Contra a primazia do eîdos
DOI:
https://doi.org/10.5380/dp.v21i2.94802Palavras-chave:
Platão, teoria das formas, Aristóteles, hilemorfismo, hilozoísmo, materialismo pré-socráticoResumo
Na filosofia de Platão e do platônico Aristóteles há muitas coisas imperfeitas: devir, multiplicidade infinita, indeterminação, contradição, efemeridade, acaso, necessidade cega, acidente, mistura, potência, matéria, não-ser, mal etc. Não houvesse, o sistema não giraria bem em seus gonzos e não daria conta do projeto epistêmico de dizer o real tal como é. Mas há em compensação um fator de perfeição que organiza e subordina tudo isso: a primazia da forma (eîdos). Nenhuma daquelas noções existe sem mais, mas orbita em torno de algum item ligado ao campo semântico da forma: subsistência, unidade, identidade, determinação, teleologia etc. Desse modo, ainda que se admita serem os primeiros itens tão originários quanto os segundos, dá-se uma hierarquia de caráter axiológico, numa assimetria ontológica de um outro jogo de anterioridade e posterioridade. Arguir contra a primazia da forma equivale a arguir a favor da primazia da matéria. Que paisagem se contempla quando se encara o real pela perspectiva de uma filosofia de tipo pré-socrático, marcada agora não pelo signo da insuficiência, mas, ao contrário, como filosofia plena? E se a segunda navegação do Fédon devesse retornar à primeira? E se a filosofia resumida pelo Estrangeiro de Atenas em Leis 888e4-890a1 merecesse não a censura, mas o aplauso?
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