
(obviamente não definitivo) sobre as possibilidades e os limites do exercício democrático em conselhos gestores,
necessidade que este artigo objetiva responder, ao menos em parte. Para desenvolvermos esta análise, revisamos a
literatura com vista a buscarmos autores de diversas áreas do conhecimento que de alguma forma tratam em seus
trabalhos do tema da teoria democrática e da participação e representação, buscando observar contrapontos e
convergências em suas ideias para posteriormente lançarmos questões minimamente consensuais sobre o tema. Os
autores analisados deixam claro que os discursos que permeiam as questões relativas à participação e à representação
têm como pano de fundo teorias democráticas distintas que durante quase todo o século passado conflitam em
busca de hegemonia: democracia representativa e democracia participativa. Sendo assim, os ideais que alicerçam
os conceitos aqui estudados são expressos de maneiras diferentes, de acordo com a teoria que a embasa. O fato é que
participação e representação podem ser exercidos tanto em uma democracia representativa quanto em uma
democracia participativa. Contudo, apresentam sentidos e práticas diferentes. Os conselhos gestores de políticas
públicas são, por excelência, um local criado para o exercício da democracia participativa. Porém, ali é exercida
participação indireta, via representação. Este conceito, por sua vez, é fortemente arraigado aos ideais da democracia
representativa, levando à necessidade de se estabelecer diferenças entre representar (na democracia representativa)
e representar (na democracia participativa), de forma que conselheiros representantes da sociedade civil nos
conselhos gestores não repitam os equívocos da prática representativa parlamentar, sob o risco de conduzir a
representação nestas instâncias participativas a um distanciamento que prejudicaria o exercício da democracia
participativa em nosso país. Parece-nos evidente a importância de se estabelecer uma relação entre representantes
e representados que os aproxime. Desta forma, temas como a prestação de contas e a própria forma de escolha do
representante por sua entidade parecem exercer um protagonismo interessante para legitimar a representação e
torná-la diferente da representação parlamentar. Apesar dos entraves observados para a efetivação de uma verdadeira
democracia participativa, os conselhos gestores alimentam uma cultura política em transformação no Brasil, a
cultura da participação, capaz de ocupar o lugar de nossa histórica cultura de submissão do povo ao poder das
elites.


Palavras-chave


participação social; representação; conselhos gestores

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