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Manuais didáticos e formação da consciência histórica

Didactic material and historical consciousness

Resumos

Neste artigo são analisadas as condições econômicas e sociais de produção de um manual didático, a partir de trabalhos como os de Apple (1995) e Goodson (1999), bem como são apresentadas e discutidas as condições necessárias a um manual didático de História para que ele possa produzir consciência histórica, a partir das categorias criadas por Rüsen (1997). A investigação incluiu a análise do material didático produzido em uma das maiores empresas do setor no Brasil, tanto na perspectiva de sua economia política quanto na sua relação com as categorias desenvolvidas por Rüsen. Nesta análise, acrescentaram-se as posições do autor do material pesquisado, bem como do professor que o utilizou em suas aulas, buscando estabelecer um diálogo entre a teoria e a visão dos atores do processo de produção e utilização do manual didático.

Educação Histórica; Manuais Didáticos; Consciência Histórica


This article analyses the economical and social conditions of production of a didactic manual, based on works as Apple's (1995) and Goodson's (1999), as well as it presents and discusses the necessary conditions for a History didactic manual to produce historical consciousness, starting from the categories created by Rüsen (1997). The research includes the analysis of the didactic material produced in one of the major interprises in this sector in Brazil, as much in the perspective of its political economy as in its relationship with the categories developed by Rüsen. Here are also presented the opinions of the researched material's author and the teacher who utilized it in his classes, attempting to realize a connection between the theory and the actors' points of view of the process of production and use of didactic material.

Historical education; Textbooks; Historical consciousness


Manuais didáticos e formação da consciência histórica

Didactic material and historical consciousness

Daniel Hortêncio de Medeiros

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Coordenador Pedagógico do Núcleo de Pós-graduação em Educação do Unicenp/PR. Professor de História no Ensino Médio em Curitiba

RESUMO

Neste artigo são analisadas as condições econômicas e sociais de produção de um manual didático, a partir de trabalhos como os de Apple (1995) e Goodson (1999), bem como são apresentadas e discutidas as condições necessárias a um manual didático de História para que ele possa produzir consciência histórica, a partir das categorias criadas por Rüsen (1997). A investigação incluiu a análise do material didático produzido em uma das maiores empresas do setor no Brasil, tanto na perspectiva de sua economia política quanto na sua relação com as categorias desenvolvidas por Rüsen. Nesta análise, acrescentaram-se as posições do autor do material pesquisado, bem como do professor que o utilizou em suas aulas, buscando estabelecer um diálogo entre a teoria e a visão dos atores do processo de produção e utilização do manual didático.

Palavras-chave: Educação Histórica; Manuais Didáticos; Consciência Histórica.

ABSTRACT

This article analyses the economical and social conditions of production of a didactic manual, based on works as Apple's (1995) and Goodson's (1999), as well as it presents and discusses the necessary conditions for a History didactic manual to produce historical consciousness, starting from the categories created by Rüsen (1997). The research includes the analysis of the didactic material produced in one of the major interprises in this sector in Brazil, as much in the perspective of its political economy as in its relationship with the categories developed by Rüsen. Here are also presented the opinions of the researched material's author and the teacher who utilized it in his classes, attempting to realize a connection between the theory and the actors' points of view of the process of production and use of didactic material.

Key-words: Historical education; Textbooks; Historical consciousness.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Texto recebido em 16 fev. 2005

Texto aprovado em 17 nov. 2005

NOTA DE RODAPÉ

1 E também em Apple (1997, p. 89; 1982, p. 213 et seq.)

2 Mas também Goodson (1997, p. 79-93). O currículo em mudança. Estudos na construção social do currículo. Porto: Porto Editora, 2001. Particularmente a introdução feita por Joel Kincheloe.

3 Em entrevista dada a Daniel Medeiros, em setembro de 2005.

4 Na apresentação do material de História pesquisado, o autor anuncia, para os professores, o papel que ele vai ocupar na adaptação do conteúdo padronizado do material realidade de sua escola: "É voc professor, com sua erudição e capacidade de estabelecer o maior número possível de relações de sentido entre os dados alcançados, quem vai se colocar entre essas noções de proximidade e distncia. O seu olhar e a sua experiência de educador vão resgatar os fatos, a sensibilidade e a sociabilidade de um outro tempo". (Livro do Professor. Primeiro Bimestre, p. 1)

5 SOBENH. Disponível em: <http://www.sobenh.org.br/artigos.htm> Acesso em: 03 out. 2005

6 Livro do Primeiro Bimestre, p. 1

7 Id

8 BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: história, geografia Brasília: MEC/SEF, 1997, v. 5.

9 White (1978); Bodei (1997, p. 63-64) busca sintetizar o conceito de ficções verbais em White: transformar as obras historiográficas em "ícones" do passado, em construções de sentido articuladas pela imaginação "poética" "meta-histórica" mediante figuras retóricas unificadoras (metáfora, metonímia, sindoque, ironia) capazes de representarem e orientarem paradoxalmente a dispersão inenarrável dos acontecimentos justamente porque os "prfigura", consignando-os depois a uma "narração" que os expe e explica.

10 No entanto, como argumenta Isabel Barca (2001, p. 30), esta pluriperspectividade não deve desaguar em uma postura pós-moderna de relativismo cético, como a protagonizada por Hayden White e Richard Rorty, que coloca a nfase na existência de um discurso sobre o passado sem relação com esse próprio passado. É uma tendência que nega a possibilidade de conhecimento do real para l do discurso - a História não passa de uma narrativa to ficcional como qualquer outra. Esta postura, por mais fascínio que possa exercer junto de teóricos da História, não oferece uma base frutuosa para a educação histórica. Não ser til para os jovens considerar que qualquer resposta sobre o passado apenas uma questão de opinião pessoal ou de ponto de vista. Eles precisam exercitar um pensamento crtico, de aprender a selecionar respostas mais adequadas sobre o real, passado e presente.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Set 2014
  • Data do Fascículo
    2006

Histórico

  • Aceito
    17 Nov 2005
  • Recebido
    16 Fev 2005
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