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Os liceus na cidade: o exemplo parisiense (1802-1914)

The lycées in cities: the example of Paris (1802-1914)

Resumos

No século XIX, os liceus experimentam a atenção das cidades que os abrigam, provocando sentimentos ambivalentes, entre a atração e a rejeição. Ao procurar múltiplos recursos, as cidades provocam, com efeito, prejuízos que ameaçam sem cessar a saúde, a segurança e a moral dos alunos, como também o curso de seus estudos. Durante muito tempo, os estabelecimentos sofrem para fazer entender suas reivindicações e devem, então, se adaptar sozinhos ao contexto urbano. Mas pouco a pouco estas relações conflituosas diminuem: no final do século XIX, após o fracasso do governo em sua tentativa de transportar para o campo os estabelecimentos de internos, a cidade torna-se uma verdadeira associada, com a qual os liceus não hesitam em multiplicar suas trocas. Pelo seu exemplo, o caso dos liceus parisienses ilustra esta lenta evolução.

história da educação; culturas escolares; arquitetura escolar


In the 19th century, lycées experienced ambivalent feelings towards the cities that harboured them, ranging from attraction to rejection. Cities offered many resources to schools, on the other hand they caused threatening damage to the health, safety and moral standards of the pupils, as well as to the course of their studies. For a long time, schools struggled to put forward these conflictual relationships gradually died down. Towards the end of the cities, lycées and cities became real partners with an increasing number of contracts between the two. Because of its exemplary nature, the case of the lycées in Paris illustrate this slow evolution.

history of education; schools cultures; school architecture


TRADUÇÃO

Os liceus na cidade: o exemplo parisiense (1802-1914)* * Título original "Les Lycées dans la ville: l'exemple parisien (1802-1914)". Artigo originalmente publicado no número especial da Revista Histoire de L'Education

The lycées in cities: the example of Paris (1802-1914)

Marc Le Coeur

Historiador da Arte. Doutorando em História da Arte na Universidade de Paris I. marc_le_coeur@yahoo.com

RESUMO

No século XIX, os liceus experimentam a atenção das cidades que os abrigam, provocando sentimentos ambivalentes, entre a atração e a rejeição. Ao procurar múltiplos recursos, as cidades provocam, com efeito, prejuízos que ameaçam sem cessar a saúde, a segurança e a moral dos alunos, como também o curso de seus estudos. Durante muito tempo, os estabelecimentos sofrem para fazer entender suas reivindicações e devem, então, se adaptar sozinhos ao contexto urbano. Mas pouco a pouco estas relações conflituosas diminuem: no final do século XIX, após o fracasso do governo em sua tentativa de transportar para o campo os estabelecimentos de internos, a cidade torna-se uma verdadeira associada, com a qual os liceus não hesitam em multiplicar suas trocas. Pelo seu exemplo, o caso dos liceus parisienses ilustra esta lenta evolução.

Palavras-chave: história da educação, culturas escolares, arquitetura escolar.

ABSTRACT

In the 19th century, lycées experienced ambivalent feelings towards the cities that harboured them, ranging from attraction to rejection. Cities offered many resources to schools, on the other hand they caused threatening damage to the health, safety and moral standards of the pupils, as well as to the course of their studies. For a long time, schools struggled to put forward these conflictual relationships gradually died down. Towards the end of the cities, lycées and cities became real partners with an increasing number of contracts between the two. Because of its exemplary nature, the case of the lycées in Paris illustrate this slow evolution.

Key-words: history of education, schools cultures, school architecture.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Tradução de Marcus Levy Albino Bencostta: Doutor em História pela Universidade de São Paulo, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação na Área Temática História e Historiografia da Educação/Universidade Federal do Paraná. Pesquisador (Bolsa Produtividade) do CNPq. <marcus@ufpr.br>

Artigo originalmente publicado no número especial da Revista Histoire de L'Education (L'établissement scolaire. Des collèges d'humanités à l'enseignement secondaire, XVIe-XXe siècles), n. 90, p. 131-167, maio 2001.

