A imagem não pressuposta do encontro: ensaio sobre filosofia e poesia no Antropoceno

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/petfilo.v19i1.78632

Resumo

A partir dos problemas colocados ao pensamento na contemporaneidade pelas discussões acerca do Antropoceno, o ensaio propõe uma investigação sobre a possibilidade de uma nova relação da filosofia com a poesia. Para isso, a sugestão do líder indígena e pensador Ailton Krenak de manutenção de “nossas visões, nossas poéticas sobre a existência” é articulada com a filosofia da diferença de Gilles Deleuze, cujos esforços para realizar a gênese de um pensamento sem imagem pressuposta, e a sua concepção de uma natureza poética da diferença, são mobilizados na tentativa de pensar e efetuar uma relação outra da filosofia com a poesia. O texto propõe o conceito de cosmopoética para definir a condição de efetuação dessa relação, e procura exemplificar sua manifestação nas obras de Antonin Artaud e de Roberto Piva, nas quais, de maneiras distintas, e em gérmen, são constatados rastros expressivos da natureza poética e selvagem da diferença. Por fim, conjectura-se que a cosmopoética pode ser pensada no campo de uma estética do devir e, quiçá, articulada a enunciações e ações cosmopolíticas coletivas de pensadores e pensadoras que se ocupam em pensar e resistir à catástrofe socioambiental em curso.


Palavras-Chave: Antropoceno; Filosofia da Diferença; Poesia; Cosmopoética.

Referências

ADORNO, T. W. Crítica cultural e sociedade. In: ______. Prismas. Trad. Augustin Wernet e Jorge Mattos Brito de Almeida. São Paulo: Ática, 1998.

AGAMBEN, G. Estâncias. A palavra e o fantasma na cultura ocidental. Trad. Selvino José Assmann. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012.

ARTAUD, A. Escritos de Antonin Artaud. Tradução, seleção e notas Cláudio Willer. Porto Alegre: L&PM, 1983.

________. Eu, Antonin Artaud. Trad. Aníbal Fernandes. Lisboa: Hiena Editora. 1988.

________. Van Gogh: o suicidado pela sociedade. 2 ed. Rio de Janeiro: Achiamé, sd.

A.W.G. “Anthropocene Working Group”. Media note, 2016.

BENJAMIN, W. “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”. In: Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. v. l. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.

CARONE, M. “Paul Celan: A Linguagem destruída”. FSP: São Paulo, 19 Ago. 1973. Disponível em: < http://almanaque.folha.uol.com.br/carone2.htm >. Acesso em: 19 dez. 2020.

CAVALIERI, C. “Via Láctea - Uma Especulação Cosmopoética” [2019]. Vimeo. Disponível em: < https://vimeo.com/370704714 > Acesso em: 29 Mai. 2021.

CHAKRABARTY, D. “O clima da história: quatro teses”. Sopro: Panfleto político-cultural, n. 91, pp. 4-22, 2013.

CRUTZEN, P. J; STOERMER, E. F. “O antropoceno”. Piseagrama, Belo Horizonte, sem número, Nov. 2015. Disponível em: <https://piseagrama.org/o-antropoceno>. Acesso em: 28 Mai. 2021.

DANOWSKI, D. Negacionismos. Coleção Pandemia. São Paulo: Editora n-1, 2018.

________. & VIVEIROS DE CASTRO, E. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2014.

DERRIDA, J. O animal que logo sou (a seguir). Trad. Fábio Landa. São Paulo: Edunesp, 2002.

DESPRET, V. “O que os animais diriam se ....”. Caderno de Leituras, n. 45, 2016.

DELEUZE, G. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2005.

________. Cine I. Bergson y las imagenes. Buenos Aires, Cactus, 2009.

________. Conversações (1972-1990). Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 2008.

________. Crítica e Clínica. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 1997.

________. Diferença e Repetição. Trad. Luiz Orlandi e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 2006.

________. Francis Bacon: Lógica da Sensação. Trad. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

________. Foucault. Trad. Claudia Sant’Anna. São Paulo: Brasiliense, 2013.

________. “O atual e o virtual”. In: Éric Alliez. Deleuze Filosofia Virtual. Trad. Heloísa B.S. Rocha). São Paulo: Editora 34, 1996.

