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Evolução da planície costeira das Praias do Sul e do Leste – Ilha Grande/RJ: implicações sobre a presença humana pre-histórica e contribuições para a reconstrução paleoambiental holocênica

Rafael Cuellar de Oliveira Silva, Gilberto Tavares de Macedo Dias

Resumo


A área de estudo deste trabalho possui ambientes lagunares bem preservados e sítios arqueológicos com idade de 3.000 anos AP. Dados altimétricos e análises de imagens aéreas permitiram a identificação de duas barreiras arenosas. Considerando a variação holocênica do nível relativo do mar, concluiu-se que a barreira interna possui idade pleistocênica. A externa, que inclui as praias atuais, formou-se durante a transgressão holocênica. Antigas desembocaduras fluvio-lagunares holocênicas apresentam-se nos extremos ocidental da Praia do Sul e oriental da Praia do Leste. O estabelecimento de um sítio arqueológico na barreira holocênica pode estar relacionado à antiga desembocadura na Praia do Leste. Neste caso, é possível que este sítio seja mais antigo do que o sítio do Ilhote, o qual pode ter sido ocupado somente a partir de 3.000 anos AP porque o nível do mar em rebaixamento teria facilitado o acesso. A sedimentação das lagoas tem sido investigada e apresentam-se resultados preliminares da análise de duas sondagens a percussão realizadas na Lagoa do Sul. A base do testemunho LS01 foi datada por 14C em 2.477 – 2.138 anos cal AP, a 116 cm, e do testemunho LS02, em 5.309 – 4.986 anos cal AP, a 136 cm. Os sedimentos lagunares são formados por lama orgânica de origem mista a terrestre, com camadas ricas em conchas e lentes arenosas de quartzo, interpretadas como resultado de episódios de enxurradas típicas da região, com alta pluviosidade. A sedimentação e a razão C:N indicam estabilidade ambiental com clima úmido nos últimos ~5.000 anos AP. Entre 1.394 – 1.174 e 795 – 481 anos cal AP ocorreu o intervalo mais úmido, com: (i) deposição concentrada de conchas e (ii) maior aporte de terrígenos. Maior quantidade de lentes arenosas foi depositada a partir de 3.066 – 2.647 anos cal AP, sugerindo maior frequência de chuvas intensas desde então.


Palavras-chave


evolução geomorfológica; planície costeira; Holoceno; ocupação humana; reconstrução paleoambiental

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/abequa.v8i2.47040