Acessibilidade / Reportar erro

Educação: a distância entre o dizer e o fazer

Education: the distance between saying and doing

Resumos

Este trabalho apresenta um estudo comparado, centrado na educação e na relação entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, desde o período inicial da revolução industrial, principalmente na Inglaterra, até a data da sua independência. O artigo também relata como formas alternativas de educação, tais como a educação permanente e a educação a distância surgiram, desafiando os padrões tradicionais de educação no Estado do Paraná.

sociologia; educação; o permanente; países em desenvolvimento


In this work it is tried to resume a comparison centered on education, on the relationship between the developed and the developing countries, since the early period of the industrial revolution, mainly in England, to the date of the independence of the late. It is also repported how alternative forms of education, such as permanent education and education at distance came out defying the traditional patterns education in the southern State of Paraná, Brazil.

sociology; permanent education; coutinuing education; developing countries


DOSSIÊ - EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Educação: a distância entre o dizer e o fazer

Education: the distance between saying and doing

José Vicente Augusto das Neves Miranda

Professor Adjunto, Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação da UFPR, membro do Núcleo de Educação a Distância NEAD/UFPR. Mestre em Sociologia (U.C. Louvain). E-mail: adnarima@terra.com.br

RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo comparado, centrado na educação e na relação entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, desde o período inicial da revolução industrial, principalmente na Inglaterra, até a data da sua independência. O artigo também relata como formas alternativas de educação, tais como a educação permanente e a educação a distância surgiram, desafiando os padrões tradicionais de educação no Estado do Paraná.

Palavras-chave: sociologia, educação permanente, países em desenvolvimento.

ABSTRACT

In this work it is tried to resume a comparison centered on education, on the relationship between the developed and the developing countries, since the early period of the industrial revolution, mainly in England, to the date of the independence of the late. It is also repported how alternative forms of education, such as permanent education and education at distance came out defying the traditional patterns education in the southern State of Paraná, Brazil.

Key-words: sociology, permanent education, coutinuing education, developing countries.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Texto recebido em 20 jan. 2003

Texto aprovado em 20 mar. 2003

1 BROWN, J.A.E. The psychogy of industry. Original. Pelican, 1979. p. 31.

2 Ibid, p. 31.

3 FREUND, J.A. Sociologia de Max Weber, Rio de Janeiro: Forense, 1987.

4 GLEISER, M. Os fantasmagóricos neutrinos, Caderno Mais, Folha S. Paulo, 07 out 2000.

O resumo de Gleiser parece oportuno sobre a construção e confirmação de teorias. A nosso ver "os experimentos" poderiam ser substituídos por fatos largamente confirmados no decurso da história a despeito da interpretação pela qual se apresenta esse fato histórico.

5 RICUPERO, R. A globalização de Raul Prebisch, Folha de S. Paulo, 02 set 2000.

6 ROSTOW, W. W. Les étapes de la croissance economique, Paris: Editions de Minuit, 1970.

7 GARCIA, P. B. Educação, modernização ou dependência, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.

8 BARROS, R. S. M. A ilustração brasileira e a idéia de universidade. São Paulo: Convívio-Edusp, 1986. p. 363.

9 GARCIA, P. B. op. cit., p. 60.

10 A Unesco e o Futuro do Ensino Superior, Curitiba: UFPR, 1998.

11 A Unesco e o Futuro do Ensino Superior, Curitiba: UFPR, 1998.

1 2 Ibid.

1 3 Ibid.

14 MARTINS, O. B. A educação superior à distância e a democratização do saber. Petrópolis: Vozes, 1991.

15 MARTINS, O. B. A educação superior à distância e a democratização do saber, Petrópolis: Vozes, 1991.

16 Ao autor foi pedido para retirar da circulação de leituras um texto de G. LABARCA Educación, ideología y superestrutura. Explicado, ao saberem que o tema "superestrutura" pertencia à epistemologia do pensamento marxista, foi tratado de "comunista", o que em 1979 podia ser considerado como se fosse um atentado à ordem social e política aos cuidados da polícia DOPS.

17 KNECHTEL, M. R. Educação permanente: da reunificação alemã a reflexões e práticas no Brasil, Curitiba: Editora UFPR, 1994.

