Zumbis: a ficção do Antropoceno

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/petfilo.v19i1.78365

Resumo

Este trabalho busca relacionar a imagem do zumbi como Antropocênica. Para isto, é abordado o conceito de Antropoceno, definido como o período atual no qual processos e condições geológicas são impactados por atividades humanas. Também, insere-se a figura do zumbi, uma espécie de morto-vivo que retorna à vida por alguma causa sobrenatural ou científica. Por fim, traz-se o conceito de débito de extinção, que acontece quando um habitat natural é modificado ao ponto de não mais comportar a manutenção da vida das espécies que ali viviam. Interpretar o zumbi como uma figura simbólica antropocênica é possível por ser uma criatura cujas origens se dão no processo colonial e revolucionário do Haiti. O estudo do zumbi é uma ferramenta para o entendimento do imperialismo e do colonialismo, dois dos sintomas do período que é caracterizado pela alteração geológica antropogênica. Os filmes de zumbi contemporâneos representam o Antropoceno, pois, de maneira geral, as causas de contaminação são antropogênicas, além de serem obras que criticam o consumo e o capitalismo estadunidenses. São, ainda, filmes sobre exploração econômica que abordam os norte-americanos se tornando zumbis, consumindo tudo sem pausa, “canibalizando” os produtos. Conclui-se que o Antropoceno é o período dos zumbis: os seres humanos que alteraram e degradaram o próprio habitat, se autocondenando à morte - à zumbificação. Ao mesmo tempo que o zumbi pode ser uma imagem de diagnóstico e de oferecimento de ferramentas, é também uma imagem de reconhecimento. O zumbi cinematográfico, como coletividade e como a negação do individualismo, serve de instrumento para superar o Antropoceno.

Palavras–Chave: Antropoceno; Zumbi; Ficção Científica; Colonialismo.

Biografia do Autor

Stefany Sohn Stettler, Universidade Federal do Paraná

Graduanda em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná.

Referências

REFERÊNCIAS - BIBLIOGRAFIA

BISHOP, Kyle. The Sub-Subaltern Monster: Imperialist Hegemony and the Cinematic Voodoo Zombie. IN: The Journal of American Culture, Vol. 31, No. 2, p. 141-152. 2008.

_____. Raising the Dead: Unearthing the Non-Literary Origins of Zombie Cinema. IN: Journal of Popular Film and Television 33.4, p. 196–205. 2006.

CESAIRE, Aimé. Discourse on Colonialism. United States: Monthly Review Press, 2000.

COHEN, Jeffrey Jerome. Undead: A Zombie Oriented Ontology. IN: Journal of the Fantastic in the Arts, Vol. 23, No. 3. 2012.

COLEMAN, Robin R. Means. Horror Noire: a representação negra no cinema de horror. Trad. de Jim Anotsu. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2019.

COMAROFF, Jean & COMAROFF, John. Of Revelation and Revolution, Volume 2. Estados Unidos: The University of Chicago Press. 1997.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.

FAUSTO, Juliana. A cosmopolítica dos animais [Tese de doutorado]. Rio de Janeiro, Departamento de Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2017.

FERRER, Ada. Introduction. IN: Freedom’s Mirror: Cuba and Haiti in the Age of Revolution. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 1–16.

HARAWAY, Donna. O Manifesto Ciborgue. IN: HARAWAY, D.; KUNZURU, T. Antropologia do ciborgue: As vertigens do pós-humano. 2a. Edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

HEGEL, Georg W. Friedrich. A Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1992.

LAURO, Sarah J., EMBRY, Karen. A Zombie Manifesto: The Nonhuman Condition in the Era of Advanced Capitalism. Boundary 2. p. 85–108. 2008.

LEWIS, Simon & MASLIN, Mark. The Human Planet: How we created the Anthropocene. Estados Unidos: Pelican Books, 2018.

LUCKHURST, Roger. Zombies: A Cultural History. Reino Unido: Reaktion Books, 2016.

MARQUES, Luiz. Capitalismo e Colapso Ambiental. São Paulo: Editora Unicamp, 2016.

MOORE, Jason W. The Modern World-System as Environmental History? Ecology and the Rise of Capitalism IN: Theory & Society 32, 3, 307-77. 2003.

OLOFF, Kerstin. ‘Greening’ The Zombie: Caribbean Gothic, World Ecology, and Socio Ecological Degradation. IN: Green Letters: Studies in Ecocriticism, 16:1, 31-45. 2012.

RHODES, Gary D. White Zombie: Anatomy of a Horror Film. Estados Unidos: McFarland, 2001.

RODRIGUES, Maguie. O Antropoceno em disputa. IN: Cienc. Cult. vol. 69 nº.1 São Paulo Jan./Mar. p. 19-22. 2017.

SAID, Edward W. Culture and Imperialism. Estados Unidos: Vintage Books, 1994.

SEABROOK, William. The Magic Island. Estados Unidos: Blue Ribbon Books, 1929.

SODIKOFF, Genese. The Time of Living-Dead Species: Extinction Debt and Futurity in Madagascar. IN: PAIK, P. Y.; WIESNER-HANKS, M. (Eds.) Debt: Ethics, the Environment, and the Economy. Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press, p. 140-163. 2013.

SOHDI, N. S.; BROOK, B.W.; BRADSHAW, C. J. A. Causes and Consequences of Species Extinction. IN: LEVIN, S. A. (Ed). The Princeton Guide to Ecology. Princeton: Princeton University Press, p. 514-520. 2008.

STURMA, Rob. Aim for the head: An anthology of Zombie Poetry. Estados Unidos: Write Bloody Publishing, 2014.

REFERÊNCIAS - FILMOGRAFIA

WHITE Zombie (Zumbi Branco). Dirigido por Victor Halperin. Estados Unidos: Halperin Productions, 1932 (69 min.)

NIGHT of the Living Dead (Noite dos Mortos Vivos). Dirigido por George A. Romero. Estados Unidos: ImageTen, 1968 (96 min.)

DAWN of the Dead (Madrugada dos Mortos). Dirigido por George A. Romero. Estados Unidos: Laurel Group, 1978 (127 min.)

DAY of the Dead (O Dia dos Mortos). Dirigido por George A. Romero. Estados Unidos: Dead Film Inc, 1985 (100 min.)

RETURN of the Living Dead (A Volta dos Mortos Vivos). Dirigido por Dan O’Bannon. Estados Unidos: Hemdale Film Corporation, 1985 (91 min.)

RESIDENT Evil (Resident Evil). Dirigido por Paul W. S. Anderson. Estados Unidos: Constantin Film, 2002 (100 min.)

SHAUN of the Dead (Todo mundo quase morto). Dirigido por Edgar Wright. Estados Unidos: Studio Canal; WT² Productions; Big Talk Productions, 2004 (99 min.)

DAWN of the Dead (Madrugada dos Mortos).Dirigido por Zack Snyder. Estados Unidos: Strike Entertainment. 2004 (100 min.)

LAND of the Dead (Terra dos Mortos). Dirigido por George A. Romero. Estados Unidos: Atmosphere Entertainment MM, 2005 (97 min.)

THE Walking Dead [Seriado]. Produzido por Jolly Dale, Caleb Womble, Paul Gadd e Heather Bellson. Estados Unidos: AMC Studios, 2010.

Downloads

Publicado

2021-09-10

Como Citar

Stettler, S. S. (2021). Zumbis: a ficção do Antropoceno. Cadernos PET-Filosofia, 19(1). https://doi.org/10.5380/petfilo.v19i1.78365