Acessibilidade / Reportar erro

Apresentação

O campo da pedagogia universitária vem se instituindo na área da educação e vem sendo desafiado pelas formas contemporâneas de compreender o conhecimento, a aprendizagem e o ensino. Na medida em que nos afastamos de uma perspectiva de ensino como transmissão do conhecimento e compreendemos que a mobilização dos estudantes se constitui num desafio para a construção das suas aprendizagens, somos estimulados a repensar a pedagogia universitária e os conteúdos que historicamente fizeram parte de suas preocupações.

A compreensão, hoje expressivamente explorada na literatura, de que a universidade precisa assumir a sua condição de aprendente para marcar essa perspectiva na formação dos estudantes estimulou uma revisão das culturas acadêmicas, assumindo a importância dos saberes pedagógicos. Na condição de aprendente, a instituição universitária precisa mobilizar energias para que seja reconhecida como quem desenha o seu processo de aprendizagem de forma singular e criativa. A par desta ideia, foi se estabelecendo uma cultura de comunidades de aprendizagem, que estimula os processos coletivos de produção do conhecimento, numa visão que se contrapõe à tradicional perspectiva individualista do trabalho acadêmico.

No quadro desta situação, a pedagogia, que toma a indissociabilidade do ensino, da aprendizagem e da pesquisa como pressuposto, é instada a incorporar a dúvida como ponto de partida e a prática social como referente. A dúvida só se instala a partir de uma leitura da realidade, nomeadamente a captada pela extensão. É esta que faz a mediação da prática como ponto de partida e como ponto de chegada do conhecimento sistematizado.

Esse pressuposto legal, apoiado numa aspiração reivindicada pelos movimentos sociais ligados ao espaço acadêmico, vem mobilizando reflexões sobre o campo da pedagogia universitária. Até então este se constituía através de práticas naturalizadas a partir de formas históricas de ensinar e de aprender. Os professores ensinavam como foram ensinados e, mesmo que esses processos não fossem totalmente hegemônicos, a base da compreensão de seu ofício era alicerçada numa herança cultural, baseada em ações que prescindiam de reflexões teóricas sobre a sua sustentação. Para ensinar na educação superior o conhecimento específico de cada campo científico e profissional era considerado suficiente.

Esta perspectiva vem sendo superada, ainda que pontualmente pela complexidade das situações com que se confronta a docência. Tendo como pressuposto um importante domínio do conteúdo de ensino, dos professores se requer outros tantos saberes, que incluem a compreensão dos contextos socioculturais que envolvem as suas práticas; as condições de aprendizagem de seus alunos; a relação da formação com o mundo do trabalho; a capacidade de desenvolver habilidades para continuar aprendendo; o domínio do mundo digital, só para mencionar alguns aspectos. Essa condição desafia os processos de ensinar e de aprender na universidade, ampliando a necessidade de conhecimentos que vêm dando a base da pedagogia universitária.

A democratização do acesso à educação superior tem sido uma meta universal e requer investimentos no sentido de prover a qualidade do ensino e o sucesso dos estudantes que chegam à universidade.

Sendo polissêmico, o campo da pedagogia universitária é tributário de perspectivas políticas e filosóficas. Não se trata de um saber neutro e universal. Revela valores e se vincula com a cultura dos campos profissionais que marcam a educação superior. Nessa direção, compreendemos que é possível falar em pedagogias universitárias no plural, uma vez que cada campo científico e profissional produz compreensões que marcam as práticas pedagógicas de suas comunidades. Mesmo assim, é preciso reconhecer que há estruturantes comuns e sobre eles se instala uma condição dialógica que articula a base do saber docente.

As reflexões enunciadas revelam a energia dos proponentes deste Dossiê, que assumiu a Pedagogia Universitária: debates internacionais contemporâneoscomo tema preferencial. Muitos deles têm protagonizado relações acadêmicas anteriores e partilhado possibilidades investigativas comuns num clima de diálogo. Este diálogo tem favorecido um crescimento significativo do tema que os mobiliza e representa a ideia de que é coletivamente que se pode fortalecer tão importante campo de conhecimento.

As experiências e as investigações que deram origem ao conteúdo dos textos aqui apresentados testemunham o esforço que vem sendo feito para neutralizar a competitividade em favor da solidariedade, especialmente acreditando no trabalho colaborativo. A expectativa é de que a socialização do conhecimento produzido nesse contexto possa estimular outras possibilidades similares, numa rede de energias que apontem para uma educação da melhor qualidade.

Carlinda LeiteMaria Isabel da CunhaTânia Maria Baibich

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2015
Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná Educar em Revista, Setor de Educação - Campus Rebouças - UFPR, Rua Rockefeller, nº 57, 2.º andar - Sala 202 , Rebouças - Curitiba - Paraná - Brasil, CEP 80230-130 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: educar@ufpr.br