Open Journal Systems

Variabilidade morfológica e granulométrica e balanço sedimentar de uma praia em rotação praial

Celia Regina de Gouveia Souza

Resumo


A rotação praial é um fenômeno oscilatório, de curto a médio intervalo de tempo, caracterizado pela alternância entre erosão e acreção nas terminações opostas de praias de enseada, como resposta a modificações no transporte longitudinal, decorrentes de súbita mudança na direção/altura das ondas incidentes. Este trabalho apresenta as modificações na morfodinâmica, na granulometria e no balanço sedimentar decorrentes do fenômeno de rotação praial na Praia do Góes (município do Guarujá, São Paulo), em escalas de médio e longo termo. O fenômeno começou em fevereiro de 2010, pouco antes do início das obras de dragagem de aprofundamento do Canal do Porto. Entretanto, sua maior expressão se deu durante uma forte ressaca do mar no início de abril, quando a população local ficou isolada. Devido à localização da praia em uma pequena enseada no interior da Baía de Santos, em frente ao Canal de Acesso/Navegação do Porto de Santos, as rápidas modificações morfológicas ocorridas na praia foram atribuídas a um possível impacto da dragagem. O fenômeno foi estudado no âmbito do “Programa de Monitoramento do Perfil Praial”, cujo objetivo é analisar possíveis impactos das obras de dragagem de aprofundamento do Porto de Santos nas praias locais. Cinco perfis praiais foram monitorados mensalmente, durante 36 meses entre janeiro/2010 e fevereiro/2014. Retroanálises em produtos de sensoriamento remoto de 1962 a 2011 serviram para identificar a ciclicidade histórica do fenômeno e obter o balanço sedimentar da praia de longo termo. Os resultados mostraram que o ciclo de rotação praial, ou de transporte de sentido horário, é impulsionado por inversões da deriva litorânea resultante predominante, causadas por eventos meteorológico-oceanográficos de forte magnitude (frentes frias com ressacas) e associadas a uma praia em completo desequilíbrio morfodinâmico antecedente. O intervalo de tempo decorrido entre o início do penúltimo ciclo (início em 1977) e o atual foi de 33 anos, sendo que a praia permaneceu em ciclo de rotação praial (maior deposição a leste e erosão a oeste) durante 13 anos, e levou cerca de 20 anos para atingir a total reversão do arco praial, em um ciclo de transporte de sentido anti-horário (maior deposição a oeste e extrema erosão a leste). A rotação atual causou intensa modificação morfológica, granulométrica e volumétrica na praia, em especial nas suas extremidades. O setor central da praia variou pouco, como esperado para o chamado ponto pivô da rotação praial. O balanço sedimentar de curto e médio termo pode ser considerado em equilíbrio, com tendências levemente positivas.


Palavras-chave


rotação praial; monitoramento praial; dragagem; Porto de Santos; Guarujá

Texto completo:

PDF

Referências


Alegria-Arzaburu A.R. de, Masselink G. 2010. Storm response and beach rotation on a gravel beach, Slapton Sands, U.K. Marine Geology, 278: 77-99.

Alencar Jr A.C.B. de, Klein A.H. Da F., Araujo R.S. 2011. Modelagem numérica do fenômeno de rotação praial: uma abordagem teórica. V Simpósio Brasileiro de Oceanografia. Resumos (CD-ROM).

Anthony E.J., Gardel A., Dolique F., Guiral D. 2002. Short-term changes in the plan- shape of a sandy beach in response to sheltering by a nearshore mud bank, Cayenne, French Guiana. Earth Surface Processes and Landform, 27: 857-866.

Archetti R., Romagnoli C. 2011. Analysis of the effects of different storm events on shoreline dynamics of an artificially embayed beach. Earth Surface Processes and Landforms. Disponível em: wileyonlinelibrary.com. Acesso em: abril 2014.

Carter R.W.G. 1988. Coastal Environments. An Introduction to the Physical, Ecological and Cultural Systems of Coastlines. Academic Press. 617p.

Codesp/Fundação Ricardo Franco. 2006. Dragagem de Aprofundamento do Canal de Navegação, Bacias de Evolução e Berços de Atracação do Porto Organizado de Santos – São Paulo. CODESP (inédito), Porto de Santos. RIMA, vol. III, p. 1-327.

Codesp/Fundação Ricardo Franco. 2008. Dragagem de Aprofundamento do canal de Navegação, Bacias de Evolução e Berços de Atracação do Porto de Santos. EIA, vol. 1, 113p. (inédito).

Cooper J.A.G., Jackson D.W.T., Navas F., Mckenna, J., Malvez G. 2004. Identifying storm impacts on an embayed, high-energy coastline: examples from western Ireland. Marine Geology, 210: 261-280.

Fairley I., Davidson M., Kingston K. 2009. The morphodynamics of a beach protected by detached breakwaters in a high energy tidal environment. Journal Coastal Research, SI 56: 607-611.

