Sujeição e dominação: políticas de desejo no capitalismo
DOI:
https://doi.org/10.5380/petfilo.v22i1.84291Resumo
Há uma questão que paira na história das sociedades e que tem reverberado nos escritos de diversos autores. O problema que se coloca é por que indivíduos se submetem a determinadas situações, por que se sujeitam. O problema da sujeição chamou a atenção de La Boétie quando indagou por que “tantos homens suportam às vezes um tirano só”. Essa problemática repercutiu em Marx, Engels e Althusser que pensaram a sujeição pela ideologia (um “poder estranho”). A noção pós-marxista ampliou o conceito designando a ideologia como “parte integrante do imaginário social”. Essas correntes, contudo, atribuem à ideologia uma primazia de compreensão da sujeição, fato criticado por Freud e Reich. Assim como estes (que pensaram a problemática da dominação pela ótica da psicologia das massas), Deleuze e Guattari analisaram o problema da dominação pelo socius e pelo inconsciente, indicando uma via individual e outra social (interesse x desejo). Assim sendo, neste texto analisar-se-á como o capitalismo utiliza-se de políticas de desejo para produzir um inconsciente-colonial. Ampliar-se-á a análise da sujeição à psicanálise para fornecer uma resposta ao problema por uma outra via, a do desejo.
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