** Sexto mês do calendário republicano francês. N.T.

*** Segundo mês do calendário republicano francês. N.T.

**** Divisão administrativa do território francês sob a autoridade de um comissário da República. N.T.

***** Décimo mês do calendário republicano francês. N.T.

****** Primeiro mês do calendário republicano francês. N.T.

1 GRACQ, J. La Forme d'une ville. Paris: J. Corti, 1985. p. 149.

2 Rapport du proviseur Rinn, c. 1846, Archives du Lycée Louis-le-Grand.

3 GREEN, J. Jeunes années. Autobiographie I. Paris: Le Seuil, 1984. p. 77.

4 A primeira cidade da província a dispor de dois estabelecimentos distintos foi Montpellier, cujo liceu de meninas, em funcionamento em 1881, foi oficialmente criado em 18 de janeiro de 1882. Dois anos mais tarde, o governo autorizou a criação de um segundo liceu de meninos em Lille (decreto de 3 dez. 1883).

5 Sucessivamente liceus, colégios reais ou liceus imperiais, os estabelecimentos parisienses têm freqüentemente mudado de identidade. Nós nos esforçamos aqui de somente conservar o nome atual de cada um deles. O leitor encontrará em anexo a lista de suas denominações sucessivas.

6 Lei do 11 floréal ano X (1 de maio de 1802), artigo 40.

7 As crianças que não eram hospedadas nos liceus o eram nas pensões privadas que povoavam os arredores. Os externos foram durante muito tempo minoria.

8 PHILIPPE, C-L. La Mère et l'enfant 1900. Paris: Gallimard, 1983. p. 7. Reedição. A ação se passa em outubro de 1886 e a cidade em questão é Montluçon (Allier), cujo liceu foi inaugurado três anos antes.

9 Ch. de Rémusat,1845, apud: DOUARCHE, A. L'Université de Paris et les Jésuites (XVIe et XVIIe siècle). Paris: Hachette, 1888. p. 4.

10 BOUQUET, H. L. L'Ancien collège d'Harcourt et le lycée Saint-Louis. Paris: Delalain Frères, 1891. p. 402-403 e 412-413.

11 L'Université de Paris, la Sorbonne et la Révolution. Paris: Fondation FranceLibertés/Chancellerie des Universités de Paris, 1989. p. 71.

12 Os referidos institutos que sucederiam os colégios dos Quatre-Nations, de Harcourt, de Louis-le-Grand, de Navarre e do Cardinal-Lemoine.

13 Sob suas sucessivas apelações, o colégio Louis-le-Grand foi o único estabelecimento de instrução francesa a não ter jamais fechado suas portas.

14 Mal lembrado, a escolha do Val-de-Grâce foi rapidamente rejeitada. Esta antiga Abadia não era julgada suficientemente central.

15 A maior parte do antigo priorado de Saint-Martin des Champs foi atribuído ao Conservatório de Artes e Ofícios em 10 de junho de 1798.

16 Na realidade, a despeito dos projetos da administração, os liceus Charlemagne e Condorcet ficaram durante várias décadas sendo os únicos liceus franceses a não ter pensionato.

17 Mais amplamente, este decreto aumenta o número de liceus até cem em toda a extensão do Império.

18 Cf. HUGUET, F. Les pensions et institutions privées d'enseignement secondairepour garçons, dans la région de l'Île de France, du XVIIIe siècle à la fin de la Troisième République. Histoire de l'éducation, n. 90, p. 205-221, maio 2001.

19 Ratificando uma disposição de 1841, a Lei de 15 de março de 1850 estipulou que toda cidade que quer obter a criação de um liceu deve arcar com as despesas de construção e da apropriação requeridas para este fim.

20 As funções de reitor da academia de Paris serão exercidas pelo ministro da Instrução.

21 Elevados ao norte de Paris, ao longo do antigo cinturão dos Fermiers Généraux, os edifícios destinados a abrigar esses dois estabelecimentos municipais serão concluídos apenas dez anos mais tarde.

22 O local destinado era aquele do hospício dos Incuráveis (mulheres) da Rua de Sèvres, destinado mais tarde ao hospital Laënnec (Cf. LE COEUR, M. Le lycée Louis-le-Grand à Paris: chronique d'une reconstruction différée (1841-1881). Histoire de l'art, n. 23, p. 71, oct. 1993).

23 GRÉARD, O. Note sur les besoins de l'enseignement secondaire à Paris. Não datado [30 de abril de 1879] .

24 Único liceu parisiense a não ser dedicado a uma glória nacional, o liceu Janson-de-Sailly traz o nome de um rico advogado parisiense que, perto de 50 anos antes, havia instituído a universidade sua herdeira universal com a condição de criar em Paris uma instituição sob o nome de colégio Janson. Sua construção, autorizada desde 1876, começou a funcionar somente em 1881.

