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Metodologia do ensino de arte na escola

ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

Metodologia do ensino de arte na escola

Maria Eneida Fabiano HolzmannI; Natalice de Jesus Rodrigues GiovannoniII; Pedro Felício MaesIII

IMestre em Educação. Psicomotricista Titular da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade - Professora do Departamento de Métodos e Técnicas da Educação - Setor de Educação-UFPR

IIDoutora em Artes Plásticas pela Universidade de São Paulo - Prof. Adjunto do Departamento de Métodos e Técnicas da Educação - Setor de Educação- UFPR

IIIMestre em Educação - UFPR. Professor Adjunto do Departamento de Métodos e Técnicas da Educação - Setor de Educação- UFPR.

Tem-se observado em diferentes escolas, quer públicas, quer particulares, na capital, Curitiba, e no interior do Estado do Paraná, que o ensino da Educação Artística deixa muito a desejar. De modo geral, a Educação Artística é vista como uma válvula de escape, ou seja, é considerada um momento de lazer, uma perda de tempo, quando não uma atividade que atrapalha a grade curricular.

Outra visão da Educação Artística na escola é a de preparadora de comemorações como o dia das mães, dos pais, do índio, Páscoa, Natal, Sete de Setembro, etc. E, na maioria das vezes, o trabalho realizado é da professora e nunca do aluno como sujeito.

É na pré-escola que ela ocupa um espaço um pouco maior. Entretanto, muitas vezes, não passa de uma coleção de técnicas, aplicadas uma após a outra, mecanicamente, com o intuito apenas de desenvolvimento da coordenação motora fina, como por exemplo, pintar as figuras prontas ou os espaços determinados. Quando os trabalhos visam a estética, eles normalmente são "arrumados" pelo professor, pra serem ofertados aos envaidecidos pais. A idéia geral parece ser : a Educação Artística pode ser exercitada na pré-escola, desde que não ocupe os espaços dos conteúdos, da alfabetização.

Existe algum espaço onde a Educação Artística seja valorizada? Sim. Ela é altamente valorizada como recurso pedagógico e terapêutico em clínicas, hospitais de psiquiatria, em atendimento a crianças ou a pessoas com dificuldades de aprendizagem, com deficiências motoras, em grupos de pessoas que buscam crescimento pessoal e profissional, como por exemplo: grupos de terceira idade, grupos de recursos humanos, de educação permanente, etc.

É de se questionar esta diferença. Será questão metodológica? Desconhecimento dos educadores em geral, quanto à filosofia e objetivos da Educação Artística? Questão de postura dos arte-educadores? Questão do histórico cultural? Questão da formação do professor de Educação Artística? Muitas hipóteses, vários caminhos, e também vários pontos de vista serão encontrados nesta discussão.

É hora da Educação Artística ou Arte Educação ocupar seu verdadeiro espaço no ensino, desde a pré-escola até o terceiro grau e quiçá em cursos de pós-graduação. Segundo estudiosos, os objetivos principais da Educação Artística são: desenvolver a percepção visual, tátil e corporal, a comunicação trabalhando as linguagens sonora, plástica, corporal e a criatividade. Observa-se que esses objetivos são valiosos, mas lamentavelmente, tão mal entendidos e usados.

Sabe-se que o ser humano possui as necessidades básicas de "ser" e de "pertencer" ao todo maior que é o social. Sabe-se igualmente, que quanto mais o homem se conhece, se torna autêntico, se diferencia,adquire sua identidade, mais ele tem condições, disponibilidade e energia para se integrar com os outros, pertencer ao grupo. Mas, atualmente, essas necessidades são pouco consideradas, e adquiridas com dificuldade. E qual são as causas? Julga-se que a perda ou ausência de oportunidade para as pessoas se expressarem é um dos fatores preponderantes. A escola, valorizando apenas a cognição, a competição, a comunicação verbal, o sucesso escolar em termos de notas e conceitos, tolhe a expressividade, e o desenvolvimento da identidade e individualidade da pessoa e também sua capacidade de integração com o mundo.

E como tratar dessas questões vitais, na escola?

A Educação Artística apresenta-se como uma das possibilidades para o desenvolvimento do "ser" e o "pertencer". As diferentes linguagens ou expressões (plástica, sonora, sinestésica,dramática, literária); os diferentes diálogos (tônico, corporal, pelo olhar, gestual, sonoro, plástico), e os diferentes jogos e brincadeiras que a Educação Artística possibilita, significam para o educando um espaço em potencial de liberdade ou de expressão de liberdade, expressão do sentir, do criar, do ser, do estar, do pertencer, do agir, do compartilhar.