________. “P de Professor”. In: O Abecedário de Gilles Deleuze (com Claire Parnet). Transcrição. Paris, 1994.

________. “Praias de imanência”. FSP. Dez. 1995. Disponível em: « https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/12/03/mais!/23.html ». Acesso em: 29 Mai. 2021.

________. Proust e os signos. 2.ed. Trad. Antonio Piquet e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003

________. GUATTARI, F. O que é a filosofia. Trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2010.

________. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia 2, volume 3. Trad. Aurélio Guerra Neto, Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Cláudia Leão e Suely Rolnik. São Paulo: Ed. 34, 2008.

ESPINOSA, B. Ética. Trad. Grupo de Estudos Espinosanos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.

GEVORKYAN, S.; SEGOVIA, C, A. “Três paradigmas cosmopolíticos: eco-tecnológico, perspectivista y meta-poético”. DasQuestões, v.8, n.2, pp. 30-35, 2021.

GLISSANT, E. Introdução a uma poética da diversidade. Trad. Enilce do Carmo Albergaria Rocha. Juiz de Fora: UFJF, 2005.

HARAWAY, D. “Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno: fazendo parentes”. ClimaCom, 3(5), 2016.

HEIDEGGER, M. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo e Manuel Antonio de Castro. São Paulo, Edições 70, 2010.

________. “A questão da técnica”. Trad. Marco Aurélio Werle. Revista Scientiae Studia, São Paulo, 5(3), pp.375-398, 2007.

HÖLDERLIN, F. Poemas. Trad. Paulo Quintela. Coimbra: Atlântida, 1959.

________. “Pão e Vinho”. Trad. Paulo Quintela. In: Obras completas, Vol. II. Lisboa, Calouste Gulbenkian, 1997.

HUI, Y. “On the Unhappy Consciousness of Neoreactionaries”. E-flux Journal, n. 81, Abr. 2017. Disponível em: « https://www.e-flux.com/journal/81/125815/on-the-unhappy-consciousness-of-neoreactionaries/». Acesso em 17 Mai. 2021.

KANT, I Ideia de uma história universal com um propósito cosmopolita. Trad. A. Morão. 1784.

KOLBERT, E. A sexta extinção: uma história não natural. Trad. Mauro Pinheiro. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.

KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A Queda do Céu. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KRELL, D. F. Daimon life Heidegger and life-philosophy. Bloomington;Indianapolis: Indiana University Press, 1992

KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

________. “Por que nao conseguimos olhar para o futuro?” Entrevista com Fernando Meirelles. Trip [site], 22 Mai. 2021. Disponível em: « https://revistatrip.uol.com.br/trip-transformadores/ailton-krenak-por-que-nao-conseguimos-olhar-para-o-futuro » Acesso em: 26 Mai. 2021.

LAND, N.“Circuitries (1992)”. In: MacKay, Robin & Brassier, Ray eds. Fanged Norumena: Collected Writings of Nick Land 1987-2007. Urbanomic, 2011.

________. “Meltdown” (1994). In: MacKay, R. & Brassier, R. (eds). Fanged Noumena: Collected Writings of Nick Land 1987-2007. Urbanomic, 2012.

________. “Hyperstition: An Introduction. Delphi Carstens Interviews Nick Land”. Orphan Drift [Site], 2009.

LATOUR, B. “Esperando Gaia”. Piseagrama. Belo Horizonte, seção Extra!, 20 fev. 2021

________. Onde aterrar? Como se orientar politicamente no antropoceno. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

MARQUES, L. “A terceira edição de ‘Capitalismo e colapso Ambiental’. O que mudou nos últimos 3 anos?”. Jornal da Unicamp (Site). Mar., 2019. Disponível em: « https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/artigos/luiz-marques/terceira-edicao-de-capitalismo-e-colapso-ambiental-o-que-mudou-nos-ultimos/». Acesso em 25 jun. de 2020.

MARX, K. “O Capital. Crítica da Economia Política. Livro I”. Os Economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

MBEMBE, A. “Necropolítica”. Revista Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n. 32, pp. 123-151, dez., 2016.