25 Em 1880, Jules Ferry observou que "Paris é certamente a cidade da França que teve cuidado com a população e sua extensão, apresentou menos recursos para o ensino secundário público" (Cf. FERRY, J. Carta a Ferdinand Herold, prefeito do Sena. Paris, 04 abr. 1880). De 1870 a 1914, mais de 300 novas escolas foram igualmente construídas (Cf. CHÂTELET, A-M. La Naissance de l'architecture scolaire. Les écoles élémentaires parisiennes de 1870 à 1914. Paris: Honoré Champion, 1999. p. 7). Na mesma época, a maioria dos estabelecimentos universitários parisienses é ampliada ou reconstruída.

26 "Um grande número de pais, mesmo aqueles dentre eles que preferiam o ensino público, é obrigado a confiar seus filhos aos estabelecimentos livres, na impossibilidade de onde se encontravam de procurar o liceu a cinco, seis e até oito quilômetros. Não estaria longe da verdade afirmar que com esta situação excepcional e escolha de um bairro deserto que alguns estabelecimentos congregacionistas devem uma parte de seu sucesso" (FERRY, 1880).

27 O primeiro dentre eles (Fénelon) foi naturalmente fundado no Quartier latin, próximo do Saint-Louis, do Louis-le-Grand e do Henri IV; Racine, depois Jules-Ferry se elevam não longe de Condorcet e do Carnot; Lamartine vizinho ao colégio Rollin; Molière, com Janson-de-Sailly; Victor-Hugo, com Charlemagne; Victor-Duruy enfim, com Buffon.

28 Como os colégios Chaptal e Rollin alguns anos antes, os liceus Buffon, Voltaire e Jules-Ferry foram construídos nos limites dos antigos boulevards exteriores. Carnot se elevava entre o Boulevard Malesherbes e a Avenida de Villiers; Janson apresentava uma fachada sobre a Avenida Georges-Mandel.

29 Em razão de sua proximidade com a estação Saint-Lazare,o Condorcet se tornou em alguns anos o mais populoso dos liceus parisienses: em 1841, contava com mais de mil alunos, chegando a 1600 em 1879.

30 Os jovens ou suas famílias embarcavam na Praça Denfert-Rochereau, onde um café tem até hoje o nome "Lakanal", mesmo que a localização tenha obrigado o estabelecimento a não receber mais os pequenos parisienses, eles desciam na estação Bourg-la-Reine, depois seguiam a pé até a Avenida "do Liceu Lakanal" que os levava diretamente à porta do estabelecimento. A linha de Sceaux foi prolongada até Luxembourg em 1895, o que beneficiou os liceus do Quartier latin.

31 Um certo número de mães de família receava esta precoce autonomia de suas crianças, assim como escreve o jovem narrador do Diable au corps: "...Minha mãe me achava muito novo para ir ao Henri IV. Na sua cabeça isso queria dizer: para pegar o trem. Eu fiquei dois anos em casa e trabalhava sozinho" (RADIGUET, R. Le Diable au corps. 1923. Paris: Le Livre de Poche, 1981. Reedição, p. 12). Da mesma forma, Julien Green (nascido em 1900) recorda da longa viagem que ele devia fazer com 13 anos para retomar do Liceu Janson-de-Sailly depois Le Vésinet (pequena cidade nos arredores oeste de Paris) onde sua família acabara de mudar: primeiro uma hora de trem até a estação Saint-Lazare, depois o caminho de ferro até a Avenida Henri-Martin. E Green conclui: Esta viagem, eu fazia sozinho e era isso que assustava minha mãe. (GREEN, op. cit., p. 125).

32 Cf. VERNE, J. Paris au XXe siécle (1863). Paris: Hachette/Le Cherche Midi, 1994. p. 29-34.

33 LE COEUR, op. cit., p. 67-68.

34 Até recentemente, o principal acesso ao liceu Charlemagne consistia em uma longa e estreita passagem bloqueada entre a Igreja Saint-Paul-Saint-Louis e um imóvel, precedido por uma simples grade. Em 1865, ele permanece o menor liceu da França.

35 Alguns anos antes, durante o período revolucionário, os alunos do Louis-le-Grand já tinham que partilhar seus espaços com a metade de um batalhão (1792-1793), depois uma prisão política (1793-1794), uma sala de trabalhos gerais (1794) e, por fim, com o Comitê Revolucionário da sessão do Panthéon (1794) (DUPONT-FERRIER, G. Du collège de Clermont au lycée Louis-le-Grand (1563-1920). Paris: Boccard, 1921. Tome I, p. 328-329).

