Acessibilidade / Reportar erro

Fontes orais, história e saber escolar

Oral sources, history and school knowledge

Resumos

Este artigo é resultado de uma pesquisa-ação desenvolvida na Escola Estadual Professor Júlio Mesquita, localizada no bairro Jardim das Américas em Curitiba-PR. Discute o papel das fontes orais e o uso da memória no trabalho com história ensino fundamental. Analisa, a partir da experiência realizada, como as fontes podem ser utilizadas na produção do saber escolar em História. Aponta para as possibilidades e dificuldades no desenvolvimento deste tipo de projeto na escola.

ensino de História; fontes orais; memória e história


This article is result of an action-research developed in Escola Estadual Professor Júlio Mesquita, in Jardim das Américas neighborhood, Curitiba-PR. It discusses the role of oral sources and memory using in primary education history teaching. This work, based on this experience, analyses how those sources can be used in history school knowledge production. It aims at developing possibilities and difficulties of this kind of project in school.

History teaching; oral sources; memory and history


Fontes orais, história e saber escolar* * Este trabalho foi apresentado no I CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro, 2000. 1 Este projeto, intitulado Memória e Ensino de História, foi desenvolvido com o apoio de professoras de séries iniciais (3a série), em dois anos de investimento no bairro e na escola citados. Contou também com a participação de duas bolsistas de iniciação científica/UFPR - Lisiane Gastaldin e Luciana Perpétuo Pinto. 2 O produto final dessa pesquisa é uma coletânea de textos e imagens como fragmentos das entrevistas, trechos de jornais, fotos recolhidas sobre o bairro e mapas. O material didático, produzido a partir desta coletânea, apresenta, algumas sugestões de atividades com o objetivo de instrumentar os alunos para que possam ler, interpretar, e refletir sobre o passado do bairro, estimulando também a busca de outras informações para que o trabalho possa ser ampliado. Houve também uma preocupação em promover situações de aprendizagem com noções de temporalidade. A intenção era construir, juntamente com os alunos, o conceito de tempo relacionando-o com suas percepções temporais e com suas percepções do tempo vivido. 3 Segundo POLLACK (1992, p.24), a construção da identidade se dá na confluência de três elementos essenciais: a unidade física, a continuidade dentro do tempo físico (físico ou moral/psicológico) e o sentimento de coerência dos elementos anteriores. 4 Evidenciamos esse comportamento em pessoas ligadas aos alunos da série em que estávamos desenvolvendo o trabalho de pesquisa e em algumas pessoas antigas na comunidade. 5 "Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde subsiste uma consciência comemorativa numa história que a chama, porque ela a ignora. É a desritualização de nosso mundo que faz aparecer a noção. O que secreta, veste, estabelece, constrói, decreta, mantém pelo artifício e pela vontade de uma coletividade fundamentalmente envolvida em sua transformação e sua renovação. Valorizando, por natureza, mais o novo do que o antigo, mais o jovem do que o velho, mais o futuro do que o passado". (NORA, 1997, p. 28). 6 As entrevistas utilizadas como referência neste artigo são de dois professores. A professora universitária Susana F. da Costa foi entrevistada por ser uma das primeiras moradoras do local e pertencer à família que era proprietária das terras que, hoje, praticamente definem as fronteiras do bairro Jardim das Américas. Ela teve um forte envolvimento com a construção do bairro e isso aparece em muitos momentos da entrevista. A sua relação com a escola foi como estagiária do curso de Pedagogia; o professor Mamed foi escolhido por ser um dos moradores mais antigos e por ter pertencido ao quadro de professores da Escola Estadual Professor Júlio de Mesquita (hoje é aposentado). Ele foi entrevistado na escola com a participação dos alunos.

Oral sources, history and school knowledge

Serlei Maria Fischer Ranzi

Doutora em História, Professora da Área Temática de História e Historiografia da Educação do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná. Endereço eletrônico: ranzi@netpar.com.br

RESUMO

Este artigo é resultado de uma pesquisa-ação desenvolvida na Escola Estadual Professor Júlio Mesquita, localizada no bairro Jardim das Américas em Curitiba-PR. Discute o papel das fontes orais e o uso da memória no trabalho com história ensino fundamental. Analisa, a partir da experiência realizada, como as fontes podem ser utilizadas na produção do saber escolar em História. Aponta para as possibilidades e dificuldades no desenvolvimento deste tipo de projeto na escola.

Palavras-chave: ensino de História, fontes orais, memória e história

ABSTRACT

This article is result of an action-research developed in Escola Estadual Professor Júlio Mesquita, in Jardim das Américas neighborhood, Curitiba-PR. It discusses the role of oral sources and memory using in primary education history teaching. This work, based on this experience, analyses how those sources can be used in history school knowledge production. It aims at developing possibilities and difficulties of this kind of project in school.

