Teatro, um quadro das paixões humanas: crítica ao etnocentrismo, corrupção do gosto e degeneração dos costumes em Rousseau
DOI:
https://doi.org/10.5380/dp.v16i1.58409Palavras-chave:
Teatro, Paixões, Etnologia, Sensibilidade, Gosto.Resumo
Na Carta à d’Alembert sobre os espetáculos, Rousseau responde às questões que aparecem no verbete Genebra, publicado no volume VII da Enciclopédia. D’Alembert fazia uma defesa da comédia e dos comediantes, vistos como socialmente inferiores, ao mesmo tempo em que propunha montar uma companhia de teatro em Genebra, o que ajudaria a educar o gosto dos cidadãos. Retomava, assim, o papel do teatro a partir da opinião aristotélica de expurgação dos sentimentos de terror e piedade, adaptando-os da tragédia para a comédia – papel que Rousseau irá recusar de forma veemente, pois o filósofo não era a favor da ideia de que os espetáculos expurgam os vícios dos homens e os educam para as virtudes. D’Alembert não apenas faz uma defesa da comédia e dos comediantes, que eram rebaixados socialmente e tidos com pouca estima na Europa, como também sugere montar uma companhia de teatro em Genebra, considerando que através de espetáculos decentes seria possível educar o gosto dos cidadãos dessa nação específica e quiçá influenciar toda a Europa numa possível reforma no que se refere à arte. Tal iniciativa despertaria as nações para uma delicadeza de sentimento que resultaria em bons costumes sociais. Contudo, para Rousseau o objetivo principal dos espetáculos teatrais é o de agradar e entreter, e, segundo o filósofo, o teatro em geral é um quadro das paixões humanas. Apesar de atestar que o homem é uno, Rousseau nos lembra que esse homem uno vai sendo modificado pelas religiões, pelos governos, pelos costumes, leis, preconceitos, climas, etc. E, entre si, os homens tendem a se tornar diferentes e a depender da época e do lugar em que vivem. Como, então, o mesmo espetáculo poderá agradar e entreter todas as civilizações? É a pergunta que Rousseau faz e que responde dizendo que à cada povo, as espécies de espetáculos vão se adequando conforme os gostos diversos das nações, os seus hábitos e costumes. É baseado nessa observação que o filósofo, diferentemente de d’Alembert, não atribui ao teatro o poder de modificar os sentimentos e costumes, mas antes de reproduzi-los e, com algum esforço, de enfeitá-los. Portanto, a crítica de Rousseau a essa arte de agradar tão perniciosa, execrada na figura do teatro francês da época, sustentava indiretamente o modelo político-aristocrático vigente.
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