36 A entrega do novo edifício em 1847 levou a transferência da Escola Normal da Rua Saint-Jacques, mas, no dia seguinte ao da Revolução de 1848, o governo a substituiu pela efêmera Escola de Administração. Por esta razão, somente em maio de 1849, o liceu Louisle-Grand ficará de uma vez por todas com o controle dos edifícios do Plessis.

37 A nova biblioteca foi construída entre os anos de 1843 a 1850 por Henri Labrouste. Seus antigos espaços só foram oficialmente reunidos ao liceu Henri IV em 1853.

38 Indication des locaux nécessaires pour l'établissement d'un collège royal. 30 de maio de 1843. Bulletin universitaire, p. 132-134, 1843.

39 Dentre os projetos que nós encontramos, citamos a transferência da Faculdade de Ciências nos edifícios do liceu Saint-Louis (1849) ou sua reconstrução sobre o local do liceu Louis-le-Grand (1879); a construção de uma "basílica monumental" nos terrenos do liceu Condorcet (1853) e a substituição da Escola Politécnica ao Liceu Henri IV (1891). No Primeiro Império, os espaços do liceu Charlemagne foram destinados às missões estrangeiras (1804-1806) e aqueles do liceu Henri IV ao palácio da Universidade e à Escola Normal (1811).

40 Ao final de uma convenção assinada em 1844, o liceu Condorcet sacrificou uma grande parte de seu jardim para permitir o alargamento da Rua Saint-Lazare e o loteamento de seus contornos. Nos anos de 1860, a fachada do liceu Saint-Louis foi cortada em mais de cinco metros para respeitar o alinhamento do novo Boulevard Saint-Michel, que substituiu a estreita e sinuosa Rua da Harpe, seguindo o plano do prefeito Haussmann.

41 A Rua do Havre facilitava o movimento de carros nos arredores da nova estação Saint-Lazare. Simultaneamente à perda de seu jardim (ver nota anterior), o liceu Condorcet foi autorizado a se estender até a nova rua e a abrir uma porta sobre aquela. Vinte anos mais tarde, um verdadeiro edifício foi construído, o mesmo que abriga até hoje a entrada principal do estabelecimento.

42 Em troca dos terrenos que ele devia abandonar, o liceu Saint-Louis obteve o direito de se estender em direção à Rua Racine, sobre o terreno dos antigos reservatórios municipais.

43 O liceu Saint-Louis foi o primeiro de Paris (e um dos primeiros na França) a ter sido especificamente construído para este uso.

44 Sejam 12 estabelecimentos sobre 77: Bar-le-Duc, Châteauroux, Coutances, Douai, Evreux, Grenoble, Lyon, Le Mans, Napoléon-Vendée (La Roche-sur-Yon), La Rochelle, Saint-Quentin e Vesoul. Dos cinco primeiros liceus parisienses, um conseguirá se livrar totalmente: Louis-le-Grand, na véspera de sua reconstrução, em 1884.

45 O liceu Montaigne ocupou uma parte do antigo canteiro do Jardim de Luxembourg, cujo loteamento foi feito no final do Segundo Império; o liceu Voltaire aproveitou-se do prolongamento da Avenida da République e o primeiro local destinado para o liceu Buffon deveria permitir aquele da Avenida Duquesne até o Boulevard dos Invalides. Quanto ao liceu Louis-le-Grand, sua reconstrução permitiu o alargamento das Ruas Saint-Jacques (a leste) e Cujas (ao sul). Em certos casos, a abertura de uma rua não tinha outra finalidade senão afastar as habitações do novo liceu: assim a Rua de Staël (atrás do liceu Buffon) e a Rua Spinoza (sobre o lado direito do liceu Voltaire) foram, em sua origem, simples vias de isolamento abertas à circulação.

46 "Por volta de 1875, os pais ainda hesitavam em fixar residência nos bairros de onde seus filhos se deslocavam para se instruir em estabelecimentos do Estado" (DUPONT-FERRIER, G. Les Écoles, lycées, collèges, bibliothèques. L'enseignement public à Paris. Paris: Laurens, 1913. p. 199).

47 Em 4 de abril de 1892, um rumor insidioso pretendia expulsar o liceu Lakanal para dar lugar à Escola Politécnica. Seu diretor escreveu a seguinte carta ao vice-reitor Gréard: "Os professores do liceu que têm uma classe todos os dias alugam apartamentos em Bourg-la-Reine ou em Sceaux e movimentam assim os negócios dos proprietários, assim como seus diversos fornecedores; alguns têm pensionatos em suas casas. Há famílias já instaladas na vizinhança do liceu que não habitariam ali se o liceu fosse suprimido, pois eles vêm a Bourg-la-Reine ou a Sceaux unicamente para colocar seus filhos em nosso liceu".