MOORE, J. W. “El auge de la ecología-mundo capitalista (I): las fronteras mercantiles em el auge y decadencia de la apropiación máxima”. Revista Laberinto, n. 38, pp. 9-26, 2013.

MORTON, T. Hyperobjects: Philosophy and Ecology After the End of the World. Minneapolis and London: University of Minnesota Press, 2013.

NIETZSCHE, F. Schopenhauer como educador: considerações extemporâneas III. Trad. Clademir Luis Araldi. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2020.

NOGUEIRA, L. “Artaud e a reinvenção do teatro europeu”. Revista de Cultura, Fortaleza, n. 52, 2006.

NOYS, B. Malign Velocities. Accelerationism & Capitalism. Zero Books, 2014.

NUNES, B. “Heidegger e a poesia”. Natureza Humana [online], v. 2, n. 1, pp. 103-127, 2000.

ORLANDI, L. B. L. “O filósofo e seus ovos”. Artefilosofia, Ouro Preto, n.9, p. 126-140, out. 2010.

PIVA, R “Manifesto utópico-ecológico em defesa da poesia & do delírio” [1983]. In: ______. Mala na mão & asas pretas – obras reunidas, volume II. Organização de Alcir Pécora. São Paulo: Globo, 2006.

______. “Relatório para ninguém fingir que esqueceu”. In: Estranhos sinais de Saturno - obras reunidas, volume III. Organização de Alcir Pécora. São Paulo: Globo, 2008.

______. “Roberto Piva: Os artistas são os xamãs da sociedade contemporânea”. Cult, 4 Ago. 2000. Disponível em < https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-roberto-piva/ > Acesso em: 21 dez. 2020.

PLATÃO. A República. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2000.

PRADO Jr., B. Erro, Ilusão, Loucura: ensaios. São Paulo: Ed. 34, 2004.

SAFATLE, V. Bem vindo ao estado suicidário. São Paulo: Editora n-1, 2020. Disponível em: <https://www.n-1edicoes.org/textos/23>. Acesso em: 31 Mai. 2021.

SCHÉRER, R. “Un mysticisme athée”. In: Deleuze Épars. André Bernold & Richard Pinhas (Orgs). Paris: Hermann Éditeurs, 2005.

SCHUHL, P-M. Platão e a arte de seu tempo. São Paulo: Discurso Editorial, 2010.

SIMONDON, G. “A amplificação nos processos de informação”. Trad.: Pedro P. Ferreira; Evandro Smarieri. Trans/Form/Ação, 43(1), pp. 283-300, 2020 [1962].

______. A individuação à luz das noções de forma e de informação. Trad. Luís Eduardo Ponciano Aragon e Guilherme Ivo. São Paulo: Ed. 34, 2020.

STENGERS, I. “The Cosmopolitical Proposal”. In: B. Latour & P. Weibel. Making Things Public: Atmospheres of Democracy. Cambridge: The MIT Press, pp. 994-1003, 2005.

______. No tempo das catástrofes – resistir à barbárie que se aproxima. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro São Paulo: Cosac Naify, 2015.

VALENTIM, M. A. Extramundanidade e Sobrenatureza. Ensaios de ontologia infundamental. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2018.

______. M. A. “Cosmologia e política no Antropoceno”. Ethic@, Florianópolis, v. 19, n. 2, pp. 300-317, 2020.

VALÉRY, P. O cemitério marinho. Trad. Jorge Wanderley. 2ª ed.. São Paulo: Max Limonad, 1984.

VIVEIROS DE CASTRO, E. “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. Mana, v. 2, n.2, pp.115-144, 1996.

______. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

ZOURABICHVILI, F. O vocabulário de Deleuze. Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.

WAHL, J. Les philosophies pluralistes d’Angleterre et d’Amérique. Alcan, 1920.

WILLER, C. “Os Taraumaras: Introdução”. In: ARTAUD, A. Escritos de Antonin Artaud. Porto Alegre: L&PM, 1983.

Downloads

Publicado

2021-09-10

Como Citar

da Silva Junior, J. G. (2021). A imagem não pressuposta do encontro: ensaio sobre filosofia e poesia no Antropoceno. Cadernos PET-Filosofia, 19(1). https://doi.org/10.5380/petfilo.v19i1.78632