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Psicanálise e Educação - novos operadores de leitura

MRECH, Leny Magalhães. . Psicanálise e Educação - novos operadores de leitura. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. 144 p.

O livro tem como objetivo demonstrar nossas vivências como docentes e as relações estabelecidas dentro da realidade escolar à luz da Psicanálise de orientação lacaniana. Abordando de forma inovadora, para além dos conceitos tradicionais mais comuns trazidos por Sigmund Freud e Jacques Lacan, a autora convida o leitor a se permitir participar e acolher uma leitura que se propõe a construir uma subjetividade e uma objetividade de outra ordem, qual seja, aquela produzida na e através da linguagem e da fala a respeito da realidade educacional brasileira.

A proposta da autora é lançar novos operadores de leitura que busquem fugir à repetição das ações dos sujeitos que está impedindo que algo de novo aconteça na Educação, ou seja, a leitura nos leva aos conteúdos além do plano da consciência, que até então é muito pouco estudado nessa área. A motivação para essa abordagem surge em vista de tantos sofrimentos vivenciados por aqueles que trabalham com a Educação, tema recorrente que a autora explora apresentando um novo olhar, dessa vez preferindo privilegiar a escuta do próprio fenômeno a ser estudado.

A obra se apresenta em seis capítulos, sendo que o Capítulo I: A Sociedade Contemporânea e a Mudança do Papel dos Professores à luz da Educação Inclusiva e da Psicanálise e o Capítulo II: O Fracasso Escolar - Um Novo Sintoma na Cultura? apresentam uma análise da realidade escolar brasileira, não de modo histórico, e sim da realidade contemporânea tão desconfortável, como, por exemplo: o fracasso escolar e a educação inclusiva. O Capítulo III: Transferência e Saber e o Capítulo IV: Saber e Gozo já delineiam conceitos próprios da Psicanálise.

No Capítulo V: Além do Sentido e do Significado - A Concepção Psicanalítica da Criança e do Brincar, a autora retoma o infantil na figura da criança dentro da sua infância, e suas relações com o brinquedo e o brincar na concepção psicanalítica, considerando a sua constituição e suas relações com os adultos. E, finalmente, o Capítulo VI: A Informática: Um dos Nomes da Imagem-Rainha na Sociedade Contemporânea, a autora apresenta a informática e a internet à luz de uma leitura psicanalítica, e o que elas representam para o sujeito que vivencia um novo modelo de comunicação que o captura.

Pela leitura da obra percebe-se que os capítulos estão articulados entre si, apresentando conteúdos que são retomados de capítulos anteriores, e que, para além de uma percepção equivocada de repetição, apresenta uma organização didática, permitindo ao leitor apreciar os temas e conceitos e apreender a conexão continua e suas inter-relações.

A grande conquista da obra é permitir uma leitura inovadora entregando ao leitor temas para que perceba a realidade escolar fora das análises tradicionais até então realizadas, oferecendo-lhe oportunidade de redescobrir-se enquanto educador frente ao seu próprio trabalho, refletindo sobre pedagogia e educação, e sobre sua posição subjetiva diante do seu ofício.

Ao final, na Conclusão, a autora deixa claro que o livro não sugere uma clínica psicanalítica aplicada na escola e, tampouco, medicalizar a Educação, mas pretende apresentar novos operadores de leitura para a realidade dos que ensinam e dos que aprendem e as dificuldades inerentes ao processo. A autora resgata reflexões importantes reabrindo discussões sobre questões tais como o movimento do professor em idealizar seu aluno, sobre o fracasso escolar, sobre uma pedagogia pré-estabelecida, enfim, sobre o modelo atual de Educação centrado no plano da consciência. A proposta é repensar os próprios fundamentos da Educação e dos educadores que nela atuam, sugerindo novas formas de conceber o processo de ensino e aprendizagem e conectando a Psicanálise à Educação para auxiliar nessa caminhada. Dessa forma, o livro pode ser útil para aqueles que sentem o desconforto na sua prática, sentem a ineficácia do modelo atual e a impotência diante da ilusão do todo-saber. Como toda palavra fundamentada na teoria psicanalítica, a palavra da autora não está pronta, dita ou determinada, e sim lançada para que os educadores dela se apropriem na medida das suas possibilidades e identificações, construindo seu próprio saber sobre a Educação, resgatando o sujeito em si e ressignificando o ato educativo dirigido a quem lança a palavra.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2017

Histórico

  • Recebido
    17 Dez 2016
  • Aceito
    03 Jan 2017
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