48 DUPONT-FERRIER, 1913, op. cit., p. 207.

49 Cf. THIERCÉ, A. Révoltes de lycées, révoltes d'adolescents au XIXe siècle. Histoire de l'éducation, n. 89, p. 59-93, jan. 2001.

50 A divisão do estabelecimento em vários "bairros" foi conforme o que se praticava na mesma época nos hospitais e prisões. Em 1868, 13 liceus dos departamentos e um único liceu parisiense tiveram pequenos liceus totalmente isolados do restante do estabelecimento: Amiens, Angers, Bourges, Douai, Laval, Limoges, Metz, Moulins, Nancy, Orléans, Rouen, Tours, Versailles e Henri IV (desde 1857).

51 Durante vários séculos, o Colégio de Harcourt se prolongava de uma parte e de outra da Rua da Harpe e, sob o Segundo Império, três liceus dos departamentos foram igualmente separados em dois por uma rua (em Bordeaux, Lyon e Napoléon-Vendée). Na maioria dos casos, uma passagem subterrânea e/ou uma galeria na altura do primeiro andar permitia a comunicação entre os dois edifícios.

52 Este modo de reprodução se espalhou particularmente após a Segunda Guerra Mundial. Assim, o liceu Rodin foi fundado em 1960, na XIII Circunscrição Administrativa, mas teria sido construído quatro anos antes, como anexo do liceu Montaigne.

53 Bulletin administratif du ministère de l'Instruction publique, 1864 (II). p. 81.

54 Fora dos estabelecimentos, estando por vezes livres, os externos podiam se reencontrar nos recantos ocultos da cidade próximos aos liceus, escapando assim da vigilância dos adultos. Os alunos do pequeno liceu Condorcet estabelecem seu próprio quartel general na cité Monthiers: "É o seu local de greve, uma espécie de praça da Idade Média, de corte de amor, dos jogos, dos milagres, de local de contrabando de selos e bolas de gude, de recanto oculto onde o tribunal julga os culpados e os executa, onde se conspiram estas brincadeiras que chegam em classe cujos preparativos espantam os professores" (COCTEAU, J. Les Enfants terribles. 1929. Paris: B. Grasset, 1985. Reedição, p. 15-16).

55 Segundo Vallés, o colégio Real do Le Puy "se deu como todos os colégios, como todas as prisões, em uma rua obscura" (VALLÉS, J. L'Enfant, 1879. Paris: Le Livre de Poche, 1985. Reedição, p. 39).

56 Em 1839, a municipalidade consente enfim em abrir uma praça em frente ao liceu Louis-le-Grand, ao fim da Rua Gerson. Cinqüenta anos mais tarde, o desaparecimento da Praça Gerson (absorvida pelos edifícios da nova Sorbonne) será compensado pelo alargamento da Rua Saint-Jacques.

57 Construído no mesmo tempo, o liceu Voltaire adotou o partido inverso: desviando da rua todos os espaços escolares. Um simples corredor circundava o edifício, à exceção do edifício principal na Avenida da Republique, onde o arquiteto colocou apenas quatro salas de classe e dois anfiteatros.

58 "Ele nos lembra do suplício dos professores obrigados a lutar em alta voz com o trovão do metropolitano que avança fora da terra em frente ao liceu, para lançar aos quatro ventos do céu seu barulho de ferragem. É verdade que os trens passam de três em três minutos, mas como os trens se cruzam, tem-se por vezes um minuto e meio tranqüilidade" (DUPONT-FERRIER, 1913, p. 208-209).

59 ÉMOND, G. Histoire du collége de Louis-le-Grand depuis sa fondation jusqu'en 1830. Paris: Durand et Loisel, 1845. p. 261; BOUQUET, op. cit., p. 410.