Finkelstein K. 1982. Morphological variations and sediment transport in crenulate-bay beaches, Kodiak Island, Alaska. Marine Geology, 47: 261-281.

Hanslow D.J. 2007. Beach erosion trend measurement: a comparison of trend indicators. Journal Coastal Research, SI 50: 588-593.

Harari J., Camargo R. 1995. Tides and mean sea level variabilities in Santos (SP), 1944 to 1989. Relatório Interno do Instituto Oceanográfico da USP, n. 36, 15 p.

Harari J., Kato V.M., Uehara, S.A, Nonnato L.V., Vicentini Neto F.L., Szajnbok C. 2010. Measurements and modeling of sea level and currents in Santos coastal area (São Paulo State, Brazil). Afro-America Gloss News, 13(2): 1-15.

Holman R.A., Symonds G., Thornton E.B., Ranasinghe R. 2006. Rip spacing and persistence on an embayed beach. Journal of Geophysics Research, 111: C01006.

Hsu J.R.C., Evans C. 1989. Parabolic bay shapes and applications. Proceedings Institution of Civil Engineers. London: Thomas Telford, Part 2, 557-570.

INPE - Instituto De Pesquisas Espaciais 2014. El Niño e La Niña. Disponível em http://http://enos.cptec.inpe.br/ Acesso em abril/2014.

Jackson D.W.T., Cooper J.A.G. 1984. Geological control on beach form: accommodation space and contemporary dynamics. Journal Coastal Research, SI 56: 69-72.

Klein A.H.F., Benedet Filho L., Schumacher D.H. 2002. Short-term beach rotation process in distinct headland bay beach system. Journal Coastal Research, 18(3): 442-458.

Lee G., Nicholls R.J., Birkemeier W.A. 1998. Storm-driven variability of the beach nearshore profile at Duck, North Carolina, USA, 1981–1991. Marine Geology, 148: 163–177p.

Martins C.C., Mahiques M.M., Dias J.M.A. 2010. Daily morphological changes determined by high‐energy events on an embayed beach: a qualitative model. Earth Surface Processes and Landforms, 35: 487-495.

Masselink G. 1999. Alongshore variation in beach cusp morphology in a coastal embayment. Earth Surface Processes and Landforms, 24: 335-347.

Masselink, G., Short, A.D. 1993. The effect of the tide range on beach morphodynamics and morphology: a conceptual beach model. Journal of Coastal Research, 9 (3): 785-800.

Morton R.A., Gibeaut J.C., Paine J.G. 1995. Mesoscale transfer of sand during and after storms - implications for prediction of shoreline movement. Marine Geology, 126: 161-179.

Newe J., Peteres K., Dette H.H., 1999. Profile development under storm conditions as a function of the beach slope. Coastal Sediments, 99(1): 2582-2596.

Quartel S., Kroon A., Ruessink B.G. 2008. Seasonal accretion and erosion patterns of a microtidal sandy beach. Marine Geology, 250: 19-33.

Ojeda E., Guillén J. 2008. Shoreline dynamics and beach rotation of artificial embayed beaches. Marine Geology, 253: 51-62.

Ojeda E., Guillén J., Ribas F. 2006. Bar and shoreline coupling in artificial embayed beaches. Proceedings of the 30th International Conference on Coastal Engineering, p. 2714-2725.

Ojeda E., Guillén J., Ribas F. 2010. The morphodynamic responses of artificial embayed beaches to storm events. Advances in Geosciences, 26: 99-103.

Ranasinghe R., Mcloughlin R., Short A.D., Symoads G. 2004. The Southern Oscillation Index, wave climate, and beach rotation. Marine Geology, 204: 273-287.

Rooney J.J.B., Fletcher C.H. 2005. Shoreline change and Pacific climate oscillations in Kihei, Maui, Hawaii. Journal Coastal Research, 21: 535–547.

Sedrati M., Anthony E.J. 2007. A brief overview of plan-shape disequilibrium in embayed beaches: Tangier Bay (Morocco). Mediterranée 108. Disponível em: http://mediterranee.revues.org/index190.html?file¼1. Acesso em: abril/ 2014.

Silvester R. 1960. Stabilization of sedimentary coastlines. Nature 188: 467-469.

Silvester R., Hsu J.R.C. 1993. Coastal Stabilization: innovative concepts. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice Hall, 578p.

Short A.D. (ed.) 1999. Handbook of Beach and Shoreface Morphodynamics. John Wiley & Sons, NJ, USA. 379p.

Short A.D., Masselink G. 1999. Embayed and structurally controlled beaches. In: Short, A.D. (ed.) Handbook of Beach and Shoreface Morphodynamics. John Wiley & Sons, NJ, USA. p. 230-250.

Short A.D., Trembanis A.C. 2004. Decadal scale patterns of beach oscillation, and rotation: Narabeen Beach, Australia: Time series PCA and wavelet analysis. Journal of Coastal Research, 20(2): 523-532.

