Acessibilidade / Reportar erro

Educação física, cultura e a produção de significados

Physical education, culture and the production of meanings

Resumos

O presente texto executa análises que buscam compreender como a Educação Física realiza discussões, tendo como estratégia central a cultura, abrindo espaços para se discutir como o significado é também uma construção cultural. A centralidade da dimensão simbólica da cultura representa uma forma de análise em que a produção, distribuição e acesso aos bens culturais estão envolvidos com a maneira como valorizamos ou ignoramos certos aspectos da vida social. O ponto fundamental dessa discussão refere-se à compreensão de que os sentidos e significados historicamente construídos estão inseridos num processo conflituoso em que relações de poder caracterizam um combate por significado. Nesse combate, relações sociais são desfeitas e estabelecidas, conhecimentos são produzidos e distribuídos, políticas são geradas. De posse destas discussões, a Educação Física passa a ser vista não como uma mera atividade em que são escolhidas técnicas supostamente livres de coerções, mas como uma produção e uma política cultural que participa da maneira como os significados são historicamente constituídos.

educação física; cultura; significado


The present text executes analyses which search to understand how Physical Education uses the cultural dimension as a central strategy of its intervention, opening spaces to argue itself also as a cultural construction. The focus on the symbolic dimension of the culture represents an analysis in which the production, distribution and access to the cultural products are involved with the way we value or we ignore certain aspects of the social life. The basic point of this argument is the understanding that the directions and meanings historically constructed are inserted in a conflicting process where relations of power characterize a combat for meaning. In this combat, social relations are established, knowledge is produced and distributed, politics are generated. In this context, Physical Education is seen not as a mere activity which chooses supposedly free techniques of coercions, but as a cultural and politic production that participates in the way meanings are historically constituted.

physical education; culture; meaning


ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

Educação física, cultura e a produção de significados

Physical education, culture and the production of meanings

Quéfren Weld Cardozo Nogueira

Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU/MG). Docente do curso de Educação Física da Universidade Vale do Rio Doce (Univale) - Governador Valadares/MG

RESUMO

O presente texto executa análises que buscam compreender como a Educação Física realiza discussões, tendo como estratégia central a cultura, abrindo espaços para se discutir como o significado é também uma construção cultural. A centralidade da dimensão simbólica da cultura representa uma forma de análise em que a produção, distribuição e acesso aos bens culturais estão envolvidos com a maneira como valorizamos ou ignoramos certos aspectos da vida social. O ponto fundamental dessa discussão refere-se à compreensão de que os sentidos e significados historicamente construídos estão inseridos num processo conflituoso em que relações de poder caracterizam um combate por significado. Nesse combate, relações sociais são desfeitas e estabelecidas, conhecimentos são produzidos e distribuídos, políticas são geradas. De posse destas discussões, a Educação Física passa a ser vista não como uma mera atividade em que são escolhidas técnicas supostamente livres de coerções, mas como uma produção e uma política cultural que participa da maneira como os significados são historicamente constituídos.

Palavras-chave: educação física, cultura, significado.

ABSTRACT

The present text executes analyses which search to understand how Physical Education uses the cultural dimension as a central strategy of its intervention, opening spaces to argue itself also as a cultural construction. The focus on the symbolic dimension of the culture represents an analysis in which the production, distribution and access to the cultural products are involved with the way we value or we ignore certain aspects of the social life. The basic point of this argument is the understanding that the directions and meanings historically constructed are inserted in a conflicting process where relations of power characterize a combat for meaning. In this combat, social relations are established, knowledge is produced and distributed, politics are generated. In this context, Physical Education is seen not as a mere activity which chooses supposedly free techniques of coercions, but as a cultural and politic production that participates in the way meanings are historically constituted.

Key-words: physical education, culture, meaning.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Texto recebido em 20 nov. 2004

Texto aprovado em 08 abr. 2005

1 Uma das conseqüências do movimento renovador da Educação Física na década de 1980 foi a criação de perspectivas pedagógicas preocupadas em fazer uma análise do papel social da educação numa sociedade capitalista. Nesse contexto, as perspectivas crítico-superadora e crítico-emancipatória compreendem que as formas do movimentar-se humano (com destaque para o esporte) reproduzem os valores e princípios da sociedade capitalista (BRACHT, 1999)

2 Falar de um saber sobre a cultura corporal, esta se tratando de uma dimensão da cultura que se concretiza no saber fazer, num vivenciar, por um lado, e num saber sobre esse fazer, por outro. A dimensão do saber fazer torna-se necessária para que possamos apreender a cultura em sua totalidade ao mesmo tempo em que permite que o conceito de criticidade possa abarcar elementos estéticos e éticos (BRACHT, 2001).