60 BOUQUET, op. cit., p. 410-412.

61 QUICHERAT, J. Histoire de Sainte-Barbe. Collège, communauté, institution. Paris: Hachette, 1862. t. 2, p. 377-378.

62 QUICHERAT, J. Histoire de Sainte-Barbe. Collège, communauté, institution. Paris: Hachette, 1864. t. 3, p. 321.

63 Em 1838, um médico e um professor bordelês escrevem que a necessidade de colocar harmonia à educação física e intelectual da infância é profundamente sentida desde muito tempo. Após lamentarem que os planos estudados até então fracassaram na prática, eles recomendaram a criação, "primeiro em Paris, em seguida nas localidades favoráveis para cada academia, de um estabelecimento especial no qual os cuidados intelectuais seriam completamente subordinados aos cuidados higiênicos, dietéticos e médicos, e isso ao contrário do que existe em todos os colégios" (POUGET; VALAT. Plan d'organisation hygiénique et médicale pour les collèges royaux. Bordeaux: [s. n.], 1838. p. 3-21). A ginástica escolar fez sua aparição um pouco cedo sob o impulso do coronel Amoros, primeiro na instituição Durdan (1818), depois nos liceus de internos de Paris: no Liceu Louis-le-Grand, em 1829, no Henri IV, em 1831, e no Saint-Louis, em 1836.

64 BAUDELAIRE, C. Épître à Sainte-Beuve. 1843.

65 Trata-se da antiga propriedade dos duques de Condé. Adquirida pelo atual liceu Louis-le-Grand desde 1798, o domínio seria transformado, em 1836, à custa de algumas mudanças, na residência de verão dos pensionistas que não passavam as férias com os pais.

66 Lycées impériaux. Programme pour les bâtiments. 1861. Projet.

67 Na mesma época, os liceus de Nantes, Nîmes, Orléans, Poitiers e Reims possuem igualmente propriedades no campo, mas sem um verdadeiro anexo.

68 Statistique de l'enseignement secondaire en 1865. Paris: Imprimerie impériale, 1868. p. 127.

69 Após dois asilos imperiais, foram fundados em Vincennes (1857) e em Vésinet (1859), a instituição Sainte-Périne e o hospício dos Ménages mudam respectivamente para Auteuil (1862) e em Issy (1863), e os hospícios dos incuráveis homens e mulheres, reagrupados em Ivry (1868).

70 Em 1881, o preço do metro quadrado em Sceaux era de 2,60 francos (liceu Lakanal: 255.000 francos para 98.268 m2) ainda que em Paris, ao norte da estação Saint-Lazare, o metro quadrado custava 486,30 francos, ou seja, 187 vezes mais caro (pequeno liceu Condorcet: 1.400.000 francos para 2.878,85 m2).

71 GRÉARD, O. L'Enseignement secondaire à Paris en 1880. Paris: Delalain, 1880. p. 15-16.

72 Ibid., p. 16-17. Nos anos seguintes, a administração criou três liceus para os externos em Paris: Buffon e Voltaire, depois Carnot. Somente os dois liceus em pensionato (Janson e o pequeno Louis-le-Grand, atual liceu Montaigne) gozavam da vizinhança próxima de dois grandes espaços verdes: o Bois de Boulogne e o Jardim de Luxembourg. Quanto aos liceus de meninas, estes foram todos externatos, à exceção do liceu Victor-Duruy, onde um verdadeiro parque foi substituído pelo tradicional espaço de recreio.

73 "Em alguns centros importantes, notadamente em Paris, pode-se instalar no interior das cidades dos liceus recebendo meio pensionista e externos (...), e, no campo, liceus destinados unicamente aos pensionistas e aos meio-pensionistas" (Nota relativa às condições de instalação dos liceus e colégios, 1881). Do mesmo modo, a partir de 1881, o governo fundou vários estabelecimentos de formação de professores do primário e do secundário no subúrbio sul de Paris: em Sèvres, Saint-Cloud, Fontenay-aux-Roses e Sceaux.

74 MANEUVRIER, E. L'Éducation de la bourgeoisie sous la République. Paris: Léopold Cerf, 1888. p. 264.

75 Para a única academia de Paris, Gréard projetou a fundação de três internatos: em Drancy ou em Dugny (a nordeste), em Saint-Mandé (a sudeste) e nos confins de Neuilly (a oeste), que, com o Liceu de Vanves (ao sul), circulavam a cidade de Paris.

76 Jules Vallès, um dos mais virulentos adversários dos liceus, conta, em 1882, que "as crianças ficam reféns dos padres ou dos soldados nos corredores destes pequenos cubículos, onde elas têm sido encerradas sob o protesto dos pais (...) ou sob um julgamento dos magistrados que as teriam achado criminais" (VALLÈS, J. Les lycées. La France, out. 1882).

77 Em novembro de 1864, Duruy exigia que os jovens parisienses visitassem, durante a baixa estação, os museus, as coleções científicas e as grandes usinas de Paris. Oito anos mais tarde, Jules Simon entende esta medida e institui aos alunos dos departamentos passeios topográficos nos campos, utilizando mapas do Estado Maior.

