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Vulnerabilidade das praias do Estado de Santa Catarina a eventos de erosão e inundação costeira: proposta metodológica baseada em um índice multicritério

Mirela Barros Serafim, Jarbas Bonetti

Resumo


A zona costeira do Estado de Santa Catarina (SC) encontra-se submetida a condições oceanográficas e meteorológicas transicionais. A passagem regular de frentes frias e a incidência de ventos de relativa intensidade condicionam a ocorrência de marés de tempestade (ondas extremas associadas a marés meteorológicas de grande amplitude), as quais podem resultar em eventos de inundação e erosão praial, causando danos materiais aos assentamentos costeiros. As praias arenosas são os ambientes predominantes ao longo da linha de costa de SC e possuem elevado valor social e econômico devido à variedade de serviços prestados e à alta densidade demográfica dos setores adjacentes. Desta forma, o estudo da vulnerabilidade costeira torna-se de grande relevância para fins de ordenamento da ocupação e estabelecimento de planos de mitigação para essas áreas. Este trabalho apresenta uma proposta metodológica para o mapeamento da vulnerabilidade costeira de SC frente a eventos extremos de ondas e marés a partir da elaboração de um índice multicritério aplicado através de um Sistema de Informações Geográficas. A vulnerabilidade foi obtida pela integração de dois submodelos: suscetibilidade (composto por variáveis do meio físico) e capacidade adaptativa (composto por variáveis socioeconômicas). Os maiores valores de vulnerabilidade foram encontrados em trechos centrais dos setores Norte e Centro-Norte e em segmentos isolados no setor Centro. Os fatores socioeconômicos apresentaram alta relevância para os grandes balneários do setor Centro-Norte (como os dos municípios de Balneário Camboriú, Itapema e Navegantes) onde, no geral, os graus de vulnerabilidade foram inferiores aos de suscetibilidade devido à alta capacidade adaptativa local. Por outro lado, os setores Sul e Centro-Sul, embora tenham apresentado capacidade adaptativa relativamente baixa, foram os menos vulneráveis, indicando que o cenário de baixa suscetibilidade foi mais condicionante nestas áreas.

Palavras-chave


suscetibilidade costeira; capacidade adaptativa; marés de tempestade; análise espacial

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/abequa.v8i2.47281