Key-words: History teaching, oral sources, memory and history

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

FONTES ORAIS

Texto recebido em 26/04/2001

  • AMADO, J.; FERREIRA, M. de M.(Org). Usos e abusos da História Oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
  • BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: história, geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997.
  • CHARTIER, R. A visão do historiador modernista. In AMADO J. ; FERREIRA, M. de MORAES. (Org). Usos e abusos da História Oral Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
  • CITRON, S. Ensinar a história hoje: a memória perdida e reencontrada. Lisboa: Horizonte, 1994.
  • ESTADO ACTUAL DA INVESTIGAÇÃO E DA FORMAÇÃO, Actas ... Lisboa: Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, 1994.
  • HALBAWACHS, M. A memória coletiva São Paulo: Vértice, 1990.
  • JODELET, Denise. (Org). Les représentations sociales Paris: Presses Universitaires, 1989.
  • LEME, D. M. C.; et al. O ensino de Estudo Sociais no primeiro grau. São Paulo: Atual, 1986.
  • LUC, J. N. La enseñanza de la História a través del medio Madrid: Cincel-Kapelusz, 1983.
  • MEIHY, J. C. S. B. Manual de História Oral. São Paulo: Loyola, 1996.
  • MONIOT, H. Didactique de l'histoire Paris: Edition Nathan, 1993.
  • NORA, Pierre. Les lieux des mémoires. Paris: Gallimard, 1984.
  • NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e a sua formação Portugal: Dom Quixote. 1995.
  • POLLACK, M. Memória e identidade social. Estudos Históricos: Teoria e História, Rio de Janeiro, vol.5, n.10, 1992.
  • QUEIROZ, M. I. P. Relatos orais: do "indizível" ao "dizível". Ciência e Cultura, Rio de Janeiro, v. 3, n. 39, p.272-286, mar. 1987.
  • ROUSSO, H. A memória não é mais o que era. In: AMADO J. FERREIRA, M. de M. (Org). Usos e abusos da História Oral Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
  • SITTON, T. et al. Historia Oral: una guía para profesores (y otras personas). México: Fondo de Cultura Económica, 1995.
  • THOMPSON, Paul. A voz do passado. História oral Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.
  • VIDIGAL, Luis. História Oral e projectos pedagógicos. Lisboa: Livraria Arco Iris, 1995.
  • PROFESSOR MAMED. Entrevista concedia a Serlei Maria Fischer Ranzi Curitiba, 10 de maio 1999.
  • PROFESSORA SUZANA F. DA COSTA. Entrevista concedia a Serlei Maria Fischer Ranzi Curitiba, mar. 2000.
  • *
    Este trabalho foi apresentado no I CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro, 2000.
    1 Este projeto, intitulado Memória e Ensino de História, foi desenvolvido com o apoio de professoras de séries iniciais (3a série), em dois anos de investimento no bairro e na escola citados. Contou também com a participação de duas bolsistas de iniciação científica/UFPR - Lisiane Gastaldin e Luciana Perpétuo Pinto.
    2 O produto final dessa pesquisa é uma coletânea de textos e imagens como fragmentos das entrevistas, trechos de jornais, fotos recolhidas sobre o bairro e mapas. O material didático, produzido a partir desta coletânea, apresenta, algumas sugestões de atividades com o objetivo de instrumentar os alunos para que possam ler, interpretar, e refletir sobre o passado do bairro, estimulando também a busca de outras informações para que o trabalho possa ser ampliado. Houve também uma preocupação em promover situações de aprendizagem com noções de temporalidade. A intenção era construir, juntamente com os alunos, o conceito de tempo relacionando-o com suas percepções temporais e com suas percepções do tempo vivido.
    3 Segundo POLLACK (1992, p.24), a construção da identidade se dá na confluência de três elementos essenciais: a unidade física, a continuidade dentro do tempo físico (físico ou moral/psicológico) e o sentimento de coerência dos elementos anteriores.
    4 Evidenciamos esse comportamento em pessoas ligadas aos alunos da série em que estávamos desenvolvendo o trabalho de pesquisa e em algumas pessoas
    antigas na comunidade.
    5 "Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde subsiste uma consciência comemorativa numa história que a chama, porque ela a ignora. É a desritualização de nosso mundo que faz aparecer a noção. O que secreta, veste, estabelece, constrói, decreta, mantém pelo artifício e pela vontade de uma coletividade fundamentalmente envolvida em sua transformação e sua renovação. Valorizando, por natureza, mais o novo do que o antigo, mais o jovem do que o velho, mais o futuro do que o passado". (NORA, 1997, p. 28).
    6 As entrevistas utilizadas como referência neste artigo são de dois professores. A professora universitária Susana F. da Costa foi entrevistada por ser uma das primeiras moradoras do local e pertencer à família que era proprietária das terras que, hoje, praticamente definem as fronteiras do bairro Jardim das Américas. Ela teve um forte envolvimento com a construção do bairro e isso aparece em muitos momentos da entrevista. A sua relação com a escola foi como estagiária do curso de Pedagogia; o professor Mamed foi escolhido por ser um dos moradores mais antigos e por ter pertencido ao quadro de professores da Escola Estadual Professor Júlio de Mesquita (hoje é aposentado). Ele foi entrevistado na escola com a participação dos alunos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Mar 2015
    • Data do Fascículo
      Dez 2001

    Histórico

    • Recebido
      26 Abr 2001
    Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná Educar em Revista, Setor de Educação - Campus Rebouças - UFPR, Rua Rockefeller, nº 57, 2.º andar - Sala 202 , Rebouças - Curitiba - Paraná - Brasil, CEP 80230-130 - Curitiba - PR - Brazil
    E-mail: educar@ufpr.br