78 Bulletin administratif du ministère de l'Instruction. 1870, p. 390. Nas semanas que se seguiram, a sede de Paris obrigou os liceus parisienses a acolherem as companhias das guardas móveis e das guardas nacionais, até mesmo oficinas de equipamentos que, em certos casos, comprometeram o reinício das aulas em outubro de 1870.

79 Aberta em 1º de maio de 1901 e bem conhecida dos estudantes do Quartier latin, a Galeria Gerson não figurava nos primeiros planos de Henri-Paul Nénot, o arquiteto da nova Sorbonne. Sua criação tinha sido ardentemente reivindicada pelo reitor do liceu Gidel no início dos anos de 1890 e defendida pelo conselheiro municipal Deschamps, como a mudança da antiga rua que leva o mesmo nome e que a Sorbonne devia anexar. Quanto ao projeto do tramway, o mesmo foi estudado e depois abandonado em 1906. Ainda hoje, nenhuma linha de ônibus passa neste pequeno trajeto da Rua Saint-Jacques.

  • Artigo originalmente publicado no número especial da Revista Histoire de L'Education (L'établissement scolaire. Des collèges d'humanités à l'enseignement secondaire, XVIe-XXe siècles), n. 90, p. 131-167, maio 2001.
  • 1 GRACQ, J. La Forme d'une ville. Paris: J. Corti, 1985. p. 149.
  • 3 GREEN, J. Jeunes années. Autobiographie I. Paris: Le Seuil, 1984. p. 77.
  • 8 PHILIPPE, C-L. La Mère et l'enfant 1900. Paris: Gallimard, 1983. p. 7.
  • 9 Ch. de Rémusat,1845, apud: DOUARCHE, A. L'Université de Paris et les Jésuites (XVIe et XVIIe siècle). Paris: Hachette, 1888. p. 4.
  • 10 BOUQUET, H. L. L'Ancien collège d'Harcourt et le lycée Saint-Louis. Paris: Delalain Frères, 1891. p. 402-403 e 412-413.
  • 11 L'Université de Paris, la Sorbonne et la Révolution. Paris: Fondation FranceLibertés/Chancellerie des Universités de Paris, 1989. p. 71.
  • 18 Cf. HUGUET, F. Les pensions et institutions privées d'enseignement secondairepour garçons, dans la région de l'Île de France, du XVIIIe siècle à la fin de la Troisième République. Histoire de l'éducation, n. 90, p. 205-221, maio 2001.
  • 22 O local destinado era aquele do hospício dos Incuráveis (mulheres) da Rua de Sèvres, destinado mais tarde ao hospital Laënnec (Cf. LE COEUR, M. Le lycée Louis-le-Grand à Paris: chronique d'une reconstruction différée (1841-1881). Histoire de l'art, n. 23, p. 71, oct. 1993).
  • 23 GRÉARD, O. Note sur les besoins de l'enseignement secondaire à Paris. Não datado [30 de abril de 1879]
  • 25 Em 1880, Jules Ferry observou que "Paris é certamente a cidade da França que teve cuidado com a população e sua extensão, apresentou menos recursos para o ensino secundário público" (Cf. FERRY, J. Carta a Ferdinand Herold, prefeito do Sena. Paris, 04 abr. 1880).
  • De 1870 a 1914, mais de 300 novas escolas foram igualmente construídas (Cf. CHÂTELET, A-M. La Naissance de l'architecture scolaire Les écoles élémentaires parisiennes de 1870 à 1914. Paris: Honoré Champion, 1999. p. 7).
  • 31 Um certo número de mães de família receava esta precoce autonomia de suas crianças, assim como escreve o jovem narrador do Diable au corps: "...Minha mãe me achava muito novo para ir ao Henri IV. Na sua cabeça isso queria dizer: para pegar o trem. Eu fiquei dois anos em casa e trabalhava sozinho" (RADIGUET, R. Le Diable au corps. 1923. Paris: Le Livre de Poche, 1981. Reedição, p. 12).
  • 32 Cf. VERNE, J. Paris au XXe siécle (1863). Paris: Hachette/Le Cherche Midi, 1994. p. 29-34.
  • 35 Alguns anos antes, durante o período revolucionário, os alunos do Louis-le-Grand já tinham que partilhar seus espaços com a metade de um batalhão (1792-1793), depois uma prisão política (1793-1794), uma sala de trabalhos gerais (1794) e, por fim, com o Comitê Revolucionário da sessão do Panthéon (1794) (DUPONT-FERRIER, G. Du collège de Clermont au lycée Louis-le-Grand (1563-1920). Paris: Boccard, 1921. Tome I, p. 328-329).