18 KNECHTEL, M. R. Educação permanente: da reunificação alemã a reflexões e práticas no Brasil, Curitiba: Editora UFPR, 1994.

19 Ibid.

20 Ibid.

21 KNECHTEL, M. R. Educação permanente: da reunificação alemã a reflexões e práticas no Brasil, Curitiba: Editora UFPR, 1994.

ANEXO

Discurso proferido pelo Sr. Governador do Estado do Paraná, Dr. Bento Munhoz da Rocha Neto, encerrando a sessão de instalação da 11.ª Conferência Nacional de Educação, em 7 de janeiro de 1954, às 21 horas, no Salão Nobre do Colégio Estadual do Paraná, na cidade de Curitiba.

O SR. BENTO MUNHO DA ROCHA NETO, Governador do Estado - Ao encerrar esta sessão de instalação da 11.ª Conferência Nacional de Educação, quero, como Governador do Estado do Paraná, afirmar a simpatia, e mais do que simpatia, o carinho com que testemunho esta reunião.

Houve ainda uma coincidência tão bem referida pelo meu nobre amigo Prado Kelly; na 1.ª Conferência Nacional de Educação, aqui realizada em dezembro de 1927, quando dirigia o Paraná Caetano Munhoz da Rocha, que teve a intuição, aquela intuição quase divinatória de como o Paraná se estava formando e preparando, para ser hoje o grande cadinho nacional e como o Paraná ia depender do professor, do educador.

A Prado Kelly, que tanto me sensibilizou com as suas generosas palavras, a homenagem do Governo do Paraná a essa Associação que ele, tão altamente, preside.

O Governador do Paraná vê com satisfação o seu amigo, colega de 5 anos de Câmara. Rever Prado Kelly é um prazer. Ele é um dos parlamentares mais completos do Brasil. Para ser parlamentar é preciso possuir uma série de qualidades. É preciso possuir cultura; cultura jurídica e cultura geral. Mas, não basta isso. É preciso ter aquela plasticidade, aquela mobilidade espiritual que dê, de fato, razão ao parlamentar, ainda quando ele não a possua. Prado Kelly tem, como parlamentar, o velho e consagrado estilo britânico. Na exposição perfeita, em que eu, uma vez na Câmara, ouvindo-lhe a defesa de determinado projeto de lei, disse-lhe que ele era um dos parlamentares cuja palavra podia não fazer mudar de voto, mas mudar de opinião. Penso que essa é a consagração máxima a um parlamentar. É difícil que os companheiros mudem de voto, mas mudam de opinião. O voto, que é um segundo ato da atitude parlamentar, vai mais além da opinião, porque é, quase sempre, questão de compromisso político-partidário e, muitas vezes, contraria a opinião.

Vejo, com satisfação, este Congresso Nacional de Educação, porque sou, como repetidas vezes tenho afirmado, por vocação, um professor. Reconheço e proclamo o papel fundamental que a educação e, conseqüentemente, o professor, representam nas sociedades modernas. Sobretudo, numa região que, fisicamente, social e economicamente, e ainda mais sob o ponto de vista do seu riquíssimo elemento humano, se define com as dimensões paranaenses. Temos aqui a noção exata das repercussões extraordinárias da educação. Não falarei nos milagres da educação. Seria preciso distinguir Educação sob o prisma, sob o aspecto, sob a accepção sociológica que é, acima de tudo, uma transmissão de cultura e educação sob o ponto de vista pedagógico, uma transmissão sistematizada de cultura.

Tudo é educação sob o ponto de vista cultural, sociológico, mas não é educação sob o ponto de vista pedagógico, sob o ponto de vista da sistemática.