Short A.D., Trembanis A.C., Turner I.L. 2000. Beach oscilation, rotation, and the Southern Oscilation, Narraben Beach, Australia. Proceedings 27th International Coastal Engineering Conference, Sydney, Australia, p. 2439-2452.

Souza C.R. de G. 2007. Determination of net shore-drift cells based on textural and morphological gradations along foreshore of sandy beaches. Journal of Coastal Research, SI 50: 620-625.

Souza, C.R. de G. 2008. Erosão na Praia do Gonzaguinha-Milionários (São Vicente, SP): causas e projeções. VII Simpósio Nacional de Geomorfologia (SINAGEO) e II Encontro Latino-americano de Geomorfologia, Belo Horizonte. Anais. CD-ROM.

Souza C.R. de G. 2009. A Erosão nas Praias do Estado São Paulo: Causas, Consequências, Indicadores de Monitoramento e Risco. In: Memórias do Conselho Científico da Secretaria do Meio Ambiente: A Síntese de um Ano de Conhecimento Acumulado. Bononi V.L.R., Santos Júnior N.A. (Org.). Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Instituto de Botânica/SMA. p. 48-69.

Souza. C.R. de G. 2010. Impactos das mudanças climáticas no litoral do Estado de São Paulo (Sudeste do Brasil). VI Seminário Latino Americano de Geografia Física e II Seminário Ibero Americano de Geografia Física, Coimbra, Portugal. Actas. Disponível em http://www.uc.pt/fluc/cegot/VISLAGF/actas/tema4/celia_regina.

Souza C.R. de G. 2011. Rotação praial na Praia do Góes (Guarujá, SP/Brasil). XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – COLACMAR, Balneário Camboriú (SC). Resumos Expandidos, CD-ROM.

Souza, C.R. de G. 2012. Praias arenosas oceânicas do Estado de São Paulo (Brasil): Síntese dos conhecimentos sobre morfodinâmica, sedimentologia, transporte costeiro e erosão costeira. Revista do Departamento de Geografia-USP, n. 2012, Volume Especial 30 anos, p. 308-371. Disponível em: http://citrus.uspnet.usp.br/rdg/ojs/index.php/rdg/article/view/394

Souza C.R. de G., Luna G.C. 2009. Taxas de retrogradação e balanço sedimentar em praias sob risco muito alto de erosão no município de Ubatuba (Litoral Norte de São Paulo). Quaternary and Environmental Geosciences, 1(1): 25-41. Disponível em: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/abequa/issue/view/814.

Souza C.R. de G., Luna G.C. 2010. Variação da linha de costa e balanço sedimentar de longo período em praias sob risco muito alto de erosão no município de Caraguatatuba (Litoral Norte de São Paulo, Brasil). Revista de Gestão Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management, 10(2): 179-199. Disponível em: http://www.aprh.pt/rgci/revista10f2.html.

Souza C.R. de G., Suguio K. 2003. The coastal erosion risk zoning and the São Paulo State Plan for Coastal Management. Journal Coastal Research, SI 35: 530-592.

Souza C.R. de G., Luna C.G., Souza A.P. 2012b. Variabilidade decadal de uma praia de enseada com fenômeno de rotação praial. 46° Congresso Brasileiro de Geologia e 1° Congresso de Geologia dos Países de Língua Portuguesa, Santos. Resumos, CD-ROM.

Souza C.R. de G., Souza A.P., Ferreira R.S. 2012a. Monitoramento praial antes e durante as obras de dragagem do Porto de Santos, São Paulo (Brasil). In: Barragán Muñoz J.M. (coord.). Libro de Comunicaciones y Pósters, I Congreso Iberoamericano de Gestión Integrada de Áreas Litorales, Cádiz, Spain, p. 802-812.

Souza C.R. de G., Souza A.P., Rosa E.G. 2013. Avaliação histórica da ocorrência de ressacas na Baixada Santista. XIV Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário – ABEQUA, Natal. Resumos, CD-ROM.

Souza C.R. de G., Souza A.P., Ferreira R.S., Rosa E.G., Munarin P.C. 2011. Programa de monitoramento praial para avaliação de possíveis impactos da dragagem de aprofundamento do canal do porto de Santos: síntese da abordagem metodológica. XIII Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário – ABEQUA e III Encontro do Quaternário Sul-Americano, Búzios. Boletim de Resumos Expandidos. Disponível em: http://www.abequa.org.br/trabalhos/CELIA_SOUZA_PMPPr.pdf.

Thomas T., Phillips M.R., Williams A.T. 2010. Mesoscale evolution of a headland bay: Beach rotation process. Geomorphology, 123: 29-41.

Thomas T., Phillips M.R., Williams A.T., Jenkins R.E. 2011. Short-term beach rotation, wave climate and the North Atlantic Oscillation (NAO). Progress in Physical Geography, 35(3): 333-352.

Trenhaile A.S. 1987. The Geomorphology of Rock Coasts. Oxford University Press, Oxford, UK. 393p.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/abequa.v6i1.38573