  • ALVES, V. de F. N. Uma leitura antropológica sobre a educação física e o lazer. In: WERNECK, C. L. G.; ISAYAMA, H. F. Lazer, recreação e educação física Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 83-114.
  • BRACHT, V. A criança que pratica esportes respeita as regras do jogo... capitalista. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 62-68, jan. 1986.
  • ______. Educação Física: conhecimento e especificidade. In: SOUZA, E. S. de; VAGO, T. M. Trilhas e partilhas: educação física na cultura escolar e nas práticas sociais. Belo Horizonte: Cultura, p. 13-24, 1997.
  • ______. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos Cedes, Corpo e Educação, Campinas, v. 19, n. 48, p. 69-98, ago. 1999.
  • ______. Saber e fazer pedagógicos acerca da legitimidade da Educação Física como componente curricular. In: CAPARROZ, F. E. (Org.). Educação Física escolar: política e intervenção, v. 1. Vitória: Proteoria, 2001. p. 67-79.
  • BRANDÃO, C. R. A educação como cultura Campinas: Mercado das Letras, 2002.
  • DAOLIO, J. Educação Física e conceito de cultura Campinas: Autores Associados, 2004.
  • ______. Cultura, educação física e futebol Campinas: Unicamp, 1997.
  • GARCIA, S. G. Cultura, dominação e sujeitos sociais: tempo social. Revista de Sociologia, São Paulo, USP, v. 8, n. 2, p. 156-176, out. 1996.
  • GIROUX, H. A. Cruzando as fronteiras do discurso educacional: novas políticas em educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
  • GRECO, P. J.; BENDA, R. N. (Orgs.). Iniciação esportiva universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
  • HALL, S. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 22, n. 2, p. 15-46, jul./dez. 1997.
  • KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte Ijuí: Unijuí, 2000.
  • MCLAREN, P. Multiculturalismo crítico São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2000.
  • POPKEWITZ, T. S. História do currículo, regulação social e poder. In: SILVA, T. T. da (Org.). O sujeito da educação: estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 173-210.
  • SACRISTAN, J. G. A educação que temos, a educação que queremos. In: IMBERNÓN, F. A educação no século XXI: desafios do futuro imediato. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000, p. 37-76.
  • SILVA, T. T. da. O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
  • SOARES, C. L. et. al. Metodologia do ensino da educação física São Paulo: Cortez, 1992.
  • TABORDA DE OLIVEIRA, M. A. de. Existe lugar para a EF na escola básica? In:CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, CONBRACE, 10., 1997, Goiânia. Anais.. Goiânia (GO), 1997.
  • ______. Práticas pedagógicas da Educação Física nos tempos e espaços escolares: a corporalidade como termo ausente? In: BRACHT, V.; CRISORIO, R. A Educação Física no Brasil e na Argentina: identidade, desafios e perspectivas. Campinas: Autores Associados; Rio de Janeiro: Prosul, 2003. p. 147-154.
  • VAGO, T. M. Educação física escolar: temos o que ensinar? Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, Suplemento 1, 1995.
  • ______. Intervenção e conhecimento na escola: por uma cultura escolar de Educação Física. In: GOELLNER, S. V. Educação física/ciências do esporte: intervenção e conhecimento. Florianópolis: CBCE, 1999. p. 17-36.
  • ______. A educação física na cultura escolar: discutindo caminhos para a intervenção e a pesquisa. In: BRACHT, V.; CRISORIO, R. A Educação Física no Brasil e na Argentina: identidade, desafios e perspectivas. Campinas: Autores Associados; Rio de Janeiro: Prosul, 2003. p. 197-222.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Set 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 2005

Histórico

  • Recebido
    20 Nov 2004
  • Aceito
    08 Abr 2005
Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná Educar em Revista, Setor de Educação - Campus Rebouças - UFPR, Rua Rockefeller, nº 57, 2.º andar - Sala 202 , Rebouças - Curitiba - Paraná - Brasil, CEP 80230-130 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: educar@ufpr.br