Sente-se que a Educação Artística está ligada a uma postura sociopolítica da educação e se volta para a democracia. O professor desempenha o papel de um líder de grupo democrático. Seu principal objetivo é conduzir os alunos ao estudo de problemas significativos na sua disciplina ou área. Tal situação pressupõe troca de experiências, e respeito pelas idéias dos outros. Numa sala de aula democrática, as idéias do professor, como dos alunos. Alunos e professor aprendem juntos. Mesmo o professor sendo uma autoridade na matéria, a situação é preparada de modo a encorajar aos alunos a pensarem e agirem por si mesmos. A Educação Artística adota uma abordagem de aprendizagem que enfatiza a intencionalidade na experiência e no comportamento humanos. Conseqüentemente, é evidenciada uma atmosfera mais amigável e confiante que a posição autoritária, uma aprendizagem mais significativa que com o emprego do "deixar fazer". Ao contrário das outras posições, na democrática, os alunos demonstram mais iniciativas e trabalham muito mais eficientemente. Os alunos aprendem mais em uma sala de aula não autoritária. Situações de aprendizagem democrática parecem produzir mais retenção e transferência.

No ensino de arte há que se diferenciar o ensino da arte pela arte, isto é, a formação do artista, e da arte educação que é educar, utilizando as várias formas de expressão artística. A natureza do ensino da arte, abordada neste trabalho, é o da arte na escola.

Ao planejar-se o ensino da Educação Artística, deve-se levar em conta a natureza peculiar da arte. Se arte é a manifestação peculiar da individualidade ou o estado de espírito de cada um (é idiossincrática) não segue padrões (é divergente), é original, então, o seu ensino deve considerar estes fatores.

A Educação Artística não é apenas uma disciplina a mais no currículo.Ela é um todo envolvente que busca, tanto na arte,como na educação, subsídios para cumprir com o seu principal objetivo que é o surgimento da expressão do aluno, como parte integrante de sua realidade vital.Da arte, ela herdou as características peculiares e, como tal, tenta romper padrões e convergências, principalmente no que se refere à postura metodológica.Da educação progressista adotou uma visão voltada para a dinâmica e para as experiências. E de ambas, acatou o amor pela liberdade e criatividade. Estas características convergem para uma consideração muito especial pelo educando. A Educação Artística é uma disciplina que valoriza o ser educando, e que o incentiva a ser criativo, tanto para a sua realização pessoal e profissional como para a sua participação no contexto social. Logo, se ela for ministrada por pessoa que tenha conhecimento não só das técnicas, mas também de toda a sua postura teórica, será um dos fatores que mais contribuirá, não só para desenvolvimento do educando, como para a valorização da própria disciplina e,conseqüentemente, para uma maior eficácia da educação geral.

Há a preocupação que no primeiro momento de um curso de Educação Artística a proposta de atividades parte do próprio aluno, de acordo com seu interesse. Por exemplo, na disciplina Metodologia do Ensino de Artes foi solicitado que os alunos lessem o V capítulo do livro de G. Kneller, denominado Arte e Criatividade e destacassem cinco idéias que fossem significativas. Em seguida, planejassem uma atividade que operacionalizasse, em sala de aula, pelo menos uma idéias. Um aluno, cuja idéia escolhida era "a criatividade depende da autoconfiança", e a autoconfiança começa pelo conhecimento", propôs e realizou a seguinte atividade:

1-Pediu para que os alunos escolhessem duplas.

2-Olhassem a cor dos olhos do(a) colega.

3-Solicitou que cada aluno, folheando revistas, destacasse um pedaço da revista que tivesse a cor dos olhos de seu colega da dupla e, depois, mostrasse ao mesmo tempo.

4-Em seguida, pediu que, em grupo, sem falar, fizessem uma composição plástica com estes papéis.

5-Finalmente, comentassem sua atividade.

Nos comentários, alguns alunos falaram que nunca tinham se preocupado em saber como era exatamente a cor de seus olhos.

Assim, reforça-se que a participação do aluno é de muita importância, da mesma forma, as experiências de vida do professor e dos alunos deverão ser valorizadas. Todas as atividades propostas deverão ser justificadas, discutidas, ter uma razão de ser, uma função enquanto experiência de vida.

As atividades de Educação Artística são por si só motivantes, mas cabe ao professor a organização, condução e desenvolvimento das propostas.

O professor faz um pré-planejamento, e levanta as expectativas dos alunos. Após discussões,o programa de trabalho é detalhado, de acordo com as necessidades e sugestões dos educandos. É uma postura metodológica democrática no ensino da arte na escola. Os objetivos e os conteúdos são ratificados, todos podem opinar sobre os procedimentos e avaliação. Trabalhando em conjunto, o professor e os alunos produzem criativa e democraticamente, num clima de otimismo e amizade.

  • ALMEIDA, Marilda P. de. Educação Artística: uma verdade na educação? Rio de Janeiro : MEC/SESU/FNDE, 1983.
  • ARNHEIM, Rudolf. Arte & percepção visual. Uma psicologia da visão criadora. São Paulo : Pioneira, 1980.
  • BARBOSA, Ana Mae T. B. Teoria e prática da educação artística. São Paulo : Cultix, 1975.
  • GIOVANNONI, Natalice de J.R. Da prática da sala de aula pesquisa experimental : uma experiência no ensino da arte na escola. São Paulo : USP, 1991. (tese de doutorado).
  • KNELLER, G. Arte e ciência da criatividade. São Paulo : Ibrasa, 1971.
  • LOWENFELD, Viktor ; BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo : Mestre Jou, 1977.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1993
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