Auto-Representação Indígena na Escrita Etnográfica: elementos teóricos para a consideração da intertextualidade etnográfica
Resumo
Este trabalho visa problematizar teoricamente a auto-representação indígena na escrita etnográfica e como pode ser percebido o processo de apreensão/representação da diferença cultural alheia no texto etnográfico. Será indagado o quanto a antropologia, os antropólogos e suas técnicas são pensados e utilizados por interlocutores nativos para se expressarem em sua singularidade para platéias restritas ou mais amplas. O argumento enfatizado é que o antropólogo não registra na escrita etnográfica uma cultura nativa prévia que é verbalizada pelo interlocutor nativo, mas uma cultura dialógica dinâmica, atualizada no encontro etnográfico. Para a exposição do argumento serão debatidas as abordagens de Marcel Mauss, Maurice Leenhardt e Roberto Cardoso de Oliveira das noções de “pessoa” e do “eu”. O trabalho é concluído com a análise de um relato que ilustra o modo como etnografias podem ser apropriadas pelos interlocutores para a auto-representação.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFReferências
ALBERT, Bruce. 1995. “O Ouro Canibal: crítica xamânica da economia política da natureza”. Série Antropologia nº174. Brasília: Universidade de Brasília, Departamento de Antropologia.
BOON, James. 1990 [1982]. Otras Tribus, Otros Escribas: antropología simbólica en el estudio comparativo de las culturas, historias, religiones y textos. Tradução Stella Mastrangelo. México: Fondo de Cultura Económica.
BOURDIEU, Pierre. 1996. “A Ilusão Biográfica”. In Marieta Ferreira & Janaína Amado (orgs.) Usos e Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: FGV.
BRUNER, Edward. 1986. “Ethnography as Narrative”. In Victor Turner & Edward Bruner (eds.) The Anthropology of Experience. Urbana: The University of Illinois Press.
BURKE, Peter. 1995. A Arte da Conversação. São Paulo: Unesp.
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. 2006. Caminhos da Identidade: ensaios sobre etnicidade e multiculturalismo. São Paulo: Unesp; Brasília: Paralelo 15.
CLIFFORD, James. 1998. “Sobre a Autoridade Etnográfica”. In José Reginaldo dos Santos Gonçalves (org.) James Clifford – A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: UFRJ.
CRAPANZANO, Vincent. 1979. “Preface”. In Maurice Leenhardt, Do Kamo: person and myth in the melanesian world. Translated by Basia Miller Gulati. Chicago: The University of Chicago Press.
CRAPANZANO, Vincent. 1980. Tuhami. Portrait of a Moroccan. Chicago: The University of Chicago Press.
CRAPANZANO, Vincent. 1992. Hermes’ Dilemma & Hamlet´s Desire. Cambridge: Harvard University Press.
CRAPANZANO, Vincent. 2006. “The Scene: shadowing the real”. Anthropological Theory 6(4):387-405. https://doi.org/10.1177/1463499606071593
FERNANDES, Florestan. 1957. “Lévy-Bruhl e o Espírito Científico”. Revista de Antropologia 2(2):121-42. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1954.110321
GEERTZ, Clifford. 2005. Obras e Vidas: o antropólogo como autor. Rio de Janeiro: UFRJ.
GONÇALVES, José Reginaldo Santos. 1998. “Apresentação”. In James Clifford – A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: UFRJ.
HATOUM, Milton. 2004. “Laços de Parentesco: ficção e antropologia”. In Fernanda Peixoto, Heloísa Pontes & Lilia Schwarcz (orgs.) Antropologias, Histórias, Experiências. Belo Horizonte: UFMG.
LEENHARDT, Maurice. 1979. Do Kamo: person and myth in the melanesian world. Translated by Basia Miller Gulati. Chicago: The University of Chicago Press.
MALINOWSKI, Bronislaw. 1930. “The Problem of Meaning in Primitive Languages”. In C. K. Ogden & I. A. Richards (eds.) The Meaning of Meaning: a study of the influence of language upon thought and of the science of symbolism. 3rd edition. London/New York: Kegan Paul.
MAUSS, Marcel. 2003 [1938]. “Uma Categoria do Espírito Humano: a noção de pessoa, a de ‘eu’ ” In Sociologia e Antropologia. Tradução Paulo Neves. São Paulo: Cosac & Naify.
MYERS, Fred. 1986. “The Politics of Representation: australian aborigines and anthropological discourse”. American Ethnologist 13:138-53. https://doi.org/10.1525/ae.1986.13.1.02a00100
NERY, Paulo Roberto Albieri. 1990. Idiotas Metodológicos: a antropologia da construção etnográfica. Dissertação de Mestrado. Brasília: Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social.
PEIRANO, Mariza. 1995. A Favor da Etnografia. Rio de Janeiro: Relume-Dumará.
ROCHA, Ana Luiza Carvalho da & Cornelia Eckert. 2003. “O Antropólogo na Figura do Narrador”. Habitus 1(2):395-420.
SILVA, Cristhian T. da. 2002a. Borges, Belino e Bento: a fala ritual entre os tapuios de Goiás. São Paulo: Annablume.
SILVA, Cristhian T. da. 2002b. “Reelaboração da Etnologia nos Sertões Indígenas”. Anuário Antropológico 99. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.
SILVA, Vagner Gonçalves da. 2006. O Antropólogo e sua Magia: trabalho de campo e texto etnográfico nas pesquisas antropológicas sobre religiões afro-brasileiras. São Paulo: Edusp.
TAMBIAH, Stanley. 1985. Culture, Thought and Social Action: an anthropological perspective. Cambridge: Harvard University Press.
TEDLOCK, Dennis. 1986. “A Tradição Analógica e o Surgimento de uma Antropologia Dialógica”. Anuário Antropológico 85. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.
DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cam.v9i1.13869
Apontamentos
- Não há apontamentos.