Nenhum professor pega a criança no marco zero. Toma o educando com todas as suas heranças, com todas as suas taras, com todos os seus prejuízos, com todas as suas qualidades e com todos os seus defeitos. Temos, no Paraná, talvez melhor do que em qualquer outra região brasileira, a noção exata de quanto vale a educação, de tudo quanto se pode esperar da educação. É pela educação que nós, paranaense, incorporamos, em poucas dezenas de anos, milhares de brasileiros à cultura brasileira. Brasileiros filhos de estrangeiros, filhos de alemães, filhos de poloneses, de ucranianos, - já não falo dos síriolibaneses e dos italianos, que pelas suas afinidades culturais, na segunda geração, culturalmente, brasileiros, mas, daquelas culturas que, originariamente, mais se distanciam do nosso modo de ser. Nós, paranaenses, incorporamos descendentes dessas etnias, dessas culturas, não apenas à nacionalidade brasileira, - não queremos cidadãos brasileiros que tenham direitos de cidadania garantidos pela Constituição Federal, mas brasileiros pelo espírito, pela cultura, pela formação, pela ração, pelo modo de ser, pelo modo de reagir diante da vida e do mundo. Este é o mérito com que o Paraná se apresenta, ao comemorar o seu centenário, diante do Brasil.

É o incorporador, formador do brasileiro. E temos aqui, mais do que nunca, a consciência do valor do Estado na máquina educativa. É o Estado que uniformizando os processos educativos, faz com que os brasileiros tradicionais do Paraná e os brasileiros que eram originariamente brasileiros, apenas porque aqui nasceram, venham a possuir, de início, os mesmos sistemas de idéia na uniformização da máquina da sistemática educacional. Daí a importância do Estado. Mas, esta nossa experiência paranaense que tão bons resultados tem dado ao Paraná ao Brasil, serve, também, para corrigir os exageros do Estado no funcionamento da sua máquina educacional, sendo mais do que nunca necessário que o Estado venha agir no campo educativo, como em todos os outros campos em todas as atividades humanas, democraticamente. E o segredo do Estado democrático está nisso: uniformizar a educação. Mas uniformizar sem constranger, fugindo daquela fabricação totalitária de crianças em série, de homens que não são mais seres humanos porque perderam do ser humano aquilo que lhe é característico, a personalidade, a diferenciação de todo ser diante de si, de todos os seres diante da vida, diante do mundo.

Em função do Estado Democrático é que se distingue profundamente das funções do Estado Totalitário, que, mais do que qualquer outro, percebeu como é fundamental para a organização social moldar a criança.

O jesuíta que foi mestre, o jesuíta cuja história na América se confunde, durante séculos, com a própria história da nacionalidade, teve aquela admirável intuição: trazia instruções da metrópole para que respeitasse a crendice e a idolatria dos velhos índios e ficassem apenas com as crianças e amoldassem, cristianizando, o jovem índio. Sabedoria pedagógica de 400 anos, sabedoria pedagógica que o Estado totalitário perverteu, fabricando em série homens que não conhecem outro mundo, senão aquele mundo que o próprio Estado consente que seja conhecido.

Essa função do Estado Democrático, no campo da educação, sobe de importância quando, desgraçadamente, sob o ponto de vista cultural, sociológico e histórico, o momento que vivemos é o fim do Renascimento. O nosso mundo perdeu o amor da liberdade. Tem preferido à liberdade a eficiência. Tem preferido os Estados eficientes, que realizam materialmente, aos Estados Democráticos, em que o homem tem sagrado o direito de afirmar as suas preferências políticas, e dizer que não aceita, necessariamente, o que vem do Governo, por ser do Governo.

O mundo moderno perdeu a fascinação pela liberdade e é muito comum, mesmo no nosso meio, que tem raízes democráticas tão profundamente marcadas na nossa tradição - ainda hoje ouvi - a preferência pelas ditaduras disciplinadoras, que constroem grandes edifícios, grandes escolas, grandes hospitais e estradas de primeira classe.

É o estado de espírito que ao professor compete extinguir. Não há prosperidade econômica, não há prosperidade material que compense o sacrifício da liberdade. Não há pseudo-progresso, porque o progresso só se pode definir pelas suas dimensões espirituais. Não há pseudo-progresso que se possa justificar à custa da liberdade, essa extensão de nossa própria personalidade. Mas, é preciso, também, convir que a atitude do Estado na educação não pode ser mais a atitude do Estado Liberal. O Estado desconhecia os problemas da origem e da finalidade do homem e da vida humana. Os grandes democratas norte-americanos desde Lincoln a Roosevelt e Eisenhower, reconhecem a origem religiosa da liberdade. Se não se der ao homem a sua característica religiosa, de espiritualidade, não sei com que argumentos poderão combater os pendores naturais.