  • 38 Indication des locaux nécessaires pour l'établissement d'un collège royal. 30 de maio de 1843. Bulletin universitaire, p. 132-134, 1843.
  • 46 "Por volta de 1875, os pais ainda hesitavam em fixar residência nos bairros de onde seus filhos se deslocavam para se instruir em estabelecimentos do Estado" (DUPONT-FERRIER, G. Les Écoles, lycées, collèges, bibliothèques. L'enseignement public à Paris. Paris: Laurens, 1913. p. 199).
  • 49 Cf. THIERCÉ, A. Révoltes de lycées, révoltes d'adolescents au XIXe siècle. Histoire de l'éducation, n. 89, p. 59-93, jan. 2001.
  • 53 Bulletin administratif du ministère de l'Instruction publique, 1864 (II). p. 81.
  • 54 Fora dos estabelecimentos, estando por vezes livres, os externos podiam se reencontrar nos recantos ocultos da cidade próximos aos liceus, escapando assim da vigilância dos adultos. Os alunos do pequeno liceu Condorcet estabelecem seu próprio quartel general na cité Monthiers: "É o seu local de greve, uma espécie de praça da Idade Média, de corte de amor, dos jogos, dos milagres, de local de contrabando de selos e bolas de gude, de recanto oculto onde o tribunal julga os culpados e os executa, onde se conspiram estas brincadeiras que chegam em classe cujos preparativos espantam os professores" (COCTEAU, J. Les Enfants terribles. 1929. Paris: B. Grasset, 1985. Reedição, p. 15-16).
  • 55 Segundo Vallés, o colégio Real do Le Puy "se deu como todos os colégios, como todas as prisões, em uma rua obscura" (VALLÉS, J. L'Enfant, 1879. Paris: Le Livre de Poche, 1985. Reedição, p. 39).
  • 59 ÉMOND, G. Histoire du collége de Louis-le-Grand depuis sa fondation jusqu'en 1830. Paris: Durand et Loisel, 1845. p. 261;
  • 61 QUICHERAT, J. Histoire de Sainte-Barbe. Collège, communauté, institution. Paris: Hachette, 1862. t. 2, p. 377-378.
  • 62 QUICHERAT, J. Histoire de Sainte-Barbe. Collège, communauté, institution. Paris: Hachette, 1864. t. 3, p. 321.
  • 63 Em 1838, um médico e um professor bordelês escrevem que a necessidade de colocar harmonia à educação física e intelectual da infância é profundamente sentida desde muito tempo. Após lamentarem que os planos estudados até então fracassaram na prática, eles recomendaram a criação, "primeiro em Paris, em seguida nas localidades favoráveis para cada academia, de um estabelecimento especial no qual os cuidados intelectuais seriam completamente subordinados aos cuidados higiênicos, dietéticos e médicos, e isso ao contrário do que existe em todos os colégios" (POUGET; VALAT. Plan d'organisation hygiénique et médicale pour les collèges royaux. Bordeaux: [s. n.], 1838. p. 3-21).
  • 64 BAUDELAIRE, C. Épître à Sainte-Beuve. 1843.
  • 68 Statistique de l'enseignement secondaire en 1865. Paris: Imprimerie impériale, 1868. p. 127.
  • 71 GRÉARD, O. L'Enseignement secondaire à Paris en 1880. Paris: Delalain, 1880. p. 15-16.
  • 74 MANEUVRIER, E. L'Éducation de la bourgeoisie sous la République. Paris: Léopold Cerf, 1888. p. 264.
  • 76 Jules Vallès, um dos mais virulentos adversários dos liceus, conta, em 1882, que "as crianças ficam reféns dos padres ou dos soldados nos corredores destes pequenos cubículos, onde elas têm sido encerradas sob o protesto dos pais (...) ou sob um julgamento dos magistrados que as teriam achado criminais" (VALLÈS, J. Les lycées. La France, out. 1882).
  • 78 Bulletin administratif du ministère de l'Instruction. 1870, p. 390.
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    Título original "Les Lycées dans la ville: l'exemple parisien (1802-1914)". Artigo originalmente publicado no número especial da Revista Histoire de L'Education
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Mar 2015
    • Data do Fascículo
      Dez 2003
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