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Estrelinhas brasileiras

ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

Estrelinhas brasileiras* * Por Maria Ignes Scavone Mello Teixeira, Editora da UFPR.

José Vicente A. das Neves Miranda

Professor Adjunto do Departamento de Teoria e Fundamentos/Setor de Educação/UFPR

Com este sugestivo nome a Editora da UFPR está lançando a edição de um pequeno volume de músicas brasileiras para piano, destinado para principiantes na fase pré-escolar. Pequeno só no tamanho; feliz a hora que a Editora dá acolhida ao volume que se enquadra dentro do espírito do método "Suzuki", de aprendizagem de música, lançado desde há alguns anos pelo violinista Shinichi Suzuki e mundialmente conhecido como método de cultivar talentos musicais. Originariamente destinado aos jovens aprendizes de violino, sendo o próprio Mestre Suzuki violinista, esse método se expandiu rapidamente com sucesso para outros países diferentes do Japão, que o adotaram. Tornou-se também um método utilizado por outros instrumentos, o piano, a flauta transversa, o violoncelo, o violão, a harpa, a viola e a flauta doce. A própria metodologia de sua didática musical faz que o instrumento se introduza junto ao seu infantil estudante de uma maneira sutil, porém constante. Como diz o Suzuki (P-47):

Habilidade é algo que devemos criar ou elaborar em nós mesmos. Isso significa repetir e repetir até que algo seja parte de nós mesmos. É fácil dizer isso, mas ter realmente força para agir, aí está o problema. Há muitas pessoas que resolvem: "vou conseguir isso ou aquilo". Qualquer um pode dizer isso facilmente, mas nem todos realizam suas intenções. Começam talvez, mas não continuam realmente e não põem força suficiente nos seus esforços, deixando as coisas feitas pela metade. Na verdade, não é essa a experiência de muitas e muitas pessoas? Só há uns poucos que vão adiante com seu objetivo e conseguem realizações. Em qualquer trabalho que seja, o caminho para o sucesso é, afinal, manter-se firme em seus propósitos. Qualquer um pode fazê-lo, depende só da vontade.

Esse treinamento pela repetição, longé de ser considerado precoce, só tem a anunciar uma geração talentosa e senhora de si mesma. Com efeito, se desde Platão a música é considerada o mais poderoso instrumento de educação da criança, o articulista Lynell Hancock resume alguns resultados recentes em apoio dessa afirmação teórica e que encontra eco em diferentes experiências realizadas entre crianças e grupos de crianças - digamos musicais e crianças não musicais. No Campus lrvine da Universidade da Califórnia, os estudiosos acharam que após oito meses, crianças de 3 anos pertencentes aos grupos musicais tinham obtido escores 80% mais elevados no domínio de quebra-cabeças (puzzle masters) do que os seus coleguinhas que se debatiam em tarefas de visualização do mundo ao redor.

Uma outra experiência feita na Universidade de Constança, Sharon Begley relata a reviravolta que a música causa nos circuitos neurais: nos cérebros de nove instrumentistas de cordas em idade pré-escolar, examinados por ressonância magnética, o volume de córtex somato-sensório dedicado aos dedos polegar e mínimo da mão esquerda - dedos que dedilham no violino, era significativamente maior do que o do cérebro dos que não eram instrumentistas. O tempo e a prática não alteram o mapa cortical, diz ela, mas a idade sim: quanto mais cedo a criança se ocupar com o instrumento musical, mais córtex será necessário dedicar para a tarefa de tocar o instrumento, o que faz, segundo o físico Gordon Shaw, do mesmo Campus de lrvine, que as habilidades musicais se convertem em habilidades transferíveis para o complexo campo da matemática e da engenharia.

No método Suzuki (1994, p.16), as crianças são cada vez mais cedo introduzidas no mundo da música, como relata esta passagem do seu livro:

A expressão de Hiromi transformou-se de um instante para o outro. Ela sorria, brilhava e voltava seu rosto feliz para a mãe que a tinha nos braços. "Veja, esta é a minha música", é o que ela certamente queria dizer. Logo ela se voltou novamente para mim e moveu seu pequeno corpo no ritmo da música.

Esse bebê de apenas cinco meses de idade

mostrava que conhecia a melodia do

Concerto em Lá menor

de Vivaldi. Desta forma já um lactente, assim como uma semente, absorve prazer e interesse de tudo o que vê e ouve. [Sem grifo no original]

Tal introdução ao mundo da música irá criar uma geração inteligente e disciplinada já que a postura do instrumento o exige.

A coletânea aqui apresentada é uma criação de sua autora, professora de piano pelo método Suzuki da Associação Musical do Método Suzuki (AMMS), filiada à Matriz no Japão, que representa uma transcrição da dinâmica metodológica do volume inicial para músicas folclóricas brasileiras, a serem tocadas ao piano pelo método Suzuki. É no volume inicial que a criança toma contato com o instrumento e através dele com o mundo do país onde nasceu e cresce. Compreende-se, portanto, porque esse volume seja povoado e repovoado com muitas semibreves e a autora faz a transposição da música "Lightiy Row" (Remando Suavemente), para a primeira música "Manquinha", à qual seguem "Que é da Margarida?" e, dessa maneira, a infantil pianista vai tomando contato sucessivamente com outras canções folclóricas brasileiras "Ciranda Cirandinha", "Capelinha de Melão", "Sapo Cururú", "A Canoa Virou", "Fui no Tororó", "Senhora Viúva", até chegar àquelas que têm uma melodia já mais elaborada, tais como "Pirulito que bate-bate", "Peixe Vivo" e "Teresinha de Jesus" finalizam o volume. O volume contém, além disso, explicações que guiam o leitor em português, espanhol e inglês.

Neste sentido, os jovens pianistas do método Suzuki brasileiro poderão ter como companheiros de leitura musical os seus coleguinhas chilenos, mexicanos e espanhóis, que irão aprender músicas folclóricas brasileiras. A introdução de explicações indicadoras em língua inglesa neste volume poderá abrir caminho para este volume ter aceitaçãotanto nos Estados Unidos, onde existem inúmeros seguidores do método Suzuki, como na própria Inglaterra, ou torná-lo aceitável nos demais países europeus.

Feliz, portanto, a idéia da Editora da UFPR lançar esta obra que vai levar as "estrelinhas" elaboradas pelo gênio musical popular brasileiro, em primeiro lugar para as crianças brasileiras, e ao mesmo tempo para outros lugares deste vasto mundo, até onde pode chegar a música, devido à criatividade de uma autora de quem pode se ter muito a esperar. Nesta ocasião, não se poderia deixar de felicitar também o Conselho Editorial da Editora da UFPR pelo lançamento e pela qualidade gráfica obtida, de causar inveja em qualquer parte do mundo e por nos "proporcionarem" o acalanto "que", no dizer do cientista brasileiro Carlos Chagas Filho "só a poesia e a música podem nos trazer".

  • BEGLEY, Sharon.Your child's brain. Newsweek, feb. 1996.
  • HANCOCK, Lyrell. Why do schools flunk biology. Newsweek, feb. 1996.
  • SUZUKI, Shinichi. Educação e amor. (Trad. de Anne Corina Gottber), Santa Maria: Pallotti, 1994.
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    Por Maria Ignes Scavone Mello Teixeira, Editora da UFPR.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Mar 2015
    • Data do Fascículo
      Dez 1997
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