O Estado Totalitário coloca o interesse do Estado acima do interesse da pessoa humana. Se o homem não é um ser espiritual, feito para a eternidade, com um destino que ele vai conquistar pelos seus méritos espirituais, que vai conquistar, qualquer que seja a sua raça, a sua cultura, ou a sua nacionalidade, não sei com que argumentos seguros se poderá combater o Estado que se coloca acima da pessoa, que serve da pessoa e dos indivíduos.

Quando o mundo não tinha ainda caminhado como caminhou nestes últimos tempos, quando ainda as opções não eram agudas e angustiantes, como o são no dia de hoje, era possível ao Estado dar de ombros, diante das indagações do homem, em face dos problemas fundamentais da vida. Hoje, não. As definições estão muito apertadas e os erros do Renascimento chegaram a todos os seus extremos. Por isso, mais do que nunca ao Estado compete a sua verdadeira função, função democrática, mas função também humana, que concilie o que é nacional com o que é humana. Prado Kelly se referiu, e se referiu muito bem, à caracterização regional do Paraná. O Brasil é uma Federação. O Brasil é um corpo imenso e, como tal, possui caracterizações regionais que devem ser mantidas, o Brasil é um mundo na sua variedade.

Daí, como o Estado não deve criar conflitos entre o que é nacional e o que é humano, não deve também criar conflitos entre o que é nacional e o que é regional, o que é do pequeno setor da Pátria grande. Esta reunião que congrega em Curitiba os grandes educadores nacionais, tem um campo vastíssimo diante de si, principalmente com a Carta das Nações Unidas, com essa inovação do Direito Moderno, essa inovação que vem restringir certos conceitos, como aquele da cidadania, a que Prado Kelly se referiu. Conceitos que muitas vezes nos dão a idéia exata daquelas idéias que enlouqueceram, a que Chesterton se referia, idéias que se querem realizar, mas que se querem realizar inconscientemente. Aos educadores, mais do que aos governadores, cabe o futuro do Brasil. A unidade alemã, muito antes de Bismark, em 1870, foi feita, foi iniciada depois da batalha de Viena por Suss. Suss não falava aos prussianos, falava ao povo alemão. Foi a preparação, uma preparação psicológica, social, política, nacional que desabrochou então, depois da batalha de Viena.

A função dos educadores é muito mais profunda do que a função dos governantes. É claro que os benefícios ou os malefícios dos governantes po-dem perdurar por várias gerações, mas na mediocridade do mundo moderno os governos fazem sentir os seus atos pouco além do seu próprio período. O Educador, não! O Educador marca, tem a paternidade espiritual. Daí a responsabilidade do educador. Não apenas do homem que instrui, mas do homem que educa. Instruir apenas é um pedaço diminuto, quase infinitesimal da educação. Educar é formar, é plasmar o homem de amanhã.

O Governador do Paraná está, neste instante, honrado com a presidência desta Conferência, homenageando o educador brasileiro. E vem afirmar, com a responsabilidade do seu cargo, que confia no Brasil porque confia no educador brasileiro. (Palmas prolongadas)

O documento aqui publicado, que é o discurso do ex-Governador do Paraná Bento Munhoz da Rocha Neto, foi cedido pela Prof. Pórcia Guimarães Alves, do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação, de seu arquivo pessoal, pelo que a Coordenação desta edição agradece.

  • FREUND, J. A. Sociologia de Max Weber, Rio de Janeiro: Forense, 4. ed., 1987.
  • GLEISER, M. Os fantasmagóricos neutrinos, Caderno Mais, Folha S. Paulo, 07 out. 2000.
  • MARTINS, O. B. A educação superior à distância e a democratização do saber, Petrópolis: Vozes, 1991.
  • RICUPERO, R. A globalização de Raul Prebisch, Folha S. Paulo, 02 set. 2000.
  • ROSTOW, W. W. Les étapes de la croissance economique, Paris: Editions de Minuit, 1970.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Jun 2003

Histórico

  • Recebido
    20 Jan 2003
  • Aceito
    20 Mar 2003
Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná Educar em Revista, Setor de Educação - Campus Rebouças - UFPR, Rua Rockefeller, nº 57, 2.º andar - Sala 202 , Rebouças - Curitiba - Paraná - Brasil, CEP 80230-130 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: educar@ufpr.br